2º Emprego
Office Boy
Cícero da Mata
Precisava concluir o ginásio iniciado em Garanhuns. Comecei, de novo em 1965, na 1ª série no GECA-Ginásio Estadual Colombo de Almeida, na Vila Guilherme, mas repeti de ano. Trabalhar de dia e estudar a noite numa nova escola exigia um esforço e uma bagagem escolar que eu não trazia de Pernambuco. Providencialmente apareceu um emprego, onde eu podia trabalhar meio período e estudar à tarde na Escola SENAC, da Aclimação. Melhor ainda, o SENAC reconheceu a 1ª série concluída em Garanhuns e eu entrei na 2ª série do “ginásio comercial”. Era assim que se chamava o curso, semelhante e com as mesmas prerrogativas do ginásio normal. A diferença é que tínhamos a datilografia como matéria regular e o inglês um pouco mais puxado do que no ginásio convencional. O diploma também era diferente: conferia o título de “Auxiliar de Escritório”.
Foi assim, com estas facilidades, que iniciei na Importadora Eda em agosto de 1966. Trata-se de uma distribuidora de ferramentas importadas, bem destacada na Cásper Líbero, que atendia as grandes empresas, principalmente as montadoras de automóveis, e as lojas varejistas de ferramentas da Rua Florêncio de Abreu e adjacências. Entrei como Office-boy e trabalhava pela manhã. À tarde ia direto, numa boa caminhada, até a Rua Galvão Bueno, onde fica o SENAC. Na Eda executava os serviços típicos dessa função: “fazer” os bancos; levar/buscar guias de importação na CACEX (Banco do Brasil) e preparar a expedição da correspondência. Era um office boy típico, daqueles que só andava correndo, ultrapassando as pessoas e com a pasta de papéis girando no dedo polegar. Era um malabarismo que só os office boys experientes sabiam fazer.
Em fim de mês havia dias que tinha mais de mil cartas à serem enviadas. Eu recebia as cartas já envelopadas e o trabalho consistia em fechar os envelopes e levá-los até o correio. A quantidade de cartas e a necessidade de despachá-las no mesmo dia me levou a criar um método de fechamento, que impressionou o dono da empresa. Eu levantava a aba dos envelopes e colocava-os numa mesa, um em cima do outro, deixando fora apenas a parte da cola. Fazia uma grande fileira de mais ou menos 100 envelopes. Colocava um cabo de vassoura em cima do meio da fileira, para mantê-los abertos. Em seguida passava a cola de um lado e de outro do cabo de vassoura, e retirava-o. Assim, as abas dos envelopes se levantavam e eu ia batendo a mão rapidamente em cima de cada um, fechando-os e empurrando-os para uma caixa ao pé do chão. Com isso dava para fechar 100 envelopes em menos de 10 minutos.
Um dia eu estava executando esse serviço, quando o sr. Jacob passou, parou e ficou olhando aquela fileira enorme de cartas. Quando me viu bater nos envelopes, empurrando-os já fechados para a caixa, perguntou o que eu estava fazendo. Eu disse o óbvio: fechando os envelopes. Ele, então, perguntou quem me ensinou a fazer daquele jeito. Eu disse que ninguém havia me ensinado, e que se não fizesse daquela maneira não havia como botar todas as cartas no correio no mesmo dia. Disse mais: se fosse colar uma por uma, como normalmente se faz, eu levaria um dia só para colar os envelopes. Ele concordou e falou para passar na sala dele quando acabasse. Em sua sala, ele perguntou se eu tinha algum amigo que quisesse trabalhar como Office-boy. Respondi afirmativo e ele pediu para chamá-lo, e que eu lhe ensinasse o serviço. Desse modo fui promovido a auxiliar de expedição com um considerável aumento salarial. Pouco tempo depois, eu completei 18 anos, tirei nova carteira profissional e fui registrado como Auxiliar de Expedição.
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