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Almanaque

 

Os Mandamentos do Escritor

                               Nietzsche

1. O que mais importa é a vida: o estilo deve ter vida.
2. O estilo deve ser apropriado a tua pessoa, em função de uma pessoa determinada a quem tu queres comunicar teu pensamento.
3. Antes de segurar a caneta, é preciso saber exatamente como se expressaria de viva voz o que se tem que dizer. Escrever deve ser apenas uma imitação.
4. O escritor está longe de possuir todos os meios do orador. Deve, pois, inspirar-se em uma forma de discurso muito expressiva. O resultado escrito, de qualquer modo, aparecerá mais apagado que seu modelo.
5. A riqueza da vida se traduz na riqueza dos gestos. É preciso aprender a considerar tudo como um gesto: a longitude e a pausa das frases, a pontuação, as respirações; também a escolha das palavras e a sucessão dos argumentos.
6. Cuidado com o período. Só tem direito a ele aqueles que têm a respiração muito longa quando falam. Para a maioria, o período é apenas uma afetação.
7. O estilo deve mostrar que tu acreditas em teus pensamentos. Deve mostrar não só que pensas neles, mas que os sentes.
8. Quanto mais abstrata é a verdade que se quer ensinar, mais importante é fazer convergir até ela todos os sentidos do leitor
9. O tato do bom prosador na escolha de seus meios consiste em aproximar-se da poesia até roçá-la, mas sem ultrapassar jamais o limite que a separa
10. Não é sensato nem hábil privar o leitor de suas refutações mais fáceis; pelo contrário, é muito sensato e hábil deixar que ele formule a última palavra da nossa sabedoria.
               

Fonte: http://www.ciudadseva.com/textos/teoria/opin/nietz01.htm

George Orwell

 

Quando você estiver escrevendo uma sentença, você deve se perguntar:

1. O que estou tentando dizer?

2. Quais palavras expressarão isso?

3. Qual imagem ou idioma tornará mais claro [o que quero expressar]?

4. Essa imagem é original o suficiente para causar impacto?

5. Eu deveria escrever isso de maneira mais breve?

6. Eu disse alguma coisa que é legitimamente horrível?

Tendo escolhido as palavras, siga essas regras:

1. Nunca use uma metáfora, comparação ou outra figura de linguagem que você está acostumado a ver em impressos.

2. Nunca use uma palavra longa onde você pode usar uma curta.

3. Se for possível cortar uma palavra, corte-a.

4. Nunca use a voz passiva onde é possível utilizar a voz ativa

5. Nunca use uma locução estrangeira, uma palavra científica ou uma gíria se você pode encontrar o equivalente padrão.

6. Rompa qualquer uma dessas regras antes de dizer uma grande barbaridade.

                                                    ****

Extraido de: http://ligadosbetas.blogspot.com.br (2/3/2016)

Material consultado:
LolaLolet. Tips de autores famosos para ser un buen escritor. Disponível em: http://www.taringa.net/posts/apuntes-y-monografias/15975200/Tips-de-Autores-Famosos-para-ser-un-buen-escritor-Parte-1.html Acesso em: 20/05/2013
Daniel Scocco. 12 Writing Tips from George Orwell. Disponível em: http://www.dailyblogtips.com/12-writing-tips-from-george-orwell/ Acesso em: 20/05/2013
???. Tudo sobre George Orwell. Disponível em: http://www.duplipensar.net/george-orwell/ Acesso em: 20/05/2013


    

Garcia Marquez

1 - Uma coisa é uma história longa e outra é uma história alongada.
2 - O final de uma história deve ser escrito quando você ainda estiver

     na metade.
3 - O autor lembra mais facilmente como uma história termina do que

     como ela começa.

4. É mais fácil atrair a atenção deum coelho que a de um leitor.
5. É necessário começar com a intenção de que se escreverá a

     melhor coisa (jamais escrita) porque logo essa vontade diminui.
6. Se você se aborrece escrevendo, o leitor se aborrece lendo.
7. Não force o leitor a ler uma frase novamente para compreender    

     seu sentido.

Fonte: http://www.ciudadseva.com/textos/teoria/opin/ggm2.htm

                                  

Hemingway

 

1. Escreva frases breves. Comece sempre com uma oração curta.   

   Utilize o seu idioma de maneira vigorosa. Seja positivo, não negativo

2. A gíria adotada deve ser recente, caso contrário não tem utilidade.

3. Evite o uso de adejetivos, especialmente os extravagantes como

     “explêndido, grande, magnífico, suntuoso”

4. Ninguém que tenha um pouco de inteligência, que sinta e escreva 

    com sinceridade sobre as coisas que deseja  dizer, pode escrever

    mal se atentar para estas regras.

5. Para escrever, imagino a antiga solidão do quarto de hotel onde

    comecei a escrever. Diga a todo mundo que vives em um hotel e  

    hospeda-te em outro. Quando te localizarem, mude para o 

   campo.Quando te localizarem no campo, muda-te para outro lugar.

   Trabalhe o dia todo até que esteja tão esgotado que o único exercício

   que possa fazer será ler os jornais. Então coma alguma coisa, jogue

   tênis, nade ou realize alguma tarefa que te entonteça só para manter

   o intestino em movimento e, no dia seguinte, volte a escrever.

6. Os escritores deveriam trabalhar sozinhos. Deveriam se ver só

    quando as suas obras estivessem concluidas e, ainda assim, não

    comdemasiada frequência. Caso contrário, se tornam como os

    escritores de Nova Iorque. Como minhocas de terra dentro de uma

    garrafa, tentando alimentar-se a partir do contato entre eles e a   

    garrafa. Às vezes a garrafa tem a forma artística, às vezes

    econômica e às vezes econômica-religiosa. Mas uma vez que estão

    na garrafa, permancem ali. Sentem-se solitários fora da garrafa.

    Não querem sentir-se solitários. Têm medo de estar só com as suas

    crenças...   

7. Às vezes, quando tenho dificuldade para escrever, leio meus

    próprios livros para levantar o ânimo e depois lembro-me que

    sempre foi dificil e às vezes quase impossível escrevê-los  

8. Um escritor, se tem alguma utilidade, não descreve. Inventa ou

    constrói a partir do conhecimento pessoal ou impessoal

______________

Fonte: Ciudad Seva de Luis López Nievas. http://www.ciudadseva.com/ Posted by Esteban Pinotti

                                                    

Juan Carlos Onetti

1. Não busquem ser originais. Ser diferente é inevitável quando

    alguém se preocupa em ser-lo.

2. Não tentem deslumbrar o burguês. Não dá resultado. Ele só fica

    assustado quando lhe ameaçam o bolso.

3. Não tratem de complicar o leitor, nem buscar nem reclamar sua

    ajuda.

4. Não escrevam jamais pensando na crítica, nos amigos ou parentes,

    na doce noiva ou esposa. Nem sequer no leitor hipotético.

5. Não sacrifiquem a sinceridade literária por nada. Nem a política,

    nem o triunfo. Escrevam sempre para esse outro, silencioso e

    implacável, que levamos conosco e não é possível enganar.

6. Não sigam modas, abjurem o mestre antes do terceiro canto do galo.

7. Não se limitem a ler os livros já consagrados. Proust y Joyce foram

    depreciados quando mostraram o nariz. Hoje são gênios.

8. Não esqueçam a frase, justamente famosa: 2 mais 2 são 4; mas e se

    forem 5?

9. Não desdenhem temas com narração estranha, seja  qual for sua

    origem. Roubem se for necessário.

10. Mintam sempre.

11. Não esqueçam que Hemingway escreveu: “Inclusive de leituras de

      bobagens já prontas de meus romances, que vem a ser o nivel mais

      baixo em que um escritor pode cair”

                                          

Stephen Vizinczey

1. Não beberás, não fumarás, nem te drogarás

2. Não terás costumes caros

3. Sonharás e escreverás, e sonharás e voltarás a escrever

4. Não serás vaidoso

5. Não serás modesto

6. Pensarás sem cessar nos que são verdadeiramente grandes

7. Não deixarás um só dia sem reler algo importante

8. Não adorarás Londres/Paris/Nova Iorque

9. Escreverás para satisfazer a ti mesmo

10. Serás dificil de satisfazer-te

StephenVizinczey, escritor e poeta hungaro, autor de O milionário inocente e Verdades e mentiras na literatura, dentre outros

                                                     

Antonio Carlos Secchin

 

1. Amarás a literatura acima de todas as coisas.

2. Não invocarás os centenários de Machado de Assis e Rosa em vão: trata de fazer algo inteiramente diverso.

3. Guardarás os fins de semana para escrever tudo aquilo que teu 

    emprego não permite que escrevas nos outros dias.

4. Duvidarás de pai, mãe, avós, emfim: de toda a linhagem de teus

    ascendentes literários.  

5. Não matarás o idioma supondo reinventa-lo em cada nova obra.

6. Não pecarás contra a causticidade da língua, abrigando em teus

     textos a ironia, o humor, a irreverência.

7. Não furtarás obras alheias: com elas estabelecerás “diálogos

    intertextuais”.

8. Não levantarás falsos testemunhos, dizendo que um texto é ótimo

    apenas por ser da autoria de um amigo.

9. Não cobiçarás os prêmios e as resenhas elogiosas do próximo.

10.Não acreditarás em nenhum decálogo.

 

Fonte: Rascunho, nº 100, agosto de 2008.

 

                                                  

 

                      Raimundo Carrero

1. Acredite: não existe inspiração.

2. Escreva. Escreva. Escreve.

3. O talento é a melhor maneira de o escritor estar lento.

4. Conduza sempre caneta e papel no bolso – ou agenda eletrônica:

    anote tudo que pensa e quer.

5. Leia muito. Os clássicos, de preferência: Homero, Virgílio,

    Dante. Mas não esqueça os contemporâneos.

6. Um escritor deve conhecer bem o seu ofício. Estude muito. Estude

    sempre.

7. As histórias estão bem próximas. Use a memória. Sem medo.

8. Use as condições objetivas: tenha uma boa biblioteca e um

    lugar reservado para escrever.

9. Um bom prosador deve ler poemas. E um bom poeta deve ler

    romances, novelas, contos.

10. Seja simples. Mas a simplicidade deve apenas esconder a  

     sofisticação. Aprenda com Machado de Assis, Manuel Bandeira,

     Carlos Drummond de Andrade e Autran Dourado.

Fonte: Rascunho, nº100, agosto de 2008.

                                                

Liliana Heker

1) Las ganas de escribir vienen escribiendo. Es inútil esperar el instante perfecto en que todos  los problemas han desaparecido y solo existe el deseo compulsivo de escribir: ese instante no existe. En general, uno se sienta a escribir venciendo cierta resistencia —salir del estado de ocio no es natural—, uno oficia ciertos ritos dilatorios, uno por fin, con cierta cautela, escribe. Y en algún momento uno tal vez descubre que está sumergido hasta los pelos, que todos  los problemas han desaparecido, y que no existe otra cosa que el deseo compulsivo de escribir.

2) La primera versión de un texto es sólo un mal necesario. Suele estar bien lejos de aquello completo e intenso que uno difusamente ha concebido. Corregir no es otra cosa que ir encontrando a Moisés dentro del bloque de mármol.

3) En literatura no existen sinónimos ni equivalencias: no es lo mismo un rostro, que una cara, que una jeta, “Dijo que estaba harto” no equivale a “—Estoy harto — dijo”. Aferrarse a una frase o una palabra simplemente porque ha salido así del alma, es por lo menos un riesgo: el alma, a veces, dicta obviedades. En Filosofía de la composición, Poe cuenta que, durante la escritura de su poema El cuervo, decidió que necesitaba un animal parlante para que repitiera un leit motiv al final de cada estrofa. Y naturalmente el primer animal que se le cruzó fue el loro. A veces conviene sacrificar al loro.

4) Ni la espontaneidad ni la velocidad son valores en literatura. Tantear, tachar, descubrir nuevas posibilidades, equivocarse tantas veces como haga falta, ir acercándose paso a paso al texto buscado: ese es el verdadero acto creador. Lo otro es como estornudar.

5) Cuando se escribe, no hay que tenerles miedo a los sentimientos, pero tampoco hay que tenerle miedo a la lucidez. Uno tiene tan pocas cualidades que no veo razón para que se despoje de alguna de ellas para hacer literatura.

6) La realidad proporciona buenas situaciones pero no construye obras artísticas. Tajear un hecho, distorsionarlo, cambiarle o anularle alguna pieza, son atribuciones que un autor de ficciones puede tomarse sin ninguna culpa. No es al acontecimiento real al que debe serle fiel sino a la luz secreta que él descubrió en ese acontecimiento y lo tentó a escribir.

7) No hay que empezar un cuento si no se sabe cómo va a terminar. Se corre el riesgo de ir de acá para allá, sin ton ni son, esperando que el final caiga del cielo. Los buenos finales no suelen tener origen celestial: aunque no se lo note, vienen mandados desde la primera frase.

8) Una novela requiere una escritura y una estructura rigurosas como las de un cuento. Si tiene páginas grises, esos grises deben estar tan cargados de tensión como lo están en el Guernica, de Picasso. Si no, son meramente un plomo.

9) La inspiración no existe; en eso se parece a las brujas. Entonces, cuando las palabras parecen cantarle a uno  en la oreja, y siente que todo lo que está escribiendo tiene la música justa, el ritmo exacto, la tensión precisa que debe tener, uno puede llamar a ese estado de privilegio como más le guste, pero lo mejor es que suelte el freno y deje rodar la locura. Es hermoso, solo que no hay que creer que es el único estado en que se hace literatura. Porque se corre el riesgo de no escribir más que una página en toda la vida.

10) Hay que nutrirse de los credos y hay que aprender a dudar de ellos. No existen reglas universales para el oficio de escribir. Es uno mismo que a la larga, con verdades y mentiras propias y ajenas,  va estableciendo sus propios ritos, va permitiéndose sus propias manías, va construyendo su propio credo.

Fonte: http://www.revistaarcadia.com/libros/articulo/los-10-mandamientos-escritura/41456 (18/03/2015)

Decálogo incompleto do crítico e poeta argentino

Luis Fernando Afanador

1. “Te regalo esa historia”, le suelen decir a los escritores. Hay historias muy buenas que sin embargo no son para uno. ¿Cómo reconocer la historia o el poema que debemos escribir? Cuando sigue golpeando a la puerta después de un largo y prolongado rechazo.

2. Lo más difícil es la primera frase. En la primera frase está el tono, el ritmo y el aliento de un escrito.

3. Un texto se escribe frase a frase. ¿Cómo no decaer? ¿Qué hacer para no perder el entusiasmo? Concentrándose  únicamente en la frase que viene. Si fuimos capaces de escribir la primera, seremos capaces de llegar hasta la última. Escribir es como subir o bajar una pirámide: sentimos vértigo si miramos más allá del siguiente escalón.

4. Una vez que la escritura toma vuelo, debemos creer que nos dirigimos a un lugar preciso. Aunque este resulte sorprendentemente distinto.

5. Escribir se parece mucho a la navegación en vela. Dependemos del viento y podemos entrar en un mar de los sargazos. Cuando esto ocurre no hay nada que hacer. No hay que forzar el entusiasmo. Mañana será otro día.

6. Se escribe paso a paso y vislumbrando un final. Eso quiere decir que el camino es variable, con múltiples opciones y atajos. ¿Con qué criterio escoger cada alternativa? Creyendo que hay un lugar preciso al que nos dirigimos. Aunque no sea verdad.

7. Las historias, los poemas, tienen una forma única en que deben ser escritas.  Nadie la conoce, cada escritor tiene que descubrirla. Miguel Ángel tenía razón.

8. El que escribe pierde la perspectiva. Ningún escritor sabe exactamente qué fue lo que escribió. Felizmente eso lo deciden otros. ¿Cuándo detenerse? Cuando uno cree que no puede ganar más. O se encuentra arruinado. Igual que un jugador de Black Jack.

9. Quería hacer un decálogo personal de mi escritura pero solo pude llegar hasta ocho. Es la prueba de que no he aprendido a escribir y por lo tanto no tengo nada que enseñar.                                                               

http://www.revistaarcadia.com/libros/articulo/consejos-para-escribir-buenas-historias/29688  (18/03/2015)

Jorge Fernando dos Santos

1. Procure escrever como se fala, sem medo de ser coloquial.
2. Adote a gramática como norma e não como camisa-de-força.
3. Use frases diretas e enxutas, períodos curtos com poucas vírgulas.
4. Dê ritmo à narrativa, lendo o texto em voz alta antes de concluí-lo.
5. Evite palavras supérfluas, como adjetivos, advérbios e superlativos.
6. Evite jargões, gírias e expressões usadas restritamente.
7. Seja positivo, pois o texto negativo pode confundir o leitor.
8. Tenha cuidado com o uso de aspas e travessões, pois determinam  

    as  falas dos personagens; as palavras usadas por eles ajudam a

    definir sua psicologia e modo de ser.
9. Evite a repetição de palavras numa mesma frase ou período, pois

    isso empobrece o texto.
10. Nunca se afaste do dicionário, importante aliado para escrever

      certo e ampliar o repertório de palavras.

Fonte: SANTOS, Jorge Fernando dos. Como Escrever: Literatura, Jornalismo, Teatro, Cinema. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna, 2003.

 

José Nêumane Pinto

Os dez mandamentos para um escritor iniciante no Brasil

(Palestra de José Nêumanne Pinto no sarau de um ano do Por do sol Literário do grupo Sol das Letras nos jardins da Academia Paraibana de Letras, em João Pessoa, quinta-feira 11 de dezembro de 2014)

1 – O primeiro mandamento é recusar a mediocridade, pois para escrever bem é preciso ter tolerância zero para o erro.

Conheci o prazer de fruir a boa literatura antes de aprender a ler. Minha mãe dizia de cor poemas nas noites escuras e quentes do sertão na calçada da casa onde morávamos em Uiraúna. Ali travei contato com Augusto dos Anjos, Jansen Filho, Casimiro de Abreu e, principalmente, Antônio Frederico de Castro Alves, os favoritos dela. Na primeira infância, me arrisquei a escrever logo depois de me ter iniciado no prazer da leitura. Foi aí que percebi que para escrever bem é preciso ler o máximo possível. Mas, de preferência, só ler coisas boas. A má leitura é nociva à boa escrita. O primeiro duro desafio para o autor iniciante é separar o joio do trigo. Certa vez, em Buenos Aires, o genial ficcionista portenho Jorge Luis Borges me disse que a imprensa é uma desgraça da humanidade, pois bom mesmo era o tempo dos papiros, pergaminhos e dos palimpsestos (principalmente neste caso, pois um texto teria de superar o outro para ser inscrito em cima dele), quando reproduzir a escrita dava muito trabalho, não era mecânica, como passou a ser por causa do prelo. Um dos escritores favoritos de Borges, o britânico Chesterton, escrevia muito para jornais, mas dizia que quando desejava saber do que se passava na humanidade lia a Bíblia.

Os grandes escritores acabam por adquirir autonomia para o exercício seletivo do livre arbítrio em meio à profusão de publicações que a indústria editorial oferece. Cada dia fica mais fácil reproduzir escritos e cada dia mais proliferam textos ruins, que os autores praticamente impõem aos editores e estes aos leitores. Qual terá sido o efeito disso na enorme oferta de livros pela indústria editorial e na queda de qualidade? O grande poeta paraense Ruy Barata dizia nos “botecos literários” de Belém: “Uma livraria tem um poder enorme; para o bem ou para o mal. Sua vida inteira pode depender da escolha que, dentro dela, você vier a fazer”.

Ou seja, o autor iniciante precisa ser vacinado contra a pior das pragas literárias, a contaminação da mediocridade. A mediocridade é ostensiva, exibicionista e tirânica. O medíocre não se contenta em sê-lo. Ele quer ter cúmplices. Danou-se: senti-me incorporando Nelson Rodrigues ao lhes afirmar isso. Mas voltemos ao rés do chão. Eu tenho fama de ser malvado e até grosseiro, mas até hoje nunca tive coragem de rejeitar de cara um livro ruim que me oferecem. Minha mãe ficava furiosa com minha mania de corrigir os erros de português da conversa de suas amigas. Talvez por isso, sinto certa dificuldade até para não por na estante a má obra, capaz de contaminar as melhores na minha biblioteca.

No avião, vindo para cá, prometi a Isabel que vou jogar fora todos os livros medíocres em nossa casa. Vai ser uma limpeza e tanto. Neste particular, há o que chamo de ponto de corte, como se estivesse corrigindo uma prova de vestibular: é o erro gramatical. Já recebi livro com erro gramatical no título, na capa. Vou continuar recebendo, mas não guardarei mais. Um escritor que comete erro gramatical é como se fosse um mecânico que não sabe como funciona o motor nem para que serve o combustível. Para a mediocridade a tolerância tem que ser zero.

2 – O segundo mandamento é vencer a maldição da fuga do profeta.

Um de meus textos favoritos é o Sermão da Sexagésima, do padre Antônio Vieira. Nele o grande pregador diz que há dois tipos de sacerdotes, os párocos e os missionários. É uma lição de vida. Ao contrário do que reza o ditado, o profeta pode, sim, ser ouvido em sua terra. Márcia Lígia Guidin, da Miró Editorial, me pediu para lhes contar que o bom escritor não precisa sair de sua cidade para publicar. Concordo com ela. Marisa Lajolo (pesquisadora, assessora do prêmio Jabuti e autora de Do mundo da leitura para a leitura do mundo) e a vida lhe dão razão: Waldemar Solha mora em João Pessoa e mantém a alta qualidade de seus textos de crítica e ficção. Relato de Prócula, editado originalmente na Girafa, uma editora da qual fui sócio, é um exemplo. O poeta amazonense Aníbal Beça nunca saiu de Manaus, é pouco conhecido no resto do Brasil, mas famosíssimo no Caribe. Assim também ficaram em Belém os magníficos poetas João Jesus de Paes Loureiro, Pedro Galvão e Ruy Barata, que ciceroneou uma visita de Elizabeth Bishop à Amazônia e isso está registrado nas cartas dela.

Socorro Acioly, 39 anos, nascida em Fortaleza, que estreou com O pipoqueiro João, publicado pela editora Nação Cariry, quando ela tinha 8 anos, não precisou sair de Fortaleza para ganhar com seu livro Ela tem olhos de céu, o prêmio Jabuti de Literatura Infantil de 2013. Outro exemplo em Fortaleza é o da editora Tupynankin, do cordelista Klevisson Viana. Moram em Recife o médico cearense Ronaldo Correia de Brito, autor de Galiléia, Prêmio São Paulo de literatura, editado pela Cosac & Naif, a mais chique editora brasileira; o historiador Frederico Pernambucano de Melo, que escreveu Guerreiros do sol; e a psicanalista Maria Cristina Cavalcanti de Albuquerque, autora do primoroso romance Luz do Abismo, os dois últimos editados por mim na Girafa.  Everardo Norões, que nasceu no Crato e viveu na França, Argélia e Moçambique, agora foi publicado pela Confraria do Vento, pequena editora carioca, da qual é sócia a recifense Karla Melo e venceu o prêmio Portugal Telecom com a coletânea Entre moscas, superando Antônio Prata e outros cronistas de grandes jornais. O poeta Mário Quintana nunca saiu do Rio Grande do Sul nem o folclorista Câmara Cascudo do Rio Grande do Norte. Dalton Trevisan ganhou fama internacional morando em Curitiba. O poeta Manoel de Barros morreu há pouco tendo passado a vida inteira em seu Mato Grosso natal. Muita gente na província tende a encarar o avião para o Sudeste como o caminho da salvação. Este é “um ledo e ivo engano”, como diziam antigamente os gozadores bem informados na Praça do Rotary, na Campina Grande de minha adolescência.

3 – O terceiro mandamento é não se desesperar com as tentativas malogradas de convencer um editor de sua genialidade ignota.

Chegamos agora ao desafio da estreia. Primeiramente, não se apresse, pois não há limite de idade. Ana Luisa Escorel, paulistana, 70 anos, filha da professora Gilda e de Antonio Candido de Melo e Souza, o mais venerado crítico literário brasileiro, venceu o Prêmio São Paulo de 2014, o de maior valor monetário, com o romance Anel de vidro, ao lado de Verônica Stigger, gaúcha, de 41 anos, estreante, com Opisanie swiata (Cosac & Naif), título que supera em complexidade A intertextualidade das formas simples, de nossa amiga Betinha Marinheiro.

Wander Soares, que dirigiu a Saraiva, me pediu que contasse a vocês que há dois meios de editar um livro no Brasil hoje: a autopublicação e a maratona da aprovação por uma editora estabelecida, não necessariamente no Sudeste ou no Sul. A primeira pode ocorrer de duas maneiras: assumir a missão de imprimir e vender ou pagar para um profissional fazer isso. Há editores que por dinheiro fazem qualquer negócio. Outros, não: exigem qualidade. Lembro-me de um jantar com meu saudoso amigo Luiz Augusto Crispim no qual ele me contou que, sendo um autor bem vendido de compêndios na área jurídica na Saraiva, teria de financiar a própria edição de livro de poesia ou ficção desde que, primeiro, passasse pelo crivo de qualidade do grupo editorial. Ele tinha que apresentar um bom livro e pagar por sua edição. Assim também agia o badalado editor Massao Ohno, que pontificou em São Paulo nos anos 60 e 70. Mas há também editores que, tendo a edição paga, editam qualquer coisa.

A maratona é dura e exige paciência. Mande o texto para um editor e saiba que só terá noção do destino dele se aquele editor resolver publicá-lo. Receber o texto recusado de volta, nem pensar. Custa caro. E muito editor nem o lerá. Mais fácil será jogá-lo no lixo. Mas nunca perca a esperança. Faça cópias e mande para outros. Se não conseguir furar o bloqueio, que não é fácil, poderá optar também pela nova opção do livro editado por internet. Muita gente tem apelado para isso com êxito. Não há mais editores como José Olympio, que publicou tudo o que os grandes autores brasileiros, que frequentavam sua livraria no centro do Rio, escreviam. Nem como Ênio Silveira, que se tornou um ícone da resistência de esquerda à ditadura militar na Civilização Brasileira, cujos livros eu lia sofregamente à época de minha adolescência em Campina Grande, comprando-os na Livraria Pedrosa. Aliás, não há mais Livraria Pedrosa. Nem a Livraria Teixeira na rua Marconi, no centro de São Paulo, que eu costumava frequentar nos anos 70 ao lado do poeta Ronaldo Cunha Lima, que trabalhava no Banco Industrial de Campina Grande, no mesmo quarteirão. Agora as livrarias são shopping centers que vendem de tudo, também às vezes livros. Sou rato de livraria desde a infância e agora tive de me acostumar a um novo hábito: mesmo diante de estantes cheias, nunca encontro o livro que procuro, como encontrava antes. Agora tenho de encomendá-lo. Qualquer livraria, salvo raras exceções, só vende o que lhe é pedido. Nem assim, tem compra firme nem o livro é faturado. Quando fui editor na Girafa, começou o hábito da consignação. Agora sem consignação não há salvação. O editor só conseguirá entregar o livro se o receber de volta se não vender. E mesmo que venda muito, ele não fatura a reposição, mas põe em consignação. É o novo jeito de fazer negócio.

Ainda segundo Wander Soares, que dá consultoria a grandes editores, há duas novidades mais hoje em dia. A primeira é a globalização. Cada vez mais mandam no mercado editorial brasileiro as multinacionais, principalmente europeias, mas também americanas. E a globalização tem mão inversa: agora o editor brasileiro aposta no mercado externo. De modo geral, ele ainda sonha com a publicação de um autor que lhe reserve um lugar na história da literatura. Mas isso é cada vez mais raro. O livro é cada vez mais um negócio globalizado. Por isso, não se usa mais a palavra “originais”. Hoje está na moda o projeto. Você apresenta um projeto, o editor faz o cálculo se pode ser lucrativo ou se ao menos paga as despesas. E aí pode decidir a seu favor. Ou não. Feiras de livro como a de Frankfurt, na Alemanha, são vitrines poderosas neste novo negócio globalizado.

A figura do editor, que acompanha o autor, aconselha, de certa forma e influi, até corrige textos, como fazem Pedro Paulo de Sena Madureira, que está fora do mercado no momento, e seu discípulo José Mário Pereira, da Topbooks, que editou meu último livro, O que sei de Lula, é cada vez mais rara. Hoje predomina o publisher, o profissional que faz negócio com o livro. Uma coisa, contudo, não mudou: o assessor, como Wander, ainda aponta, indica, influi. Este é capaz de ler as primeiras cinco páginas, quando muito, de um projeto e saber se vale a pena continuar, ou não. Ou seja, mesmo nesta época da cultura de massa, da globalização das grandes editoras (espanholas, italianas, inglesas, americanas, etc.), o livro ainda tem a importância que tinha no passado, a despeito das mudanças de rota.

Meu editor e amigo José Mário Pereira, que é sócio da mulher, Christine Ajuz, que trabalhou comigo no Jornal do Brasil, é otimista em relação à sobrevivência do livro como suporte de conteúdo. Ele me mandou uma mensagem respondendo a algumas perguntas a respeito do tema e nela me escreveu: “Mesmo diante dos vaticínios tempestuosos de alguns, que dizem que o livro no seu formato tradicional logo vai acabar, nunca se imprimiu tanto. Mesmo os que se valem de instrumentos eletrônicos para ter acesso a certos livros acabam por comprar também o livro em papel. Há estatísticas que comprovam esse fato. Mesmo como a facilidade de se obter informação pela televisão e pelo computador, o livro continua sendo o meio mais eficaz de apreensão e fixação do conhecimento. As grandes bibliotecas do mundo todo continuam a comprar livros, embora estejam preocupadas também em digitalizar o seu acervo. Nos Estados Unidos, por exemplo, compra-se tudo que se publica no Brasil. As bibliotecas americanas disponibilizam para o pesquisador livros brasileiros raros, que aqui se demora a localizar em nossas melhores bibliotecas. Wilson Martins costumava dizer que só escreveu a História da inteligência brasileira porque o fez nos Estados Unidos, onde era fácil pesquisar e o sistema de empréstimo entre bibliotecas realmente funcionava.

Zé Mário tem razão. O Sindicato Nacional dos Editores (Snel) e a Câmara Brasileira do Livro (CBL) costumam encomendar pesquisas sérias sobre o desempenho e a expansão do nosso mercado livreiro e, ao que tudo indica, a indústria editorial brasileira passa por um período de grande vitalidade. São muitas as feiras editoriais que se realizam pelo país afora, a começar pela Bienal do Livro, e, ao que se sabe, o resultado final tem deixado contente o mercado. Essas feiras ainda ajudam a democratizar o livro junto às classes menos favorecidas, pois nelas muitos livros são vendidos com descontos que estimulam a compra.

De acordo com a pesquisa bastante confiável da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores e Livreiros (Snel), conforme me informou Cristina Lima, da Câmara, em 2013 foram vendidos no Brasil 279 milhões e 660 mil exemplares de livros – 4,13% mais do que os 278 milhões e 560 mil vendidos em 2012. Deste total o governo comprou 200 milhões e 300 mil em 2013, um número bem maior do que os 166 milhões e 350 mil comprados em 2012. O faturamento total – considerando vendas ao governo, em livrarias ou por outros métodos – foi de R$ 5 bilhões e 350 mil em 2013, um aumento real de 1,52% em relação ao apurado em 2012, considerando-se o IPVA de 5,91%. E o preço real de capa aumentou 1,7% de 2012 para 2013.

Convenhamos que não é um mau resultado, mesmo se se considerar que o perfil desse crescimento não foi alentador, pois mostra o declínio de obras de qualidade e o constante aumento da produção de livros religiosos, de autoajuda e didáticos. Neste último o crescimento, mesmo tímido, se deve quase todo aos programas de compra e distribuição de livros do governo federal, que é o maior comprador das editoras no País e um dos maiores do mundo, só perdendo neste particular no mundo para o México.

4 – O quarto mandamento é perseverar, pois ainda é possível um autor desconhecido publicar seu livro.

Antes de abordar este quarto mandamento, contar-lhes-ei três histórias clássicas de descobertas de autores que se consagraram.

O poeta e banqueiro Augusto Frederico Schmidt descobriu Graciliano Ramos lendo no Diário Oficial a prestação de contas dele como prefeito de Palmeira dos Índios. O poeta achou o texto bem escrito e tratou de escrever ao prefeito alagoano para dizer que, se tivesse algum romance na gaveta, o enviasse para ele ler. Foi aí que resolveu editar Caetés, livro de estreia do mestre Graça.

Nos anos 50 o jornalista alagoano Audálio Dantas fazia uma reportagem para a Folha de S.Paulo na favela do Canindé em São Paulo quando conheceu Maria Carolina de Jesus, que lhe mostrou anotações em papéis amarfanhados. Foram o ponto de partida para Quarto de despejo, um dos livros de maior sucesso no Brasil em todos os tempos.

Adélia Prado mandou sua obra poética para Carlos Drummond de Andrade. O poeta a leu e ficou fascinado. Chamou seu amigo e exegeta Affonso Romano de Sant’Anna e os dois procuraram Pedro Paulo de Sena Madureira, editor à época da badaladíssima Nova Fronteira, de Carlos Lacerda. O livro foi publicado com texto introdutório da ensaísta Margarida Salomão. A noite de autógrafos foi uma das mais concorridas à época. Até Juscelino Kubitschek compareceu. Adélia ainda faz tanto sucesso que dia destes participei de um público entusiasmado que a ouviu e aplaudiu no enorme teatro do TUCA, lotado, em São Paulo. Negando a teoria de que o profeta tem de sair de sua terra para ser ouvido, até hoje Adélia mora em Divinópolis e só sai de lá para ser ouvida e aplaudida no mundo inteiro, mas depois volta ao interior de Minas, onde nasceu e vive.

Raimundo Gadelha acha impossível que estas histórias se repitam hoje em dia. Segundo ele, somente se houvesse uma “trama mirabolante” de uma instituição com poder para tal e de olho nos desdobramentos (financeiros, principalmente) de que, a médio e longo prazos, poderia se beneficiar. Márcia Lígia Guidin, da Miró, que acaba de editar o excelente romance O incrível testamento de Dom Agápito, de Helder Moura, lançado originalmente pela Chiado, editora portuguesa, discorda dele: “Creio que estes casos podem acontecer de novo, embora seja mais difícil encontrar padrinhos suficientes, de vez que há escritores demais”, disse-me ela.

5 – O quinto mandamento reza que o autor iniciante precisa estar atento para aproveitar as oportunidades que aparecem.

Este foi o meu caso. Sempre fiz sucesso como jornalista, mas tudo o que eu queria era ser reconhecido como literato. Embora nunca tenha misturado uma coisa com outra, até porque estas coisas não se misturam, nunca tive vergonha de usar o poder conquistado no jornal para abrir espaço no universo das letras.

Aos 30 e poucos anos, eu era secretário de redação do poderoso Jornal do Brasil no Rio e procurei Pedro Paulo de Sena Madureira, com quem eu tinha trabalhado em 1969 na Editorial Bruguera em Olaria, em pleno vapor na Nova Fronteira, para editar um livro de poesia, Os solos do silêncio, prefaciado pelo respeitado poeta, crítico e tradutor José Paulo Paes. Pedro aprovou o livro, mas saiu da Nova Fronteira depois de brigar com Sérgio Lacerda, filho do ex-governador e herdeiro da editora. Sérgio escreveu para meu patrão, Nascimento Brito, insinuando que eu teria um caso homossexual com o ex-editor dele. No fim, para evitar confusão, o livro foi editado pela Secretaria de Cultura da Paraíba no governo Milton Cabral. O secretário era Lula Crispim. E o governador, ao receber o exemplar autografado das mãos de meu pai, balançou-o no ar, como se fosse um bezerro para pesar, e reclamou que era fino e leve demais para ter algum valor. Meu primeiro grande sucesso foi a cobertura que fiz como editor de política do Estadão da campanha presidencial de 1989 e foi editado por Pedro Paulo na Siciliano. O resultado, o livro Atrás do Palanque, passou seis meses na lista de dez mais vendidos da revista Veja. Isso e mais o prêmio Senador José Ermírio de Moraes da Academia Brasileira de Letras de 2005, que ganhei com o romance O silêncio do delator, considerado o melhor livro de 2004, me garantiram recepção razoável de editores para meus livros, já perfazendo hoje um total de uma dúzia.

Nem tudo o que aconteceu comigo acontecerá automaticamente com qualquer outro iniciante. Mas meu exemplo serve para mostrar que um bom trabalho no jornalismo ou em publicidade pode favorecer o escritor a realizar seu sonho de estrear no mercado livreiro.

Neste sentido, Zé Mário me pediu que lhes contasse que, como aconteceu comigo, hoje muitos autores são descobertos devido à atuação profissional deles na imprensa, na internet ou na televisão. É o caso da atriz Fernanda Torres, por exemplo, cujo romance de estreia, Fim, vendeu mais de cem mil exemplares e agora está sendo lançado em várias línguas. Gregório Duvivier, que  virou bestseller, Daniel Galera, autor de grande fortuna crítica, e outros de que se fala muito agora foram descobertos via presença na mídia, e não porque procuraram, como se fazia tradicionalmente, uma editora ou um editor.

6 – Nem tudo está perdido para quem tem fé, talento e força de vontade – este é o sexto mandamento.

Para autores nunca publicados episódios similares ao da corrente que revelou Adélia Prado – Drummond, Affonso, Pedro Paulo – são cada vez menos prováveis. Mas não impossíveis. Zé Mário garante que as editoras recebem e avaliam muitos originais, que agora também são encaminhados via internet de todo o Brasil e às vezes até de fora do País. O acesso ao mercado editorial se democratizou. É bom lembrar que muitos autores estão colocando seus textos na internet, às vezes livros inteiros. E nesse processo se tornam conhecidos, despertando o interesse das editoras quando se trata de obra de valor literário indiscutível.

 “Sim, é possível e até não é tão difícil assim”. O grande problema, segundo Raimundo Gadelha, da Escrituras, é o que fazer com isso, se este é um país que, além de ler muito pouco, tem uma população que, em condições normais de temperatura e pressão, cresceu “aprendendo a ler mal”.

Além do mais, ainda conforme Gadelha, tornou-se quase insolúvel a questão da distribuição do livro no Brasil e no mundo. E ela se tem agravado depois de o livro ter passado a receber o mesmo tratamento dado à chamada fast food. Esgota-se cada vez mais a possibilidade de grandes e perenes obras. Em seu lugar ganha força a “leitura de rápido consumo” e, para os empresários das redes de livrarias, menos importa a qualidade do que um giro rápido pelos caixas.

Mas a boa literatura ainda tem seu lugar no mercado. Qualidade também ajuda a vender, embora não seja suficiente isoladamente.

7 – O sétimo mandamento é mandar textos para os inúmeros concursos literários existentes no País. Há que se informar sobre eles e se inscrever em todos quantos for possível fazê-lo.

Tais concursos hoje em dia podem ser uma boa fonte de renda (há prêmios bem suculentos, como o São Paulo de Literatura) para quem os vença. Além disso, eles servem realmente de peneira para que autores desconhecidos e de talento sejam publicados e, depois, façam sucesso. Ser desconhecido, vencer um concurso e ser publicado é, sem dúvida, o primeiro passo e representa uma conquista da maior importância. Mas voltamos ao velho problema da distribuição… Tirando o orgulho e a satisfação pessoal do autor, de que vale a editora publicar se a grande maioria das livrarias não aceita, mesmo em consignação, os livros?

Outro caminho é participar das feiras literárias. Sem elas a situação, certamente, estaria ainda pior, embora sejam cada vez  mais realizadas para o turismo do que para a cultura. Elas ajudam o escritor iniciante, porque dentro delas, ou na periferia delas, sempre se encontra espaço para divulgação do que está se produzindo de bom. Feiras no interior do País, por exemplo, ajudam a aproximar os bons escritores dos bons leitores e desse diálogo acaba se sabendo o que se produz de bom localmente.

8 – O oitavo mandamento é não se envergonhar de não conseguir viver de direitos autorais. Viver de direitos autorais é ainda mais raro do que publicar um livro e até mesmo fazer sucesso com ele. Os direitos de meu livro Atrás do palanque, apesar do sucesso, não substituíam meu salário como jornalista.

A profissionalização é um desafio enorme para o estreante. No Brasil durante muitos anos Jorge Amado era o único escritor que podia viver confortavelmente de seu ofício. Hoje a situação melhorou um pouco. Há Paulo Coelho, conhecido internacionalmente. Tive a oportunidade de testemunhar filas dobrando o quarteirão para conseguir autógrafos dele em Paris. Fui muito amigo de Marcos Rey, que conseguiu isso. Dia destes Isabel e eu nos encontramos com a viúva dele, Palma Donato, num café de shopping, e ela não estava insatisfeita com a renda produzida pelos livros do autor de O enterro da cafetina e O último mamífero do Martinelli.

Lembro-me ainda de Ruth Rocha, Ana Maria Machado, Antônio Torres e Fernando Moraes, que vivem de escrever. Ruy Castro também aceita entrar nesta lista, mas observa: “Eu que não escreva para jornais para ver se o rendimento dos livros chega para as despesas…” Restrinjo a lista aos literatos, porque sabemos que os autores de livros religiosos, didáticos e de autoajuda vendem o suficiente para viver bem. Além de autores de livros polêmicos em nosso conturbado ambiente político – caso de Assassinato de reputações, do delegado Romeu Tuma Jr, meu velho amigo e grande sucesso nos perfis sociais.

Mas o escritor estreante não deveria, a meu ver, sonhar tanto com isso. A profissionalização é a loteria dos que já ganharam outra loteria. Nossa tradição não privilegia o escritor profissional. Temos geniais amadores de que nos orgulhar. Machado de Assis era funcionário público, como o era Drummond, e Joaquim Nabuco, diplomata, como João Cabral de Mello Neto, e político, como José Américo de Almeida, o melhor texto da Paraíba. Por falar em paraibano, Augusto dos Anjos, meu patrono nesta casa, foi mestre-escola no interior de Minas, tendo sido, portanto, colega de ofício de Isabel, minha mulher. José Lins do Rego era promotor. João Guimarães Rosa, médico e diplomata. Ariano Suassuna era professor universitário. E por aí afora. Um grande escritor não terá de ser um profissional de ofício. Os exemplos de gênios amadores provam isso.

9 – O nono mandamento é nada esperar da crítica literária publicada nos meios de comunicação.

Não poderia terminar estas palavras para abrir nosso papo sem lamentar a extinção da crítica literária nos meios de comunicação – e particularmente na imprensa, na qual milito. Antigamente todos os bons jornais tinham o seu crítico literário de plantão e o seu suplemento literário. Antônio Olinto escreveu durante anos a fio a coluna Porta de livraria no Globo do Rio. Álvaro Lins, Antonio Candido, Agripino Grieco, Afonso Arinos de Melo Franco, Augusto Frederico Schmidt e José Guilherme Merquior escreveram muito em jornal. Este último, por exemplo, estreou no famoso Suplemento dominical do Jornal do Brasil. A época dos grandes suplementos foi gloriosa para a nossa literatura. Havia também revistas como a Senhor, na qual Merquior também escreveu, ao lado de Ferreira Gullar, Paulo Francis e Ruy Castro. Hoje temos o Rascunho e a Piauí, mas os grandes jornais reduziram muito o espaço para livros. Adotou-se há muito a resenha, quase sempre mais informativa do que analítica. Este, infelizmente, é um fenômeno quase internacional, apesar da perenidade de jornais culturais do nível do New York Review of Books, nos Estados Unidos, onde escreveu Edmund Wilson, e os ingleses London Review of Books e Times Literary Supplement.

Hoje nos limitamos à crítica acadêmica. E nem sempre ela tem sido de boa ajuda, embora ainda seja o último baluarte, ou balaústre, como diria meu amigo Bob Coutinho, dono do restaurante Plataforma Grill, em São Paulo, da tentativa de informar o público sobre o que se faz de bom na literatura brasileira.

Preciso aqui abrir parênteses nesta edição por escrito de minha palestra para preencher uma lacuna da qual fui alertado pelo colega escritor e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana, na Bahia, Aleilton Fonseca. Sou velho amigo e fã de Aleilton, que foi o autor de uma das melhores resenhas sobre meu romance premiado pela ABL O silêncio do delator, fazendo parelha com gente como Wilson Martins, Ledo Ivo e Bráulio Tavares. Não tenho sequer diploma universitário, et pour cause, nenhuma vivência acadêmica. Passou-me, por isso, despercebida a lacuna percebida por Aleilton após ler, como muitos outros amigos meus, a versão do texto que li na APL. Peço, pois, vênia a ele e a meus leitores para citar parte de sua mensagem encaminhada por e-mail:

“Faltou um mandamento que falasse da via universitária e escolar para escritores que existem e são correntes nesse nicho. É um espaço de leitura, crítica e estudos quase invisível, mas importantíssimo, porque constrói reputações e memórias em jovens – que no futuro repercutirão o nome e as obras dos autores agora lidos e estudados. Eu – como autor -praticamente só existo nesse nicho”, escreveu ele, que se considera “parte do grupo de autores que – embora invisíveis na imprensa literária – são reconhecidos dentro de escolas e universidades, como tema de estudos, artigos e trabalhos de grupo, sendo convidados como palestrantes”.

A obra de Aleilton é tema de dissertações de mestrado até no Paraná. Já foi estudada na França, na Alemanha, no Canadá e no Paraguai. Ele tem textos publicados em cinco línguas e livros editados na França, Bélgica e Canadá e inspirou tese de doutorado na UFBA.  Seus livros são adotados em várias escolas e seus textos, utilizados em cursos de pós-graduação. Há três anos, um livro seu cai no vestibular da UNEB, na Bahia.  Fez palestras como escritor em cinco universidades francesas – Sorbonne, Nanterre, Toulouse, Rennes e Nantes. Como escritor foi à Hungria e em 2015 irá à Itália, Portugal, Espanha e França. Seu livro Les marques du feu foi adotado no Lycée des Arènes, em Toulouse, onde os alunos fizeram uma exposição de arte (escultura, pintura, gravura, video, quadrinhos etc), tudo baseado nos contos dele.

O depoimento de meu amigo baiano, a meu ver, entrou como uma luva neste texto, depois de feito, lido e analisado por muitos amigos, que funcionam como uma espécie de rede de proteção neste salto de trapézio, formando, como brinca Isabel, minha rede social pessoal e intransferível, ao modelo da adotada também por Evandro da Nóbrega, para quem “Nóbrega burro é como baiano burro: nasce morto”.

Em situação similar à de Aleilton, este amigo ainda me fez o favor de relacionar os colegas Francisco Dantas, romancista de Sergipe, que, embora editado pela Companhia das Letras anos atrás, foi relegado a segundo plano, porque não teve boas vendas, dizem, mas ainda é muito estudado por acadêmicos; Carlos Ribeiro, de 56 anos, romancista baiano, contista, jornalista, professor da UFRB, com várias obras, estudado em mestrado e em doutorado; Aramis Ribeiro Costa, de 64 anos, romancista e contista fabuloso e hoje presidente da Academia de Letras da Bahia; Antonio Brasileiro e  Roberval Pereyr, poetas de Feira de Santana, Bahia, ambos  muito  estudados e adotados nas universidades locais, com vários livros publicados e alguns prêmios. Na mesma situação são ainda encontrados na velha São Salvador meu antigo colega no Jornal do Brasil Florisvaldo Mattos, Myriam Fraga, na opinião de Aleilton, e não tenho como duvidar dele, “esplêndida, talvez a melhor poeta mulher do Brasil atual”, Luís Antônio Cajazeira Ramos, Gláucia Lemos e Fernando da Rocha Peres. Ele chamou atenção também para Claudio Aguiar, pernambucano, atual presidente do Pen Clube, com romances importantes e sem a devida atenção; Iacyr Anderson Freitas, poeta de Juiz de Fora, Minas Gerais; e Evaldo Balbino, outro mineirinho, da UFMG, contista, poeta e ensaísta, que recebeu alguns prêmios. Cito ainda entre escritores que fazem sucesso acadêmico, mas não furaram a muralha que protege a elite literária nacional, o poeta cearense Adriano Espínola, meu companheiro de saraus de sábado na Livraria da Travessa, de Ipanema. E, last but not least, Aleilton relacionou Rinaldo de Fernandes, maranhense radicado na Paraíba, professor da UFPB, meu parceiro na organização da antologia Os cem melhores poetas brasileiros do século, editada em 2001 pela Geração Editorial, de São Paulo. Rinaldo está no meio termo: como crítico e ficcionista é celebrado na academia. Como autor de antologias, já conquistou um lugar ao sol no mercado livreiro. Chico Buarque do Brasil, que inclui um poema meu, chegou a ficar entre os livros mais vendidos no caderno Ideias e Livros, do extinto Jornal do Brasil. Tanto num caso, o circuito acadêmico, quanto no outro, o círculo literário, sem sair do Nordeste, Rinaldo realizou seu sonho de adolescente: “Hoje, aonde eu chego encontro leitores, gente que conhece e lê o meu trabalho”

10 – E chegamos, enfim, ao décimo mandamento: frequentar academias e tirar proveito do convívio dos acadêmicos ou de suas atividades.

Por último, permitam-me dedicar o último mandamento a esta nossa Casa de Coriolano de Medeiros. Acho que as academias, mesmo sendo muito enxovalhadas (como o foi a ABL pelo coleguinha Mário Sérgio Conti na Folha de S.Paulo, por ocasião da posse de Ferreira Gullar), cumprem um papel positivo para a divulgação da literatura e a criação de espaços para a manifestação dos escritores. Prefiro aqui apelar para o depoimento de meu último editor, José Mário Pereira, que me escreveu pontificando: “A Academia Brasileira de Letras edita livros, promove vários seminários durante o ano, desenvolve intercâmbio com universidades estrangeiras e abre seus espaços à visitação do público. O Pen Club também tem se mostrado muito ativo. Idem a Academia Carioca de Letras, que acaba de empossar Martinho da Vila. Isso para lembrar o que acontece no Rio de Janeiro. E poderíamos citar ainda o exemplo de São Paulo, de Pernambuco, da Paraíba e de muitas outras instituições culturais espalhadas pelo País verdadeiramente comprometidas com a divulgação do que se produz de bom na literatura, nas artes, na música, no folclore, etc. Os jovens escritores têm sabido se reunir em blogs, via facebook, e esse entrosamento acaba resultando num melhor conhecimento do que está acontecendo com quem começa a escrever e tem interesse em ver divulgado o seu trabalho”.

Aqui ainda não chegamos a este ponto, mas apoio com entusiasmo a abertura que a Academia Paraibana de Letras está dando para os estudantes conhecerem seu funcionamento. E acredito que isso poderá no futuro contribuir para incentivar jovens e bons autores a produzir, publicar e se aprimorar.

Fonte: http://neumanne.com (10/07/2015)

 

  5 consejos para escribir buenas histórias por Yolanda Reyes

 

1. Voto de irresponsabilidad. No pensarás en el autor que se ganó el último premio ni en las reseñas de esta o de cualquier revista literaria ni mucho menos en las caras de quienes hacen las reseñas. Ahuyentarás también, hasta donde te sea posible y mientras dure el tiempo del relato, cualquier intromisión de rostros conocidos: los hijos, los padres, los novios, los maridos y los amigos a quienes has robado parlamentos, secretos y pasajes enteros de sus vidas se desdibujarán para evitar tu miedo al qué dirán cuando se sientan reflejados, plagiados, burlados o traicionados en la historia.  Ni qué decir de los maestros: les darás recreo a todos los que han pasado por tu vida, a los que se hacen llamar “Maestros” en el mundillo literario y, sobre todo, a ese profesor que todos llevamos dentro y que está listo a sentar cátedra y a buscar moralejas en las vidas ajenas.

2. Voto de clausura. Cerrarás la puerta y colgarás en el picaporte aquel letrero de “no molestar, Do not disturb” que te robaste del hotel cuando viajaste a ese congreso del que regresaste con la firme promesa, siempre rota, de no aceptar nuevas invitaciones para concentrarte en la escritura. Te abstraerás del parloteo de las Doras –aspiradora, licuadora, lavadora– que exigen detergentes y productos, y no te importará cuando te digan que la sopa se está enfriando, mientras tú sigues absorto en esa misma frase que no termina de encajar. Y no saldrás, aunque golpeen con los nudillos en la puerta para decirte algo que parece “muy urgente” y no lo es tanto, comparado con los asuntos que acontecen en ese Tiempo Otro de la historia, al que te entregas…¡y nunca tan bien dicha la palabra!

3. Voto de silencio. Apagarás el celular y olvidarás las citas importantes, para llegar a tiempo a cumplir la única cita inaplazable con esa gente que no existe y que te espera en el relato. Así como solías hacer durante aquellas tardes de la infancia, cuando bastaba conjugar el verbo irregular “digábamos” para que la escoba se convirtiera en tu caballo y la poltrona en nave o en cueva imaginaria, construirás pacientemente las coordenadas de ese “Mundo-Otro” que albergará a tus personajes. Y ellos comenzarán a hablar con voces que son tuyas y que ya no lo serán, si todo sale bien, y dejarás que emerjan otras voces por debajo: voces que se desmienten, se contradicen y se burlan, y que se independizan de tu voz y de los planes que has trazado, hasta que el verbo se haga voz y carne y sean tus personajes quienes se ocupen, poco a poco, del transcurso de la historia.   

4. Voto de humildad. Desconfiarás de la facilidad con la que corren tus dedos por el teclado y sospecharás cuando no tengas dudas o cuando te dé por exclamar “¡qué frase extraordinaria!”, ante un acceso de retórica. Y tendrás siempre a la mano el comando de borrar, para limpiar, podar y descreer de tus facilidades de expresión y de tus supuestas dotes literarias, y te ejercitarás en mantener el cuero duro para no enamorarte de esas páginas que tanto trabajo te costaron y que, de repente, intuyes que le sobran a la historia. Y no tendrás clemencia ni piedad para volver a comenzar siempre que sea necesario. Trabajarás, trabajarás, trabajarás, hasta que ese Digábamos pueda sostenerse sin tu ayuda y recordarás que tu destino es desaparecer en lo que escribes, y que ya no estarás ahí, para indicar, por encima del hombro a tus lectores, que lean bien: que así no era, cuando lo escrito, escrito quede.   

    

5. Voto de pobreza. (¡El más difícil!). Si bien es lícito y completamente deseable vivir de la escritura, evitarás caer en la tentación de vender ficciones por encargo o de recibir anticipos por una buena idea que no sabes –porque nunca se sabe, y en esto poco ayuda la experiencia– si te apasionará o si se dejará llevar hasta el final. Y aprenderás a descubrir las diferencias entre valor y precio, o entre editor y publicador, y renovarás tus votos de silencio cuando te pidan sacar del clóset un manuscrito que por alguna razón no has hecho público. Y no te importará  –o sí, claro que sí te importará– que el “mercado editorial” pase de ti y que nadie te nombre en la próxima feria y en la siguiente y en la otra. Y aunque te duela, (pero el dolor a veces ayuda a la escritura), lo verás como una seña de que te has quedado solo, con todo el tiempo por delante para escribir; solo por fin, en ese mar de dudas de tu historia, donde nada de lo que digan los demás podrá ayudar: ni las vidas de santos ni las de varones ilustres…ni  mucho menos estas listas de consejos en las no cree siquiera quien acaba de escribirlas.

- Conselho literário
- O escritor se entrevista
- Decálogo do perfeito contista

- Decálogo do escritor iniciante