3º Emprego:
Auxiliar de Expedição
Cícero da Mata
Ao completar 18 anos, tive que tirar a carteira profissional de maior e ser novamente registrado na Importadora Eda como Auxiliar de Expedição. Passei a trabalhar na seção de estoque e o trabalho era semelhante ao executado na Casa dos Presentes: recebia do balconista ou do vendedor um pedido contendo, às vezes, mais de 100 itens referentes a tipos e medidas de ferramentas, as quais deveriam ser encontradas nas estantes. Uma vez concluída a busca, fazia o pacote e avisava o balconista.
Fiquei nessa função uns dois anos, e além do serviço de expedição fazia entregas de ferramentas nas lojas das redondezas. De vez em quando o sr. Jacob me levava para fazer alguma entrega ou visita à alguma montadora em São Bernardo. Íamos de fusquinha e, certa vez eu perguntei por que ele não tinha um carro maior, quando na verdade, eu queria dizer “melhor”. Ele me deu uma aula de economia. “Sabe porque?: com esse carro eu faço o mesmo serviço que faria com um maior e muito mais caro. Eu prefiro investir em ferramenta”. E complementou: “Você sabe onde eu moro, não sabe?” Era um amplo apartamento nos jardins com elevador parando no meio da sala. “Pois bem, você sabia que eu moro de aluguel?”. Eu fiquei sem entender, mas logo ele explicou: “Se eu fosse comprar aquele apartamento, teria de pagar uma fortuna, mais de milhão. Com esse milhão aplicado na empresa, comprando e vendendo ferramentas, eu ganho uns 200 mil por mês, que dá para pagar muitos meses de aluguel". O sr. Jacob era um homem de extraordinário tino comercial e foi pioneiro no comércio de ferramentas no Brasil.
A Eda também vendia ferramentas no varejo, porém muito esporadicamente. De modo que nalguns momentos, eu ajudava também no balcão atendendo ou outro escasso cliente que aparecia pedindo um alicate, chave de fenda, martelo, etc. Eu sabia onde estava qualquer ferramenta no estoque e isso era bom para o pessoal do balcão, comandado pelo Henrique Cotrim (Mais tarde ele saiu da Eda e abriu sua loja de ferramentas, a Henco). Assim, eu fiquei transitando em toda a loja com acesso, inclusive, ao depósito de brocas importadas, localizada no primeiro andar, ao lado da sala do sr. Jacob. Eram brocas caríssimas e poucas pessoas tinham acesso àquele quarto. Sempre que ia buscar alguma broca, mantinha conversas com o pessoal do escritório, particularmente com o Carlão, o controlador de estoque e com a Vick, a secretária do sr. Jacob, uma francesa egípcia (ou era o contrário?) muito bonita, com quem eu conversava um bocado, e paquerava sem chance alguma. O Carlão - só para me azucrinar - dizia que ela estava doida por mim, e eu, convenientemente, acreditava.
Uma vez reclamei com o sr. Jacob que estava ganhando pouco, que precisava melhorar de serviço, que já estava na empresa há quatro anos, e coisa e tal. Ele perguntou: “Você está querendo ser vendedor, é?” Ironizou, pois vendedor era o cargo maior que alguém poderia ter ali. Eram homens experientes, conhecedores do ramo de ferramentas e que sabiam lidar com os compradores das grandes empresas-clientes. Respondi que sim, talvez, por que não, quem sabe!, Ele caiu na risada e saiu resmungando: “era só o que me faltava!”.
Nessa época eu já havia concluído o colégio, feito em cursinhos de madureza e o exame realizado em cidades do interior do Estado em apenas um ano. Na Eda as perspectivas de melhoria no emprego continuavam esgotadas, e logo me vi em busca de outro lugar para trabalhar. No inicio de 1970, apareceu um anúncio fechado no jornal "O Estado de São Paulo", pedindo um “Auxiliar Técnico”. Não dizia mais nada, nem sobre o local de trabalho. Pensei comigo: Auxiliar é o que tenho sido até agora, inclusive com diploma; auxiliar técnico não deixa de ser uma melhoria na carreira profissional; não custa nada mandar curriculum. Mandei e saiu o 4º emprego.
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