"Escrevo um pouco assim." Marca um ritmo com as mãos no ar e marca um som, espécie de compasso. Pam, pam, pam... "Escreve-se e geralmente fica-se insatisfeito, e continuamos, e é como se aparecesse alguma coisa. Se nos surpreender é bom. Escrevo um pouco por ouvido. Leio alto o que escrevo e vejo como soa. Talvez seja um desperdício de esforço. Acho que não há muita gente que leia alto para si própria. Quase sempre lêem com os olhos. Mas acho que no essencial escrevo como as outras pessoas escrevem. Gostava de poder dizer qualquer coisa mágica". Olha nos olhos uma emoção incontida. "Escrever dá muito trabalho. Algumas pessoas sabem fazer o seu trabalho melhor que outras. É tão cansativo. Um romance éum grance empreendimento e tem consequências. Ao escrever, somos testados a cada página. É preciso ver como se liga à outra e quando não há ligação há que voltar atrás e muitas coisas acontecem; há botões que activam emoções e idéias, uma cena interrompe-se, e às tantas não temos o controle de uma situação que terá de ser sempre imprevistos e terrível".
Fonte: Ípsilon (versão mensal do suplemento semanal do jornal português Público), jun. 2015.
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