"Não crio conscientemente uma estrutura completa antes de começar a escrever. Para Burger's daughter, talvez quatro ou cinco páginas de notas bastante fragmentárias para o livro todo. Mas, para mim, essas meias sentenças ou pequenas iscas de diálogo são tremendamente importantes: são o cerne de alguma coisa. Basta olhar para elas, e já sei que esse é próximo estágio do livro que vou atacar... Essa é a maneira como escrevo meus romances. Uma vez que comecei, é realmente um processo muito natural. Um processo orgânico... Moro numa casa de subúrbio, onde teho um quartinho em que trabalho - um grande luxo para mim - de modo que posso entrar ou sair sem que ninguém me incomode ou saiba onde estou. Antes de começar a trabalhar, desligo o telefone, que fica desligado até que eu esteja preparada de novo. Se as pessoas quiserem mesmo falar com você, elas vão encontrá-la outro dia. É muito simples... Quando estou trabalhando num livro, trabalho todos os dias. Trabalho mais ou menos umas quatro horas sem parar, e ai já estou muito cansada e não surge mais nada, e então vou fazer outras coisas. Não consigo entender escritores que sentem que não deveriam fazer nenhuma das coisas comuns da vida, porque acho isso necessário; você tem que se manter em contato com as coisas. A solidão de escrever é bastante assustadora. Trabalho pela manhã, é melhor para mim... Criei o hábito nos últimos dois livros que escrevi, de passar uma meia hora relendo o que escrevi durante o dia logo antes de me deitar, à noite. Aí é claro, você fica tentada a mexer e remendar aquilo de noite. Mas sinto que isso é bom. Agora, se eu estiver com amigos ou se for a algum lugar, então não faço isso. O fato é que levo uma vida bastante solitária quando estou escrevendo ".
Fonte: Os escritores: as históricas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
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