“Escrevo literatura para não enlouquecer. Pode parecer exagero, coisa de escritor. Só eu sei quando o morcego branco pousa em meu ombro e muda de cor várias vezes até escorrer aquele filete de sangue ao andar de baixo enquanto parece saltar sobre mim. Para me proteger tenho a minha santa cujo nome não conto para qualquer um, um copo de vinho do porto, água ou café que nem sempre bebo, fotos das minhas irmãs, São Jorge, flores num vaso, os livros do dia a dia ao meu redor, a ordem musical do espaço vazio, a companhia dos meus mortos e dos mortos de outros. Quando, depois de dias, a imaginação ameaça cortar-me em mil pedaços, sei que é a hora de sentar e demorar sem medo no silêncio que ampara a perdição dos narradores.”
Fonte: http://michellaub.wordpress.com (23/10/2012)
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