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Grandes entrevistas
                          Fernando Namora
Entrevista conduzida por Cremilda Araújo Medina, para compor seu livro: Viagem à literatura portuguesa contemporânea. Rio de Janeiro: Nórdica, 1983.

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De todos os escritores contemporâneos portugueses, Fernando Namora é o mais conhecido no Brasil. Publicado primeiramente pela editora Globo, de Porto Alegre e, posteriormente, pela Nórdica, do Rio de Janeiro, os livros do romancista têm estado ao acesso de público brasileiro como nenhum outro autor de Portugal. Tanto que O rio triste, romance que saiu em 1982, foi lançado primeiro no Brasil e só depois em Portugal. Namora, que conheço desde 1966, se entrega com espontaneidade a um diálogo fácil com esta terra que já visitou mais de uma vez.

- De uma vez por todas, como você define a questão de sua escrita ser a mais representativa do neo-realismo em Portugal?

Eu tenho me insurgido sempre contra as etiquetas. Você foi um neo-realista? Foi e deixou de ser? O neo-realismo permitia-lhe maleabilidade em relação a outros movimentos que, entretanto, fossem surgindo? E, esses movimentos alteravam, enriqueciam a rigidez neo-realista? Etc., etc. Eu tenho de aceitar em definitivo que fui, ou sou, ou serei um escritor neo-realista, visto eu tantas vezes fui catalogado nesse movimento literário. Acabamos por nos resignar às chancelas que nos são impostas. Em todo o caso, é preciso contrapor a esse conceito – não é bem retificar, é contrapor mesmo – outro conceito muito mais justo e rigoroso e, simultaneamente, mais elástico. É o conceito de geração. Cada geração é irrigada de um certo número de solicitações, certo número de preocupações, está incrustada em um certo contexto. Cada geração vive no seu tempo e cada tempo lhe pede uma determinada maneira de se exprimir. É evidente que minha geração não poderia ser uma exceção a esta regra e mostrou interesse por certa temática e determinadas linguagens como qualquer geração, localizada em qualquer tempo histórico e, por conseguinte, temático.

- E o que sua geração literária encontrou à volta ?

Nossa geração veio encontrar, por um lado, uma literatura acadêmica que tinha perdido o contato com a realidade portuguesa (isto lá por fins dos anos 1930, inicio dos anos 1940); e, por outro lado, uma literatura aglutinada ao movimento “presencista” – em continuidade ao Modernismo português. Tinha, sem dúvida, alguma coisa a acrescentar e fundamentalmente tentava abrir, do ponto de vista cultural, uma janela para a Europa. Era a literatura que estava muito interessada na pesquisa interior do indivíduo, portanto muito carregada de subjetividade, mas talvez a atraísse mesmo a pesquisa dos aspectos extravagantes e mórbidos da personalidade humana. Quer dizer que nos surgia a nós, geração nova, de um quadro em que a realidade portuguesa escapava nesta tentativa de europeização da nossa cultural. A Presença e sua geração tentava nos pôr em dia com a cultura dominante no mundo europeu. Mas, nessa tentativa, talvez esquecesse o seu próprio contexto. Enfim, todo o inventário da realidade portuguesa estava por fazer e, além disso, as preocupações tão prementes, não só do estado social do país como da imobilidade perante grandes acontecimentos como a última Guerra e todas as suas seqüelas, não se refletiam na nossa literatura.

- Havia também um determinado alinhamento político que convocasse os escritores de sua geração para o neo-realismo:

Havia. Mas era mais por coincidência que por convocação. Portugal estava sob uma ditadura, com tudo aquilo que ela representa para o país e para as várias gerações de intelectuais. Mas estou convencido de que as nossas preocupações sociais continuaram a existir, mesmo que o regime político não tivesse essas características. Porque, repare, em toda a parte era essa a literatura que estava a se impor: nos Estados Unidos, na França, nos países nórdicos e na Itália. Todos esses elementos devem ter atuado e se exacerbado mutuamente, de maneira que a literatura tinha de ser aquela e não outra. Isto visto da forma mais desapaixonada possível.

- E depois, o movimento passou por várias mutações?

Claro, as coisas vão mudando, o mundo muda antes de mudarmos, e, é evidente, as preocupações não são sempre as mesmas. Ora, justamente porque não havia uma convenção rígida no neo-realismo, como mais tarde se veio a dizer (discordo inteiramente disso), surgiram nos nomes mais representativos da literatura tendências que revelaram a ausência de qualquer rigorosismo. Isto nos autores verdadeiramente representativos, porque havia muitos outros apenas subsidiários.

- Mas esses noves representativos, por exemplo?

Desde um Carlos de Oliveira. Tanto ele como Alves Redol apresentam um tipo de literatura onde era visível a acentuação do social. Carlos de Oliveira sofreu, no entanto, uma evolução não só na temática como, sobretudo, na linguagem literária, na arquitetura dos livros, do estilo. O caso do próprio Redol: se houvesse escritor com ousadia, que se arriscou em livros de difícil composição, foi ele. Sempre mostrava a preocupação coma não estagnação. Outro caso típico – Vergílio Ferreira, que alguns consideram herético em relação às origens neo-realistas. Não há heresia nenhuma, há apenas uma evolução consoante o seu tempo. E quem diz estes escritores, diz outros.

- Você rejeita, então, os modismos literários...

A minha geração nunca se interessou por modas, por chancelas literárias. Intrinsecamente eu sou solicitado a escrever de uma certa maneira, tenho a consciência literária, artesanal, de que, cada livro, cada tema, me pede um determinado tratamento. Procurei sempre a evolução natural de qualquer pessoa com suscetibilidade às mudanças.

- E a definição pela prosa em um país tão inclinado para a poesia?

Os fatos não correspondem à sua pergunta. Eu como quase todo o escritor português comecei peal poesia, mas reconheço que sou fundamentalmente um prosador. Isto não quer dizer que a poesia não tenha continuado a tentar-me. Não só comecei com um livrinho de versos como continuei a publicar alguns deles e, olhe, ainda hoje estava às voltas com um poema. Escrevo poesia de vez em quando, porque me apetece, parece ser a linguagem mais apropriada àquilo eu se passa dentro de mim. Assim como em outras épocas me apetece pintar. Mas reconheço que basilarmente terei sobretudo a vocação ficcionista. Não só ficção, porque tenho escrito ensaio também, de acordo como o que me dá vontade de escrever.

- Mas o que o desafia mais é o romance, não?

Deve ser. E digo deve, porque tenho me interrogado sobre isso durante bons anos, minha expressão predileta foi a ficcional. Pareceu-me que s assuntos que tinha a transmitir o seriam de maneira mais autêntica e profunda no romance. Depois, pouco a pouco tenho tido mais dificuldade na ficção. Mas talvez esta dificuldade tenha surgido em concomitância com as minhas exigências como ficcionista. Fui intervalando os romances, entre um e outro o intervalo é cada vez maior. Nos últimos chega a dez anos. Isto não dever acontecer ao acaso. Talvez o romance seja, para mim, uma expressão cada vez mais complexa. Talvez as inibições da consciência do desafio estejam crescendo de volume intensidade. Apesar de que o último romance que escrevi aconteceu em um tempo curto. Por outro lado, no entanto, foi um romance de quinze anos de gestação interior. O tema apresentava-se não sempre da mesma maneira – era retificado, enriquecido... isso me permitiu a rapidez: quando comecei a escrever, já estava amadurecido.

- Esse romance, segundo já me contou no passado, traz toda uma oficina literária diferente...

Eu suponho que sim. Tem muito a ver com meus romances anteriores também, sobretudo o mundo romanesco. Mas simultaneamente é diferente na sua arquitetura, que é muita mais audaciosa. As personagens se transformam em narradores. O livro é narrado por varias personagens. E à medida que as personagens vão assumindo a responsabilidade da narração, o próprio leitor vai sendo aliciado a ter também sua parte de cumplicidade. É por isso que tenho pensado que Resposta à Matilde deve ter sido o livro que me foi necessário escrever para agora sair este. O Exercício literário indispensável.

- Você está considerando também o caminho evolutivo de seu leitor?

Sem dúvida nenhuma. /todos nós sabemos, é hoje um lugar comum, que a literatura dos tempos mais recentes exige mais do leitor e confia mais nele. O leitor deixou de ser parte relativamente passiva (na realidade, nunca o foi até mesmo quando o autor julgava assim). A criação literária é a soma do escrever e do ler, sem a leitura não existe o fenômeno literatura, porque não se cumpre todo o seu destino. Uma obra literária se revela tal qual uma radiografia que passa do negativo para o positivo e só então é totalmente descoberta. O leitor é parte ativíssima. A literatura moderna tem consciência disso, daí ser menos facilitada para se tornar mais viva e mais rica, com a participação do leitor.

- Mas seu romance não é apenas realização técnica, é?

O livro tem uma ambição desmedida. É tudo isso – o romance da própria escrita, o romance do romance em que uma das personagens é um criador e vai desmontando A narrativa, desmitificando as pistas do mecanismo de criação, como que se justificando perante o leitor e pedindo seu esclarecimento, sua participação - e, ao mesmo tempo, tenta também refletir a sociedade portuguesa e seus fenômenos coletivos que se estendem por 10 ou 15 anos. Destacam-se dois grandes acontecimentos por sua maior significância: a emigração, desta vez para a Europa, e a guerra colonial.

- O tema da emigração é inesgotável...

O que é novo é esta tendência de emigrar para a Europa. Como é sabido, fomos sempre tentados pela emigração para outros pontos geográficos, voltando as costas para a Europa. O que talvez reflita esta identidade coletiva de um povo ilhéu que tem de um lado o mar e de outro lado um deserto que funciona como um oceano, que é o deserto do território não habitado de nosso fronteira até Castela. Por razões históricas não foi povoado mor muitos séculos e nos deu esta sensação de isolamento perante a Europa. Deu-nos uma mentalidade de exílio e de procura de qualquer coisa que nos desconstrangesse, que nos quebrasse estes limites que foram terrivelmente interiorizados no sentido do desterro e da procura desordenada, mitificada, incoerente para romper este cerco.

- A identidade cultural do povo português parece ser sua preocupação dominante, enquanto escritor.

De maneira coincidente com estes fenômenos, tudo isso talvez se possa reduzir a um esquema que é muito simples e, na sua simplicidade, muito complexo: se reparar bem, o mundo romanesco de meus livros é povoado de uma gente contrariada, constrangida, de gente com a vida que não aquela que deseja. Mas sem saber qual a vida que desejaria. Não sabe também mostrar com clareza onde está esse constrangimento e quais as saídas para fugir dele. A gente contrariada que tem por instinto um desejo de fuga que pode aparecer sob um falso aspecto de aventura. As nossas grandes aventuras podem ter sido basicamente uma fuga e meu livro tenta refletir isso. Da mesma forma as insatisfações amorosas – que meu livro é também uma história de amor – se manifestou em tentativas de fugir a essa condenação de um cotidiano sem história ou com uma história triste, repetitiva, monocórdica, sem estímulo. Não se negue que há também um ingrediente de coragem, de aventura, ou de apenas de renúncia com vários disfarces. Eis uma questão que coloco para o leitor. Meu romance não tem respostas, não tem desfecho.

- A fiel interpretação dessa identidade do povo português será a chave de seu sucesso unto ao público?

É sempre muito embaraçoso falar de sucesso. Está certo que o destino do livro é ser lido. Mas esse não é um assunto muito estimulante, como sabe.

- Vamos ser bem francos. Por aí, em Portugal, se atribui seu êxito a um bom “marketing” e a certas concessões ao grande público.

Claro eu não posso estar de acordo com esses comentários. Concessão nunca houve. Por outro lado, o leitor só me interessa depois do livro ficar pronto. O livro sempre nasce com um destino, o diálogo com seu interlocutor. Só os escritores que não trabalham com esse dado, até como manifestação de sua própria frustração, é que podem fazer tal comentário. Só esses podem julgar desvalioso ter repercussão junto ao leitor. Não acredito na sinceridade desses comentários. É claro que não contentamos todas a gente nem há a pretensão de contentar. O que importa de fato é o compromisso perante si próprio. Mas, repare, o meu chamado sucesso (foi sua a palavra) pode ser batizado por Retalhos da vida de um médico. Até aí não era um escritor muito lido, não. Ora bem, esse livro teve um impacto muito grande. Parece que ele tem aquilo que o leitor encontraria nos meus livros posteriormente: certa verdade, certa autenticidade de uma vivência muito forte.

- E o estilo, também é mais direto?

Sem dúvida, também. É claro que o escritor que tenha um estilo, não só mais direto como portador de um determinado conteúdo, chega mais ao leitor. Veja bem que nem o leitor intelectual, adestrado, que procura muito mais em um livro que o leitor comum e eu possa estar reconhecendo grandes virtudes literárias, deixará de, a certa altura, pôr o livro de lado, porque é uma maçada. Por quê? Talvez porque o conteúdo não teve a força suficiente, já não digo na intriga, que é o de menos, mas o conteúdo de certas personagens. O leitor tem de se reconhecer – no seu aspecto de semelhança ou oposição – nas personagens de sua obra.

- E o problema do “marketing”?

O chamado “marketing” é uma falsa questão. Se há um outro caso de escritor ou editor fabricar um êxito, esse fabrico é sempre efêmero, não há na história da literatura um sucesso duradouro que seja apenas resultado de promoção. A promoção funciona em um tempo muito curto e logo se volta contra o próprio autor. Acontece a aparência – vivemos em um mundo eu é feito de verdades e sobretudo de aparências – que um escritor, ao ser reeditado pela exigência do leitor, entra no ciclo de reforço de sua imagem, que independe delo. Isto acontece para lá de sua astúcia. Claro que o editor procura zelar por um autor que ganha dimensão no âmbito público, afinal está a fazer um investimento que é importante para ele próprio. Mas novamente esse processo ultrapassa o escritor.

- Mas uma componente que você não pode esquecer na continuidade de sua carreira literária: a disciplina.

Não tenho eu pedir desculpas a ninguém por essa disciplina. Pertence, por um lado, à minha maneira de ser e, por outro lado, à minha vida, que me ensinou e me obrigou a ser disciplinado. Eu tive uma vida provavelmente muito mais dura que a maioria dos meus camaradas de letras. Eu tive de trepar todos os dias dos degraus difíceis. Tiver de ser tenaz. Tive de resistir a muita coisa a que outros talvez não resistiriam. Eu vivi em meios adverso, isolado, em luta contra o ambiente. Isso me deu cicatrizes e também o hábito de combate, de certa disciplina perante ávida, os fatos. Eu não escrevo por obrigação, jamais o farei. Se de fato tenho escrito com certa regularidade, é porque não sei fazer outra coisa.

- E a literatura em relação à medicina?

Eu tenho uma grande nostalgia da medicina. Mas a medicina como um veículo de encontro humano. É uma oportunidade única para qualquer de nós ter um tipo de vivência muito desmistificado, muito autêntico. Tive de optar porque, a certa altura, a exigência literária perante mim mesmo tornou-se incompatível com as exigências da medicina. Isso aconteceu quando estava escrevendo Diálogo em setembro, um livro eu me exigiu muito como documentação, como reflexão, como tudo. E me coloquei um prazo para que não perdesse e não se diluísse a intensidade da atmosfera intelectual que é captada pelo livro. Já tenho experiência para saber eu, quando se deixa diluir essa intensidade, nunca mais se recupera. Ou então sai artificiosa.

- Normalmente trabalha assim, com prazos?

Não tenho essa disciplina tão rigorosa. Mas vou trabalhando todas as semanas.

- Há períodos de esterilidade?

Há, como este período de novembro para cá, depois que terminei O rio triste. É natural. Quando se sai de um livro, se cai num vazio. É preciso carregar a bateria.

- Você estuda o romance mundial como um aprendizado?

Ninguém poderá dar-lhe uma resposta muito concreta a esse respeito, porque, mesmo quando um escritor se julga autônomo, desprendido de todas as repercussões do que leu, eu suponho que pensa erradamente. Essa autonomia não existe. Agora, o que é mais nítido perante o autor é o reconhecimento do último livro no percurso dos anteriores. Isso se pode reduzir a uma frase muito conhecida: o autor escreve sempre o mesmo livro, com variantes muito mais ligeiras do eu se possa pensar. Há também o dado das gerações literárias como já falamos.

- Você pertence a que família literária internacional?

Há realmente famílias de escritores, não apenas do ponto de vista temático e de linguagem, como duma certa toada, e sobretudo duma certa cadência. Por muitos e vários que sejam os livros de um escritor, há um determinado ritmo reconhecível. Nós damos a nossa marca assim como cada época tem a sua marca. Como muitos outros de minha geração, eu, por exemplo, fui muito atraído pelos grandes mestres russos, por um Maupassant. Durante algum tempo estive fascinado por Huxley. Mas não sei se podemos falar de influências... Acho que o que existe são coincidências de preocupações.

- E o romance latino-americano. Tem acompanhado?

Claro que, como toda gente, tenho tido muita curiosidade e reconheço que o romance latino-americano tem influenciado muito, sobretudo nossos novos escritores. Eu suponho eu a linguagem dominante em Portugal não seria vincadamente como é se não tivesse havido a experiência dos latino-americanos.

- Mas alguns escritores aqui em Portugal fazem questão de continuar voltados para a Europa, de costas para a América.

Não sei. Não sei se haverá nessa posição um certo esnobismo, até porque a literatura européia está tão empobrecida, está a mostrar tal falta de vigor e incapacidade de fascinar e influenciar... E as experiências mais válidas que se têm feito nos últimos anos vão todas na pista dos latino-americanos. Temos de reconhecer isso. De resto, a mim me parece que a literatura portuguesa vai atravessar um bom momento. Logo após o 25 de abril, esteve numa fase de expectativa, como acontece sempre em período de grandes abalos sociais e político. Mas depois da fase de perturbação, constatamos que a literatura portuguesa esta a quere ter uma presença, uma presença muito viva. Fora que não será uma presença tão rica e tão variada como a que estamos a observar no Brasil. Digo isso sem qualquer espécie de complexo e muito menos de lisonja. Ora bem, mas a literatura portuguesa, depois de toda esta fase de cansaço e, sobretudo, de falta de confiança em si mesma, sem dúvida nenhuma está a parecer através de muitos impulsos novos. E não só de gente nova, porque todas as gerações anteriores têm procurado resistir, resistir no verdadeiro sentido da palavra, têm procurado renovar-se. E não são tantas as literaturas em que isso se verifica. Repare na criação européia de uma forma geral: os nomes que estavam na berlinda aqui há 30 anos, desapareceram. Em Portugal, depois de dezenas de anos de atividade literária, os que estão vivos continuam presentes até os últimos instantes. Não por pura e oca teimosia, mas porque tinha alguma coisa a dizer e, por vezes, até foram eles a mostrar o novo caminho.

- Quais os autores novos que indicaria para serem publicados no Brasil?

Nenhum. Não é por demérito dos autores, não. Mas por culpa do Brasil. Eu não tenho ilusões. O Brasil está em definitivo desinteressado de nossa literatura. E não é um bom livro que vai alterar essa lamentável atmosfera de descaso. É um fato. Veja, nos meios universitários se diz que não há livros publicados, e isso dificulta o ensino. Talvez se pudesse atacar por aí, mas várias tentativas isoladas de editores brasileiros fracassaram – a Civilização Brasileira, a Verbo, por exemplo. Você poderá dizer que sempre houve um ou dois nomes. Um Fernando Pessoa ou um Eça de Queiroz. Fernando Pessoa nem serve de ilustração, até porque, suponho eu, o leitor não se apercebe que está a ler um poeta português; percebe apenas um poeta em língua portuguesa. Não o relaciona com outra cultura, que está do outro lado do Atlântico. Quanto ao Eça, creio que não é o acidente de determinado autor ser conhecido pelos leitores brasileiros que vá espelhar interesse e reconhecimento de uma literatura e duma cultura. Interessaria o conhecimento de uma dúzia de nomes e que isso tivesse permanência. A mesma permanência que a literatura brasileira tem em Portugal. Cito só um caso, neste momento: Lygia Fagundes Telles. Hoje não se conhece apenas Ciranda de pedra, que está a ser apresentada na televisão, mas, sim toda a obra desta escritora brasileira.
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