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Memória

Encontros com Darcy Ribeiro

Ferreira Gullar

 

Fui amigo de Darcy, convivi com ele no exílio no Peru. Era um dos homens mais inteligentes que conheci. Extraordinariamente inteligente. Com uma sagacidade e grande capacidade de realizar coisas. Não era somente o intelectual que pensa, que formula. Ele criava. Criou a UnB, os Cieps, o Sambódromo. Era o autor do projeto, o estimulador e o realizador. E era um escritor extraordinário. Maíra e O Mulo são prova disso.

Fonte: www.medio.com.br/index.

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Como é que foi essa história?

Um dia eu estava na casa do Darcy em Lima e começamos a conversar sobre poesia. E eu disse para ele: "Um dos meus poetas prediletos é o Augusto dos Anjos". E aí o Darcy falou: "Ah, que Augusto dos Anjos que nada. Aquele negócio de ‘Escarra nessa boca que te beija’". E eu falei: "Oh Darcy. Augusto não escreveu só isso... Eu vou te dizer uns poemas que eu sei de cor". E disparei. Aí ele se entusiasmou: "Cara, eu nunca imaginei que o Augusto fosse um poeta tão bom". Daí a uma semana, o editor Fernando Gasparian chegou a Lima para tratar de negócios. E nós fomos almoçar com ele. No meio do almoço, o Darcy falou: "Olha, o Gullar está escrevendo um ensaio sobre o Augusto dos Anjos e queria que você publicasse, Fernando". Ele topou na hora. E o Darcy então falou: "Mas tem que adiantar um dinheiro". Ele então me deu US$ 100, para um livro que eu nem tinha escrito.

E US$ 100 era muito ou pouco para época?

Para mim, que estava vivendo com uma mão na frente e a outra atrás, era muito (risos). O Darcy fez de propósito. Ele sabia que a minha situação era precária. Eu tive então que escrever o livro. Quando cheguei a Buenos Aires, pedi para a minha mulher que me mandasse os livros necessários para escrever o ensaio.

Fonte: Trecho da entrevista de Ferreira Gullar publicada n'O Tempo www.otempo.com.br/otempo/noticias/?IdNoticia=142995

em 08/06/2010

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