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Grandes entrevistas históricas

Al Capone

Entrevistada conduzida por Cornelius Vanderbilt Jr. E publicada na revista Liberty, de 17/10/1931 e republicada no livro ALTMAN, Fábio (org.). A arte da entrevista. São Paulo: Scritta, 1995.

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Al (Alphonse) Capone (1899-1947), o legendário gângster americano, nasceu no bairro de Brooklin, em Nova Iorque. Ainda adolescente, no inicio do século Capone aliou-se à gangue do temido John Torrio. Nesta época trabalhou como leão-de-chácara de restaurante, casou-se com uma irlandesa e seguiu Torrio quando ele foi promovido para Chicago. Em 1924, com a morte de seu patrão, Capone assumiu o controle da organização criminosa. Eliminou os grupos inimigos e fez fortuna com o contrabando de bebidas durante a Lei Seca. Figura popular do submundo de Chicago, Capone fazia doações às entidades assistenciais, fornecia sopa aos pobres e dava festas para as famílias pobres do bairro de Little Italy. Em outubro de 1931, o gângster foi condenado a 11 anos de cadeia por sonegação de impostos. Vagou por diversas penitenciárias, inclusive a célebre Alcatraz, na baía de São Francisco, onde seria humilhado e atacado pelos outros detentos. Em 1940, quando foi liberado, Al Capone era uma figura patética e doente, vítima da neurosífilis. Isolado, e já sem poder, ele passou a viver com sua mulher e a família em uma mansão de Miami, onde morreria aos 48 anos de idade.

Cornelins Vanderbilt Jr. (1898-1974), membro de uma rica dinastia americana do ramo financeiro, iniciou sua carreira como repórter do The New York Herald. Nos anos 30, ele se tornou repórter especial da revista Liberty, encarregado das grandes entrevistas da publicação. Vanderbilt realizou perfis de Mussollini, do papa Pio XI, Stalin e Hitler, entre outros.

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Nossa gente tem que se manter unida.


Estávamos sentados, eu e Al Capone, em um escritório espaçoso no quarto andar do Lexington Hotel na rua 22 com a Michigan, em Chicago. Já passavam das quatro da tarde. Era quinta-feira, 27 de agosto. Ano de 1931.


Lá embaixo, nas calçadas, policiais fardados e à paisana. Todo mundo sabia que eles estavam nas ruas. Desbarataram dezenas de pontos de gângsters nas últimas 24 horas. Deram batidas em hotéis e apartamentos. O que Pat Roche mais queria no mundo era o rei. E Pat era o promotor público.


Alguém tinha sido sequestrado. Seu nome era Lynch. Ele publicava um jornal com informações confidenciais sobre corridas de cavalos. Os boatos diziam que os sequestradores exigiam 250 milhas pela sua libertação. Achando que Al Capone talvez soubesse alguma coisa sobre isso, a polícia de Chicago pediu ajuda ao rei para encontrar Lynch. Sua Majestade concordou graciosamente e, logo depois, Lynch foi encontrado sem pagar um tostão de resgate.


Al Capone não tolera certos tipos de negócios ilícitos, e o sequestro é um deles. Ele reclinou-se um pouco mais na confortável cadeira de escritório e acendeu, pela décima sétima vez, o charuto Tampa. Nós já estávamos conversando há mais de uma hora.

Esse inverno vai ser terrível, continuou ele. Nós temos que abrir a carteira para sobreviver. A gente não pode esperar pelo Congresso, pelo senhor Hoover ou por qualquer outra pessoa. Nós temos que ajudar a manter as barrigas cheias e os corpos aquecidos. Se não fizermos isso, o nosso estilo de vida vai fracassar. O senhor sabe por que os Estados Unidos estão à beira da maior convulsão social da sua história? O bolchevismo está batendo à nossa porta. Não podemos deixar que ele entre. Nós temos que nos organizar contra ele, ficar lado a lado. Precisamos de fundos para combater a fome.

Será que eu estava ouvindo direito? Será que eu estava no meu juizo perfeito? Ali, na minha frente, perto da sacada da janela, atrás de uma grande mesa de teca, sentava-se o mais temido de todos os escroques. Muito mais alto do que eu esperava, e mais forte; um sujeito com um aperto de mão fortíssimo, uma janela com uma sacada digna de um banqueiro e o sorriso de vencedor característico de todas as raças latinas. E, mesmo assim, ao invés do tipo de conversa que se espera de gente como ele, Capone fazia um discurso como eu nunca tivera a oportunidade de ouvir. Ele continuou:

Temos que manter os Estados Unidos inteiros, seguros e intactos. Se as máquinas tirarem os empregos dos trabalhadores, eles vão precisar encontrar outra coisa para fazer. Talvez voltem a trabalhar a terra. Mas temos que olhar por eles enquanto acontece a mudança. Nós temos que mantê-los afastados da literatura e das artimanhas dos bolchevistas; devemos cuidar para que a cabeça deles continue saudável. Porque não importa onde nasceram, eles agora são americanos.

Os garotos anunciavam as edições extras lá embaixo. Al Brown, como gosta de ser chamado, levantou-se da cadeira e andou para a esquerda. Tirou um par de binóculos de um armário, colocou-os diante dos olhos e leu devagar a manchete de um vespertino: "Pat Roche confiante na rápida prisão de Capone:” Abriu um sorriso largo. "O Pat é um cara legal", disse com calma, só que ele gosta de ver o nome dele nos jornais com muita freqüência. E, pensei, "se o Pat falasse sério sobre prender você, ele podia fazer isso em um minuto”.

Ele leu meu pensamento: Eu acho que sou como o senhor, senhor Vanderbilt: a multidão prefere me culpar pelo que não fiz do que me elogiar pelo que fiz de bom. A turma da imprensa está sempre atrás de mim. Parece que eu sou culpado por todos os crimes que acontecem neste país. O senhor deve achar que tenho poderes ilimitados e uma carteira recheada de dinheiro. Eu tenho poder, sim, mas o talão de cheques sofre com estes tempos difíceis tanto quanto o de qualquer um. A minha folha de pagamento continua grande, mas os lucros diminuíram. O senhor ia ficar surpreso com o tipo de cara de quem eu já tive que cuidar.

Eu podia responder que nada iria me deixar surpreso, mas preferi ficar quieto. Al Capone não é um tipo comum de gângster que subiu na vida. Ele é um organizador e um político capaz. Aos 32 anos, ele tem a máquina mais eficiente que este país já viu. É tão poderoso em Chicago quanto qualquer chefão da Tammany (1) já o foi em Nova Iorque. Para tomar conta de todos os seus negócios, ele tem uma folha de pagamento de mais de duzentos mil dólares por semana. Até o momento, a máquina de Capone não foi superada. Como pode um homem jovem como ele manter inteira o tipo de organização que ele construiu?, perguntei-lhe. A resposta veio sem hesitação:

As pessoas não respeitam nada hoje em dia. Houve um tempo em que a virtude, a honra, a verdade e a lei eram colocadas em um pedestal. Nossos filhos eram educados para respeitar certas coisas. A guerra acabou. Tivemos quase 12 anos para nos reerguer e veja só que bagunça nós fizemos! Os legisladores da guerra aprovaram a 18ª emenda. Hoje em dia as pessoas bebem mais álcool em bares clandestinos do que se bebeu em cinco anos em todos os Estados Unidos antes de 1917. Essa é a resposta delas ao respeito à lei.
Mesmo assim, a maioria dessas pessoas não é ruim. Não se pode classificá-las como criminosas, embora, tecnicamente, elas sejam.
O sentimento de que a Lei Seca é responsável por muitos dos nossos problemas está crescendo. Mas o número de violadores da lei também cresce. Há 16 anos, eu vim para Chicago com quarenta dólares no bolso. Três anos depois, eu estava casado. Meu filho está com 12 anos.Ainda sou casado e amo muito a minha mulher. A gente tinha que se sustentar. Eu era jovem e achava que precisava de mais do que isso. Não acreditava em proibir as pessoas de ter o que elas queriam. Achava a Lei Seca uma lei injusta e ainda acho. Seja como for, eu segui o caminho natural do contrabando. E acho que vou continuar até que a lei seja revogada.


- Então o senhor acha que ela vai ser revogada?

É claro, foi a resposta rápida. E quando for, eu não vou ficar mal porque tenho outros negócios. O contrabando de bebidas, senhor Vanderbilt, constitui menos de 35% da minha renda. A declaração seguinte caiu como uma bomba: Eu acho que talvez o senhor Hoover faça uma sugestão ao Congresso na sua mensagem de dezembro para que os legisladores da nação aumentem a percentagem de álcool nas bebidas. Essa será a sua melhor cartada para receber nova indicação. Além disso, o senhor sabe que ele sempre se referiu à Lei Volstead como uma nobre experiência. Mas com o tempo, nem mesmo essa mudança vai deixar as pessoas satisfeitas. Elas vão exigir a volta das bebidas normais; e se fizerem muita pressão vão derrotar a Liga Antibares e os industriais que prosperaram e enriqueceram às custas da sede. A lei vai ser revogada. Não vai haver mais necessidade de segredo. Vou ser poupado de uma folha de pagamento enorme. Mas enquanto a lei vigorar e as pessoas continuarem a violá-la, haverá lugar para pessoas como eu, que acham que essa lei nos toma responsáveis pela manutenção de um canal aberto. As pessoas que não respeitam nada detestam o medo. Por isso construí minha organização sobre o medo. Aqueles que trabalham comigo não têm medo de nada. Os que trabalham para mim são leais, não por causa do pagamento mas porque sabem o que pode acontecer se eles não forem. O governo dos Estados Unidos é muito mole com os violadores da lei e diz que vai mandá-los para a cadeia se eles desafiarem a lei. Os violadores riem e arrumam bons advogados. Só os que não têm dinheiro são punidos. Mas o público em geral não tem mais medo de uma prisão do governo do que eu de Pat Rache. As pessoas acham graça das coisas que ficam sabendo. Elas gostam de fazer piadas e rir dessas coisas. Quando tem uma batida em um bar clandestino, pouca gente fica histérica; a maioria está tranqüila. Por outro lado, a senhor acha que algum dos seus amigos ia achar graça se tivesse medo de ser levado para um passeio sem volta?

- Eu ficaria com medo? Essa pergunta eu podia responder e rápido. Na parede atrás do rei estava um retrato de Lincoln em uma moldura barata. Ele parecia sorrir benevolente. Sobre a mesa principal, havia um peso de papel de bronze da estátua do Great Emancipator do Lincoln Memorial. Uma cópia do discurso de Gettysburg enfeitava uma outra parte da parede. Era fácil perceber que Lincoln era o americano mais respeitado por Capone. Perguntei o que ele achava das eleições de 1932.

Os democratas vão ser eleitos em uma votação recorde, declarou. O povo pensa que vai se livrar da depressão assim. Eu não sei muita coisa sobre finanças mundiais, mas não acho que a depressão vai acabar de repente. Acho que vai demorar algum tempo. Uma série de circunstâncias vai melhorar a situação, se não deixarmos os comunistas fazerem isso primeiro. Na minha modesta opinião, o Owen Young é o candidato que tem mais chances. Ele é um cara formidável, e eles devem deixar que ele ganhe. Senão o Roosevelt vai ganhar, e eu acho que ele é bastante sensato para colocar o Young como secretário do Tesouro. O Roosevelt é um cara legal, mas eu acho que a saúde dele não anda muito boa, e um líder tem que ter boa saúde.

A ingenuidade de Capone era fascinante. Ele não fazia nada para chamar a atenção, e tenho certeza de que não estava tentando se mostrar. Quatro dias antes, eu estava no meu rancho em Nevada. Meu secretário siciliano, Peter Marisca, me trouxe um telegrama entregue naquele dia. Ele dizia: "O encontro está marcado em Chicago, quarta-feira de manhã, 11h. Ligue para meu escritório quando chegar". Estava assinado por um advogado do meio-oeste muito conhecido. Só tive tempo para fazer as malas e pegar um trem para o leste bem tarde da noite. Ao chegar em Chicago na quarta-feira, li sobre o seqüestro de Lynch, o editor, e sobre o convite da polícia de Chicago para que Capone ajudasse. Mesmo assim, liguei para o advogado que me enviou o telegrama. Capone estava consultando o seu conselho e não podia ver ninguém. No final daquela tarde, eu comprei um jornal matutino.As manchetes falavam sobre a volta de Lynch para casa e sobre a ordem de prisão de Pat Roche para Capone. Insinuava-se que o rei sabia demais sobre as razões para o súbito seqüestro de Lynch.Todas as esperanças de encontrar Capone se desfizeram no mesmo instante. Estava com gripe e fui para a cama. Na quinta-feira de manhã, cedo, havia uma mensagem telefônica para mim: "O secretário do senhor Al Capone manda avisar que o senhor Vanderbilt pode ir ao escritório do senhor Capone às três da tarde." Peter Marisca não entregou a mensagem porque achou que alguém estava fazendo uma brincadeira! Ainda assim, ele comentou o fato naquele dia durante o almoço no Drake, e eu quase queimei a garganta com a sopa de tartaruga. E assim cheguei ao hotel depois de passar por um cordão de policiais e agentes do governo. No saguão do Lexington, nós pegamos o elevador com um ascensorista negro mal-humorado. No corredor, um rapaz jovem e forte estava esperando. Ele vestia um terno verde tão claro como eu nunca vira igual. E não perdeu tempo me perguntando quem eu queria ver.

Eu tenho um encontro com o senhor Brown, eu disse.

"Esse cara está com o senhor?" Ele fez sinal indicando o Peter. Eu disse que estava. Seguimos pelo corredor e entramos em uma suíte particular. Peter ficou do lado de fora falando sua língua nativa com outros sicilianos. Voltei a prestar atenção na entrevista enquanto Capone me fazia a seguinte pergunta: Nas suas conversas com homens importantes do mundo inteiro, dizia, qual a solução que eles sugerem para a atual depressão?

Para ser franco, disse eu, já ouvi tantas soluções, que eu achei que eles não sabiam de nada. Acho que todos eles estão confusos.

"Não é que eles estejam confusos, disse Al. É que eles não conseguem se reunir e chegar a uma solução. Falta organização concentrada. Não é estranho que nos falte organização neste momento, mais do que em qualquer outro período da história, mesmo tendo um dos melhores organizadores do mundo como chefe do executivo? O mundo foi transformado em ações.Toda vez que um cara tinha uma idéia nova, eles aumentavam o capital social - dando muito dinheiro para eles e muitas ações para os acionistas. Os ricos ficaram mais ricos, e os acionistas especularam com as ações. Alguns descobriram que valia a pena manter uma fábrica de boatos em funcionamento. Outros fizeram com que as mulheres se interessassem pelo jogo. O mundo ficou selvagem. Aconteceram muitas fusões. Quanto mais esperto fosse um cara para transformar ações em dinheiro, mais importantes se tornavam os seus títulos de vice-presidente. Muitos desses caras, que deviam estar atrás das grades por roubar ações, subiram do dia para a noite naquele mundo de prosperidade. Todos os nossos projetos de vida se tornaram confusos. Os banqueiros desonestos, que tiram o dinheiro suado das pessoas em troca de ações que eles sabem que não têm valor nenhum, merecem estar em uma penitenciária muito mais do que o homem pobre que rouba para sustentar a mulher e os filhos. Quando eu morei na Flórida, um amigo do editor de reputação duvidosa de um jornal estava dirigindo um banco. Ele despejou uma porção de ações sem valor sobre pessoas honestas. Um dia o banco dele faliu. Eu já estava agradecendo porque ele ia receber o que merecia, quando soube de outra jogada que ia fazer um arrombamento de cofre parecer brincadeira de criança. O editor desonesto e o banqueiro estavam recomendando aos depositantes falidos que colocassem o dinheiro deles no banco de um outro amigo, recebendo trinta centavos por dólar. Muitos fizeram isso e, uns sessenta dias depois, o banco também desmoronou como um castelo de cartas. Você acha que aqueles banqueiros foram para a cadeia? Não foram não. Eles estão entre os cidadãos mais respeitados da Flórida. Eles são tão ruins quanto os políticos corruptos! É claro que eu sei quem eles são. Há muito tempo sou eu quem paga pelas roupas e pela comida deles. Antes de ser contrabandista, eu não sabia quantos corruptos usavam roupas caras e falavam de forma afetada. Quando fui detido outro dia por sonegação de impostos federais, quase que eu me meti na maior confusão. Alguns representantes do governo queriam fazer um acordo comigo. Se eu me declarasse culpado e fosse para a cadeia por dois anos e meio, eles iam retirar as acusações contra mim. Eu teria que pagar um bom dinheiro por isso, mas achei que seria melhor do que o desgaste de um julgamento longo. Mas, alguns dias antes de fechar o acordo, eu soube que alguém iria para a Corte de Apelação e que eu ia ficar em Leavenworth por dez anos e meio. Por isso eu achei que podia ser tão inteligente quanto eles, me declarei inocente e, quando for a hora, nós vamos ver o que vai acontecer. Há pouco tempo, um dos jornais de Chicago dizia que tinham descoberto que um fabricante milionário de lá devia uns 55 mil dólares de impostos sobre propriedade privada. Um dia depois, foi publicado que essa informação estava errada, e que a situação tinha sido esclarecida. Se o governo do senhor Hoover quiser que eu dê explicações sobre os meus impostos federais, vou ficar muito satisfeito em fazê-lo. Acho que eu podia tornar as coisas um pouco mais claras para ele e para muitos outros representantes do governo, e toda vez que eles precisarem falar sobre qualquer assunto sensacionalista, eu vou estar pronto para fornecer-lhes um. O suborno, continuou ele, é uma máxima na vida americana hoje em dia. É a lei onde nenhuma outra lei é obedecida. Ele está corrompendo este país. Dá para contar nos dedos os legisladores honestos de qualquer cidade. Os de Chicago podem ser contados em uma mão! A virtude, a honra, a verdade e a lei desapareceram da nossa vida. Somos todos uns espertalhões. A gente gosta de fazer coisas erradas e se safar. E se não conseguimos ganhar a vida com uma profissão honesta, vamos ganhar dinheiro de outra maneira.

Estava ficando tarde. A luz avermelhada do por-do-sol tornava mais vivas as extravagantes paredes pintadas de vermelho e dourado. Ela alegrava as persianas vermelho-escuro. A grande cabeça de alce na parede; os peixes e os outros animais empalhados; o pequeno rifle do exército - tudo parecia resplandecente na última explosão de glória do fim de tarde. O fonógrafo grande e antigo talvez devesse se abrir e tocar alguma marcha triunfal.

O lar é o nosso aliado mais importante, observou Capone. Depois que toda essa loucura que o mundo está enfrentando passar, a gente vai se dar conta disso, enquanto nação. Quanto mais forte forem os nossos lares, mais forte será a nação. Quando o inimigo se aproxima da nossa costa, nós a defendemos. Quando o inimigo entra nas nossas casas, nós o derrotamos. Nós devíamos humilhar em praça pública os invasores de lares, como um exemplo para os outros da mesma laia. Reno, a sua cidade natal, senhor Vanderbilt, não seria tão necessária se mais homens protegessem o próprio lar. Quando a Lei Seca for revogada, menos gente vai apoiar o controle de natalidade. Sem o controle de natalidade, os Estados Unidos podem se tomar tão fortes quanto a Itália. Com um Mussolini americano, nós podemos conquistar o mundo.

A porta se abriu silenciosamente atrás de mim. Peter e o secretário do senhor Brown ainda estavam conversando. Al cumprimentou Peter e eles trocaram algumas palavras em dialeto siciliano. Lembre-se, senhor Vanderbilt, nossa gente tem que se unir neste inverno, repetiu ele. No inverno passado, eu dei comida para 350 mil pessoas por dia aqui em Chicago. Este inverno vai ser pior. Acho que nós falamos a mesma língua e somos dois patriotas. Não queremos que eles derrubem as fundações desta grande terra. A gente tem que lutar para continuar livre. Boa sorte. Prazer em conhecê-lo.

A porta de ferro do escritório se fechou. A entrevista mais incrível que eu já fizera estava terminada.
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Nota:
(1) A organização central do Partido Democrata em Tammany Hall, em Nova Iorque, acusada de corrupção

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