"O poema cria o método e o poeta. O livro vai criando seus métodos. Você me indaga sobre o poema Luz: ele retrata situação literal. Escrevia num pequeno cômodo. O abajur estava aceso. Havia dicionários e um mapa da lua sobre a mesa. O poema não 'vinha': 'tinta seca de silêncios gêmeos' – gemidos. Fazia muito frio. Era junho ou julho, à noite. Me sentia como se tivesse um prego de arame na cabeça. Tentava escrever, cansado, meus dedos se moviam sobre as teclas, mas "sombras" antecipavam cada palavra. Não conseguia dizer o que queria dizer. Me lembrei do poema Me transformo, de Ossos de borboleta ( 1996 ). E "borboletas" se acenderam em mim, precipitando entretanto "palavras". Sim há o gosto sexual da palavra em mim tanto quanto o do sentido. O gosto de criar tramas de palavras, com sentido preciso. Luz se faz seguir por Ilustração de violeta, onde retomo a situação de noite de inverno, pensando na casa, e no dia-a-dia, como "campo de concentração": muda seqüência de quinas! Mas escrevo de um modo geral sempre. Mas gostaria de, sobre poesia, dizer com serenidade: 'Já nem penso mais nisso'".
Fonte: http://www.regisbonvicino.com.br/entrevista7cadriano.htm (19/09/2008)
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