"A arte da criação literária, a arte de forjar personagens e tipos exige imaginação, intuição, habilidade para 'compor coisas' nos quadros da mente. Quando um escritor descreve um tipo de comerciante, de funcionário ou de operário - que lhe seja conhecido - ele traça simplesmente um perfil mais ou menos exato do indivíduo. Mas essa semelhança não passará de simples fotografia, sem qualquer significação socialmente educativa, e essencialmente contribuirá - quer em amplitude ou profundidade - para o conhecimento da vida dos homens. Entretanto, se um escritor é capaz de extrair de vinte, cinquenta ou cem comerciantes, funcionários ou operários os perfis, hábitos, predileções, atitudes, crenças ou aspectos expressivos, típicos como classe, e se consegue impregnar todos esses traços na figura de um só comerciante, funcionário ou operário terá criado um tipo, e sua obra poderá considerar-se artística. O campo de observação, a riqueza que proporciona ao escritor a experiência de vida, lhe outorgam, frequentemente, o poder de transcender a atitude pessoal e subjetiva em relação aos fatos. Subjetivamente, Balzac era um partidário da ordem burguesa, mas em suas novelas expôs, com implacável força, a mesquinhez e a vileza da burguesia".
Fonte: Gorki, Máximo. Como aprendi a escrever. São Paulo: Editora Cadinho, 1972.
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