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Curiosidade

O fado é brasileiro

Euclides Dourado

Se o que nasce no Brasil é brasileiro é o caso do fado, que se criou por aqui a partir da chegada da Coroa Portuguesa em 1808. Por esta época o Rio de Janeiro era uma pequena província que, de um dia para o outro, teve que incorporar o séqüito imperial composto de 15 mil portugueses da mais alta linhagem. Não é difícil imaginar o impacto causado na cidade com a chegada repentina desse imenso cortejo, pois não foi apenas a mudança de uma população. Junto com a aristocracia real vieram, também, a imprensa com suas máquinas pesadíssimas, um banco e uma enorme biblioteca real, só para citar alguns itens mais relevantes.

Evidentemente os portugueses trouxeram suas violas, que passaram a ser tocadas no que mais tarde vieram a ser os botecos cariocas. E o que tocavam e cantavam? A saudade da terrinha que foram obrigados a deixar às pressas, fugitivos da guerra empreendida por Napoleão. Não vieram à passeio, nem sabiam quando podiam voltar à Lisboa, uma grande metrópole européia. O jeito foi fazer do Rio de Janeiro uma metrópole mais ou menos confortável aos gostos da época. E assim, às pressas, o Rio transformou-se no que hoje chamamos de “cidade mundial”.

Claro que o Rio não contava com nenhuma infra-estrutura urbana para acomodar toda essa gente. Mas, isso é outra história; é bem possível que o jeitinho brasileiro aliado a conveniência e a necessidade lusitana tenha nascido aí. Para tudo se dá um jeito, e para afastar o tédio de uma vida longe de casa, sem os confortos de uma grande cidade, nada melhor do que se embriagar com uma cachaça ou bagaceira e tocar numa viola, saudosamente, as belezas e amores deixados para trás em terras longínquas.

A duração desse reinado fincado na colônia foi de 13 anos. Quando Dom João VI teve que voltar à Lisboa em abril de 1821, uma parte da comitiva que veio em 1808 ficou por aqui mesmo. Mas, boa parte da classe dirigente voltou junto com o Rei. Os que aqui ficaram adquiriram, juntos com os africanos e brasileiros,  outros gostos musicais, preferiram um ritmo mais alegre, talvez uma batucada e o fado, com sua melancolia, não poderia progredir mesmo entre eles. Mas, curiosamente, os que retornaram à Portugal tomaram gosto por aquele canto triste cultivado na colônia, e levaram-no à terra natal, transformando o fado em canção nacional. É o que indica as pesquisas realizadas por Câmara Cascudo.

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