"Às vezes alguém me conta uma coisa, eu quero escrever, mas não vem a forma – é essencial que venha a forma, definida e inapelável. Levo anos às vezes com u ma idéia, sem saber como a vou escrever...
Exemplos concretos: para meu conto mais famoso, La Pietà, houve o fato real que me foi contado pela própria “Damiana” (que era uma massagista), e eu me senti muito emocionada porque tocou na minha terrível experiência de perda de bebê. Só que eu não sabia como escreveria isso. Até que um dia, quando aconteceu o episódio da destruição da estátua da Pietà de Michelangelo em Roma, eu passei por uma banca e vi uma matéria na Tribuna da Imprensa, e aí me veio a solução: intercalar os dois episódios, e contrastá-los. Quanto ao outro famoso conto A Casa-uma travessia, que é o meu predileto, foi construído inteiramente em cima de um material de minha casa da infância, redescoberto em período de terapia. Só que eu não sabia como formatá-lo. Uma noite acordei, acendi a luz, peguei um pedaço de papel e uma caneta e tracei a planta baixa da casa da infância. Estava solucionada a forma.
Fonte: WANDELEY, Maria Cavendish. Mulheres: Prosa de ficção no Brasil 1964-2010. Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2011.
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