"Começo com um formigamento, uma espécie de pressentimento da história que vou escrever. Então surgem os personagens, e eles assumem o comando, fazem a história. Mas tudo isso acaba sendo um enredo. Para outros escritores, parece uma coisa artificial. Mas uma história de verdade tem forma e contorno. Numa pintura a moldura é muito importante. Onde o quadro termina? Que detalhes deve serr incluídos? Ou emitidos? Onde vai a linha que determina o quadro? As pessoas vivem me perguntando se em The deluge at Nordeney as personagens morrem afogadas ou conseguem se salvar no final. (Você se lembra, elas ficam presas num sótão durante uma enchente e passam a noite contando suas histórias enquanto aguardam o resgate) Bom, o que posso responder? O que dizer a elas? Isso está fora da história. Eu não sei mesmo... Começo dando o sabor da história, entende. Depois encontro os personagens, e eles assumem o comando. Eles tomam conta de tudo, eu simplesmente permito que tenham liberdade... Mas escrevo sobre personagens dentro de um traçado, como eles atuam uns sobre os outros."
Fonte: Os escritores 2: as famosas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Cia. das Letras, 1989.