GRETA GARBO
Entrevista conduzida por Mordaunt Hall, publicada originalmente no The New York Times, de 24/03/1929, e republicada no livro: ALTMAN, Fábio. A arte da entrevista. São Paulo: Scritta, 1995, de onde foi extraída.
Greta Garbo (1905-1990), atriz sueca naturalizada americana, nasceu Greta Lovisa Gustafsson em Estocolmo, onde foi educada. Depois de trabalhar por um breve período como vendedora de uma butique de roupas, ela conquistou o primeiro lugar num concurso de beleza em trajes de banho. Feita miss, decidiu ingressar na escola do Real Teatro Dramático da Suécia. Trabalhou em um único filme em seu país antes de viaja para os EUA, em 1925. Garbo concedeu esta entrevista um ano antes de sua carreira explodir em sucesso, com o filme Anna Christie. Seguiram-se a ele diversos clássicos de Hollywood dos anos 30 – Rainha Cristina, Anna Kerenina, Camille e Ninotchka. Em 1941, ela abandonou o cinema e passou a viver reclusa o resto de sua vida, em um apartamento de Nova Iorque. É desta época sua frase célebre: “I vont to be alone”.
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De volta da Suécia desde o dia anterior, a feiticeira das telas, Greta Garbo, estava no Hotel Marguery, na Park Avenue, quarta-feira passada. Só a presença dela já parecia impressionar o camareiro, uma vez a maior parte da comunicação era feita através de sussurros ou sinais. Mesmo que estivessem se dirigindo a algum visitante poderoso, os representantes da Metro-Goldwyn-Mayer não se mostrariam mais respeitos, pois a senhorita Garbo, como Charlie Chaplin ou sir James M. Barrie, transforma-se em uma delicada violeta quanto se trata de uma entrevista.
Quando o telefone tocou, o silêncio do quarto foi quebrado e o camareiro ergueu um dedo como um sinal para o ascensorista de que a senhorita Garbo receberia um representante do The New York Times. Logo a porta do apartamento da senhorita Garbo abriu-se e a figura sinuosa da fascinante atriz surgiu como um raio de sol. Em um tom de voz baixo que combinava como o seu comportamento, ela cumprimentou o visitante, cujos olhos desviaram-se do seu rosto para um buquê de flores sobre a mesa e deste para o chão.
“O senhor não quer se sentar” disse ela.
Os olhos do visitante, mais uma vez, correram o risco de uma reação imprevista dela, observando-a e percebendo, em seguida, que a senhorita Garbo usava um chapéu preto parecido com um barrete, de onde escapavam duas mechas de cabelo de cada lado. Depois de algumas perguntas, ficou claro que a senhorita Garbo tinha um magnetismo impressionante tanto na tela quanto fora dela. Como Pola Negri, que ela tanto admira. Grata Garbo é natural e diverte-se, ao invés de constranger-se, com seus pardos conhecimentos da língua inglesa.
Ela usava um suéter rosa e uma saia curta de veludo preto, e anéis de fumaça do cigarro,e ela segurava entre os longos dedos, subiam até teto.
Quando ela esteve aqui pela última vez, há três anos e meio, a senhorita Garbo não falava quase nada em inglês, ma agora ela consegue se expressar bastante bem, e, apesar dos lapsos ocasionais, que são muito cativantes, declarou que gostaria muito de atuar em um filme falado.
Que papel ela gostaria de desempenhar nas telas? Ela tragou , jogou a cabeça para trás, abaixou os olhos e dignou-se a responder:
“Joana D’Arc. Mas é provável que não me saísse muito bem. Eu gostria defazer algo diferente, algo que ainda não tenha feito. Queria sair do lugar comum. Não vejo nada de especial nas tolas histórias de amor. Gostaria de fazer algo que ninguém mais esteja fazendo. Se eu conseguisse o Von Stroheim! Ele não é ótimo?
A senhorita Garbo disse que o filme em que atuou de que mais gostou foi a adaptação para a tela de Green hat, de Arlen, que se chamou The woman of affairs (Uma mulher de negócios). O seu primeiro filme, um dos dois que fizera na Suécia, foi a versão filmada de The legend of Gosta Berting (A lenda de Gosta Berting), que foi exibido aqui em 1928. Na época, ela tinha 17 anos e, de acordo com o própria descrição, era “uns cinco ou dez quilos mais gorda”.
O povo foi recebê-la quando ela voltou para a Suécia da última vez. Ela não se impressionou muito com a recepção, mas admitiu que havia uma multidão esperando-a em Gotenburgo. Agora que estava nos EUA, ela na sabia dizer se tivera saudades. Em Estocolmo, ela disse que adorava passear pelas ruas, olhando as vitrines das pequenas lojas, e depois ir jantar em voltar para trocar de roupa. Seus olhos acinzentados se iluminam quando ela disse isso.
Quando perguntei se muitas pessoas a reconheciam nesta cidade, ela respondeu, como de costume:
“Não sei.”
O que ela fez na sua primeira noite em Nova Iorque?
Ela jantou sozinha
“Completamente só?”
“Foi e adorei olhar para os – como vocês chamam - arranca-céus – Não, como é mesmo?
“Ah sim, arranha-céus. Não vamos falar sobre mim, vamos falar sobre Nova Iorque e os arranha-céus; eles parecem tão bonitos vistos desta janela. É verdade que eu fui convidada para jantar no campo na casa onde o capitão Lundborg está hospedado. Ele, como o senhor sabe, é o homem que voou até Nobile e trouxe-o de volta. Mas, como já disse, eu jantei sozinha e não parei de olhar para os maravilhosos e incríveis arranha-céus – eu falei certo?
Essa suposta solitária admite conhecer muito pouca gente em Hollywood. Às vezes ela joga tênis e só tem um carro, mas dirige o carro dos amigos.
Foi necessário falar de novo na Suécia, quando perguntei à senhorita Garbo se ela já tinha atuado no teatro. Ela disse que não, mas que um amigo pediu que ela encenasse Resurrection quando estava em Estocolmo. Ela, claro que irrefletidamente, concordou.
Ela chegou ao ponto de decorar suas falas e estudar o papel. Estava confiante, mas na noite anterior ao ensaio geral, ela começou a ficar muito nervosa e não conseguiu dormir. Pediu ao amigo que fosse até a sua casa e disse que não poderia fazer a peça. Não dormira. Ninguém, conseguiu convencê-la. Ela simplesmente não conseguia aparecer diante dos refletores.
Qualquer um poderia jurar onde quer que a senhorita Garbo vá, ela não se diverte. Mas isso parece impossível. Ela demora umas seis semanas para fazer um filme e já atuou em oito produções para Hollywood .
Ela estuda a história antes de aparecer em frente às câmeras.
“E quando a senhorita vai voltar para Hollywood?”
“Não sei. Amanhã, talvez”.
A conversa então passou para os filmes, e a senhorita Garbo disse:
“Se eles querem que eu fale, eu vou falar. Adoraria atuar em um bom filme falado, mas os que vi são horríveis. Não tem graça olhar para uma sombra e ouvir uma voz que vem de algum lugar fora do cinema”.
Perguntei-lhe se conhecia Charles Chaplin e ela respondeu que o conhecia “muito pouco”.
Não há mais um círculo social sueco em Hollywood, pois Victor Seastrom já não está mais lá. Lars Hanson voltou para a terra natal, para onde também retornaram outros menos famosos.
A senhorita Garbo sente uma profunda admiração por Pola Negri. Ela disse que adorava a maneira como a senhorita Negri mantinha o ar do Velho Mundo.
“Ninguém é tão bom quanto Pola Negri”, disse ela. “Ela é tão engraçada. É sempre divertido encontrá-la”.
Para a senhorita Garbo, divertido é interessante e, ao mesmo tempo, estimulante.
Ela repetiu “encantada em conhecê-lo”, e voltou a cabeça para os seus queridos arranha-céus.
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