“Em dias bons, quando já esgotei todo o arsenal possível de procrastinações, cruzo a casa vazia e me entrego ao derradeiro ritual. Estou agora no sofá, ainda a uns quantos metros da tela branca, que me espreita com paciência e atenção, e me ponho a ler um poema qualquer, de um livro sorteado ao léu, Bandeira, Borges, Brossa, Cabral. Não é preciso que o entenda, ou que me encante, ou me enterneça; essencial é que me deixe imergir em seu silêncio, silêncio que é pura iminência, silêncio que é a ausência das palavras que virão. Sento-me então ante a tela, abro o dicionário em outra janela, mas não o consulto ainda. Escrevo apenas, mesquinhamente, em dias bons.”
Fonte: http://michellaub.wordpress.com (23/10/2012)
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