Fabio Shiva
Entrevista publicada no site www.imagine Book.com.br, em maiso de 2015
1) Você começa a escrever com um vislumbre do clima, atmosfera, ambiente, ou tudo acontece no "escrever" mesmo?
FS: Tento não criar nenhum obstáculo ao processo da escrita, que já é penoso por si... Se você só escreve quando está no ambiente ideal, então dificilmente poderá ser um escritor. Meu objetivo é conseguir escrever em qualquer situação, independente das circunstâncias externas. E tenho obtido alguns êxitos nesse esforço. Lembro especificamente do prefácio que fiz para o livro “Os Céus de Van Gogh”, do amigo Thiago Prada (Caligo Editora), que foi bastante elogiado. Escrevi esse texto em um momento emocional muito difícil, mas não queria deixar de cumprir o meu prazo, coisa que considero sagrada para um escritor.
2) Há escritores que reescrevem sempre o mesmo livro? Temendo isto, você muda de gênero como troca de camisa?
FS: Sim, certamente há escritores desse tipo, que seguem sempre a mesma fórmula. Não é o meu caso, definitivamente. Em cada livro busco transcender algum limite meu. Não é preciso cair no extremo oposto. Mas acredito que a literatura deve desafiar tanto o autor quanto o leitor. Se não for assim, melhor assistir a algum seriado na tevê.
3) Seus julgamentos de valor são influenciados pelo calor da hora ou você mantém um distanciamento crítico?
FS: Procuro evitar julgamentos precipitados. Sempre reflito sobre o que me incomoda, pois sei que ali existe algum aprendizado sobre mim mesmo. A vida é uma aventura da consciência: não vemos o mundo como ele é, mas como somos.
4) Sentimentos negativos como ódio, ciúme, inveja, vingança são motores bem regulados para a criação de uma obra?
FS: Depende do caso. Eu considero essas motivações como eficazes, porém imaturas. A literatura pode ser catarse de sentimentos negativos, mas também pode ser muito mais: libertação e transcendência. Busco uma literatura que me transforme em uma pessoa melhor – e, com sorte, ao leitor também!
5) O que faz quando sente que uma personagem lhe escapa?
FS: Deixo que vá para onde quiser!
6) Quando percebe, porém, que a personagem está fraca, que as ideias estão murchas, você recomeça ou adota a ironia com relação a elas?
FS: Se não está bom, reescrevo até ficar minimamente satisfeito. Totalmente satisfeito com um texto meu nunca fiquei, nem espero ficar. Mas definitivamente não tenho pena de rasgar tudo e recomeçar. Se o texto parece fraco ao autor, será no mínimo um castigo para o leitor. Ninguém merece um escritor preguiçoso!
7) A técnica é tudo, nada, meio caminho andado? Aliás com quem aprendeu?
FS: A técnica não é tudo, mas é essencial. Aprendi e aprendo com cada autor que leio, tanto os gênios quanto os chinfrins.
8) Escrever é só inspiração?
FS: Não. Gosto muito de uma fala do Neil Gaiman a respeito: se você só escreve quando está inspirado, poderá ser um poeta, mas nunca um escritor. Um escritor precisa aprender a cumprir prazos e metas. Aprecio muito também a tirada do Henfil: a inspiração é um Doberman babando em seu cangote. Ou seja, a necessidade é a mãe da inspiração. Por último, mas não menos importante, sigo a máxima do Sinclair Lewis: escrever é a arte de sentar o traseiro em uma cadeira!
9) Quando atacado pela preguiça, como você consegue combatê-la?
FS: Com muito esforço e determinação. Ou então com muita paciência!
10) Quando inicia um texto sabe antecipadamente seu conteúdo?
FS: Geralmente tenho só uma noção, que vai ficando mais clara à medida que o texto avança. Mais uma vez uma citação fala melhor por mim: “Escrever é como dirigir à noite. Você não consegue ver além dos seus faróis, mas você faz a viagem mesmo assim.“ (E.L. Doctorow)
11) Tem algum escritor em que se espelha?
FS: Muitos. Mas me identifico especialmente com Anthony Burgess, que em minha opinião poderia escrever o livro que quisesse, e por isso escreveu os livros que só ele poderia!
12) Em caso de dúvida, impasse, descrença, você se aconselha com quem? (amigos, editor, leitor beta, etc)
FS: Confio muito na opinião de alguns poucos amigos, dentre os quais incluo a minha editora Bia Machado (Caligo Editora). Minha esposa Fabíola é outra conselheira valiosa. Também gosto muito de travar contato com a opinião de leitores beta, é algo que soma muito no resultado final. Mas meu grande conselheiro é meu guru, Paramahansa Yogananda, de quem recebo inspirações intuitivas durante a meditação. Jai Guru!
13) Para você como é escrever?
FS: Mais ou menos como definiu Hermann Hesse: é atirar-se em pleno mar revolto dentro de um pequeno barco, e enfrentar a tempestade!
14) O Imagine Book agradece a sua atenção e disponibilidade, sucesso sempre!
FS: Eu que agradeço a atenção e o interesse! Convido todos a visitarem a página de meu primeiro romance, O Sincronicídio, no site da Caligo Editora (http://caligoeditora.com/catalogo/sincris/) e no Facebook (https://www.facebook.com/sincronicidio). E conheçam também o “Manifesto”, disponível online no site dos Mensageiros do Vento (http://www.mensageirosdovento.com.br/Manifesto.html)
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