"Não fico escrevendo qualquer coisa para ver onde vai dar. Quero contar ma história, sempre tem um núcleo. Aquilo pode virar qualquer coisa, pode virar um início de romance abortado, que depois vai virar um conto, ou o contrário. Mas sempre parto de alguma coisa que já está feita. Quer dizer, eu fiz alguma coisa antes, e depois utilizo. Gosto muito de mexer, fuçar. Você fica trabalhando todo dia numa coisa, as ideias vêm. Não tem jeito, as ideias vão atrás de você. Às vezes você vai fazer cocô, vem a ideia e senta ali do seu lado. Você está dormindo, olha para o lado, a ideia está lá. Às vezes você está transando, vem a ideia, você broxa. Você fica meio escravo....Escrevo muito de manhã. De manhã, reescrevo muito, na verdade. À tarde, cochilo e leio. Às vezes mais cochilo do que leio. E à noite escrevo, depois de uma cervejinha, um vinhozinho, é gostoso para ter ideias. Escrevo sem muito compromisso, se não ficar bom, dane-se. Aí, de manhã seleciono, edito, etc. Não tem mistério, o dia tem vinte e quatro horas só, não tem como inventar muito. Você também tem que comer, dormir, namorar, etc.
Fonte: Candido, revista da Biblioteca Pública do Paraná.