8º Emprego
Consultor
Cícero da Mata
No grande prédio da Secretaria da Fazenda, na Av. Rangel Pestana, ficamos alojado no 8º andar junto ao Gabinete do Secretário. Fui contratado pela INTEC - Consultores Associados no garboso cargo de Consultor. Nada mal para quem até há pouco era auxiliar administrativo. Ao chegarmos lá, em março de 1976, foi criada a ACDO-Assessoria de Coordenação e Desenvolvimento Organizacional, sob a chefia do Rossetto. Uma assessoria coringa, como o próprio nome indica, entre as 14 assessorias do Secretário.
Nosso trabalho era muito diversificado, e uma das minhas funções era criar um Centro de Informações Técnicas a partir de uma biblioteca e um arquivo já existentes, onde se encontravam "pendurados" diversas pessoas. O serviço não consistia em "botar a mão na massa", e sim em criar uma nova estrutura organizacional para aqueles serviços na Secretaria. Junto com esse serviço, que consistia em conversar a senhora bibliotecária, antiga funcionária; com o encarregado do arquivo; e redigir normas e procedimentos, mantinhamos um serviço de documentação especialmente dirigido ao Secretário e aos assessores mais próximos.
Lembro que neste serviço de documentação, certa vez o Rossetto me encarregou de fazer um trabalho que era não era propriamente de documentação, mas não havendo outro setor que o fizesse, ficamos encarregado de executá-lo. O Secretário necessitava de uma nova pasta, que serviria para encaminhar os documentos da Secretaria para despacho do Governador. Fomos orientados que o Secretário desejava uma pasta que se destacasse entre as diversas que o Governador recebia diariamente das demais secretarias. Deveria ser uma pasta muito bonita, de couro, destas que não se encontram numa papelaria. Precisava ser feita manualmente por um refinado artesão.
Conversando sobre a difícil empreitada com um amigo fotógrafo metido a artista e desempregado, ele me disse que junto com um cunhado metido a "designer", também desempregado, poderiam criar a tal pasta. Levei-os até a presença do Rossetto; conversaram por um bom tempo sobre o que poderia agradar o secretário; falaram um bocado sobre combinação de cores, impressão em couro, tipos de letras, etc. e sairam de lá com serviço contratado. Naquele dia, à noite, eu e meus dois amigos fomos beber em comemoração ao serviço adquirido. No bar fiquei sabendo que aqueles "artistas" nunca haviam lidado com aquele tipo de serviço. Mas como eram "talentosos", logo encontraram uma boa encadernadora para fazer a pasta.
O resultado agradou o Rossetto e o secretário, mas não ficamos sabendo se a tal pasta agilizou ou não seus despachos com o Governador. De qualquer modo, quando me perguntavam: você é consultor de quê na Secretaria da Fazenda? Eu podia responder: de pasta, oras!
O trabalho de "consultoria" começou a esvaziar; a máquina administrativa na área pública sempre foi muito emperrada; os serviços não deslanchavam a contento; e a ACDO passou a coordenar pouco e desenvolver menos ainda. De modo que em princípios de julho, eu recebi um telefonema de Seishun perguntando como estavam as coisas, como andava o trabalho?. Eu lhe disse que ia devagar, quase parando, etc. Ele, então, perguntou se eu queria trabalhar numa nova empresa pública, que eles estavam criando: a CET-Companhia de Engenharia de Tráfego. Eu fiquei tão aturdido que não lembro direito o que respondi, mas deve ter sido algo como: mas é para agora ou é para já? E assim partimos para o 9º emprego.
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