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Como escrevo?
Fabrício Corsaletti

“Só consigo escrever prosa de ficção de manhã. Das seis às oito e meia, no máximo. É nesse horário que minha cabeça funciona melhor, que eu consigo me concentrar mais. Ou me defender menos. Porque tenho a impressão de que às seis horas — isto é, mal-saído do sono —, sentado de frente pro laptop, já tendo tomado uma caneca de café sem açúcar e comido uma ou duas fatias de pão com manteiga, há pouca resistência entre o meu cérebro, minhas mãos e o teclado. É quando as frases saem mais facilmente. Não que não me dê trabalho; dá, claro. Às vezes muito, às vezes pouco. Mas acho que o maior esforço que eu faço é o de me disciplinar pra criar essas manhãs quase perfeitas — sem sono, sem ressaca e sem culpa. Por isso, quando estou escrevendo um conto (também escrevi um romance seguindo essa mesma regra), na noite anterior organizo minha mesa, deixando sobre ela apenas o laptop e alguma eventual anotação sobre o texto a ser escrito, ponho a água pro café na leiteira, o pó dentro do coador e durmo cedo, em geral antes das dez. No dia seguinte perco o mínimo de tempo preparando meu café da manhã. Dez minutos depois de acordar já estou escrevendo. Consigo dois ou três parágrafos por dia. Com poesia é outra história. O poema se impõe independentemente do lugar ou da hora. O negócio é estar sempre atento pra perceber quando ele está ali, querendo se transformar em palavras.”

 

Fonte: http://michellaub.wordpress.com (23/10/2012)

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