“Desde que saí do armário e assumi que sim, eu era um escritor, e lá se vão quase vinte anos, meu “processo” de escrita sofreu grandes transformações. Na primeira fase eu emburacava e virava noites, numa demonstração de inexperiência, que me custou dias perdidos, terrores noturnos e quase um colapso nervoso. A segunda fase, inspirada em Hemingway, foi a de levantar cedo (antes de o sol, aquele que também se levanta, nascer) e escrever até o meio da manhã, com a cabeça descansada e despoluída, e depois atravessar o dia e a noite em distrações mundanas até chegar a hora de escrever de novo, na manhã seguinte. Para um músico de rock, casado e com filhos pequenos, não preciso dizer que o método foi um fracasso total. Como acordar antes de o sol nascer se meia hora atrás eu ainda estava no palco, tocando? E ao nascer do sol o caçula acordou, cheio de gás, gritando “papai”? Hoje em dia acho que alcancei uma espécie de equilíbrio, e escrevo nos dias da semana em que não faço shows. Escrevo por umas duas horas de manhã, paro para almoçar, durmo um pouco depois do almoço, e retomo o trabalho lá pelas 16:00hs. Escrevo até às 18:00hs, por aí, e depois pratico algum exercício físico, única forma de despoluir minha mente das obsessões e manias que um livro desperta. Nos fins de semana, quando viajo com a banda pra tocar, releio e reviso o que escrevi durante a semana. Minha única “mania”, quando escrevo, é, seguindo o conselho de García Márquez, sempre parar a narrativa num lugar em que eu saiba pra onde ela vai, no dia seguinte.”
Fonte: http://michellaub.wordpress.com (23/10/2012)
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