16º emprego:
Cícero da Mata
Em fins de março de 1993 eu estava “no olho da rua” preocupado, na procura de outro emprego. A voz corrente na época era (ainda é) que depois dos 40 anos, o cara já é velho para o mercado de trabalho, e eu ia completar 43. Mobilizei os amigos, antigos chefes e parti para a batalha: perambular pela cidade, comprar o jornal “Estadão” às quintas-feiras e domingos para ver se encontrava algo, ao menos um “bico” para ir “quebrando o galho”. Nas primeiras semanas não apareceu nada, mas logo depois uma colega me avisou que a Uniban-Universidade Bandeirantes estava querendo se credenciar junto ao MEC e para isso estavam organizando uma biblioteca às pressas. Estavam precisando de bibliotecários bons em classificação para classificar uma montanha de livros. Havia uma cota para cada bibliotecário dar cabo ao fim de um dia de trabalho. Não se tratava de uma classificação pormenorizada. Deveríamos utilizar apenas o terceiro sumário da CDD (Classificação Decimal de Dewey) e mandar ver sem muito questionamento, pois a instituição estava com pressa e havia muitos livros à serem classificados. Eu vi que daria conta daquela cota facilmente e fiquei dois meses fazendo aquele trabalho. Em seguida surgiu um concurso para bibliotecário na FEA-Faculdade de Economia e Administração da USP e um anúncio no “Estadão”, onde o Parlamento Latino-Americano (Parlatino), que estava se instalando no Memorial da América Latina, pedia um bibliotecário para organizar seu Centro de Documentação.
Prestei o concurso da FEA e ato contínuo mandei curriculum para o Parlatino, junto com uma longa carta, onde explicava sobre meu potencial e manifestava o desejo de trabalhar ali. Realmente o desejo era grande: era uma organização internacional, bem estruturada e localizada não longe de casa, na Barra Funda. Quanto ao salário, ouvi dizer que pagavam em dólares. Fiquei sabendo que meu curriculum foi selecionado entre uma centena que receberam e fiquei torcendo para que me chamassem logo, antes da FEA, e não era só por causa do salário melhor. Para ir na USP eu tinha que atravessar toda a cidade. Além do mais eu tinha viajado pela América Latina e mantinha alguns ideais com aquele emprego: iria colaborar no processo de integração latino-americana, o principal objetivo do Parlatino.
Mas, infelizmente a FEA chamou primeiro e eu não podia me dar ao luxo de esperar pelo Parlatino, que demorava a me chamar. Fui para a FEA com todas as condições de chefiar a biblioteca em pouco tempo, pois a bibliotecária-chefe estava em vias de se aposentar. Entrei no Serviço de Referência, e em poucos dias eu seria nomeado chefe do setor. Tinha todas as credenciais para assumir o cargo, pois vinha de uma chefia na biblioteca da GV. Trabalhei no primeiro dia, fui conhecendo a “casa”, uma velha biblioteca numa estrutura rígida e encarquilhada. No segundo dia trabalho, telefonei para o Parlatino para saber quando me chamariam. Para minha surpresa, o superintendente administrativo me pediu para comparecer no dia seguinte. Desse modo, trabalhei apenas dois dias na FEA. No terceiro dia fui lá apenas para dizer que, “infelizmente” não poderia continuar, pois o Parlatino havia me chamado. Me perguntaram se eu queria receber salário por aqueles dois dias. Eu disse que não, muito obrigado e desculpem se causei algum transtorno.
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