Pedro Bandeira
Entrevsita conduzida por Amanda Araújo e Letícia Greco, realizada em 15/09/20012 e publicada no site http://todateen.com.br/leretdb/entervista-pedro-bandeira/
Pedro Bandeira é um dos autores de literatura juvenil mais consagrados do Brasil. Ele conta com cerca de mais de vinte milhões de exemplares vendidos. “A Droga da Obediência”, voltado para o público adolescente, é uma de suas obras mais conhecidas. Já recebeu diversos prêmios como o Prêmio APCA e o Prêmio Jabuti. Conversamos com o autor durante a Bienal do Livro de São Paulo. Confira:
tt: Você se inspirou em personagens reais para criar a coleção dos Karas?
Pedro: Os Karas são um grupo de um sonho meu. Eu acho que os cinco integrantes dos Karas são uma pessoa só. Eu imagino que o meu menino ideal, meu brasileiro ideal, tem a liderança e a seriedade do Miguel, a inteligência do Crânio, a beleza e a coragem da Magrí, o charme do Kalu e o humor e brincadeira do Chumbinho. Todos são um só. Mas na verdade, eu acho que dentro havia uma inspiração que eu só notei depois, que são os Três Mosqueteiros e o também os Meninos da Rua Paulo. Eu gosto muito deste último livro e peguei para ler de novo. O personagem principal é igual ao Miguel. Tem um outro menino que é igual ao Chumbinho. Essas coisas ficam dentro de você e elas afloram e brotam sem que você perceba. Então eu acho que tem alguma coisa que vem deles. A união dos Três Mosqueteiros é igual a união dos Karas, com a diferença que lá não tinha mulher e eu coloquei uma! (risos)
tt: E qual o seu personagem preferido?
Pedro: São os cinco porque todos formam um só. São cinco aspectos importantes de um personagem.
tt: Os seus livros são de sucesso absoluto entre os adolescentes. O que você acha que mais os cativa?
Pedro: Livros que foram escritos antes do advento do celular, do computador, fazem sucesso. As crianças de hoje leem coisas , aventuras de pessoas que usam telefone público com fichinhas de metal que não existem mais! E eles adoram! Quando os personagens querem achar um arquivo, eles puxam aquelas gavetas de aço que tem aquelas pastas. Ninguém liga um computador para ver e isso não é problema para eles. E eu acho que isso acontece porque os meus livros tratam das emoções humanas. A tecnologia não é importante. Por que Shakespeare é importante? Ele fala sobre os reis ingleses? Não. Ele fala sobre a ambição, a cobiça, a vingança, o ciúme, o amor. Romeu e Julieta fala de emoções humanas. A peça dele tem mais de 400 anos e todo mundo assiste e se emociona. A literatura tem que tratar de emoções humanas, não de tecnologias. A tecnologia vence, mas as emoções humanas são sempre as mesmas.
tt: E dos livros mais recentes, até de outros autores, qual você indica?
Pedro: Eu queria indicar O Poeta do Abismo, escrito por Marisa Lajolo, uma das maiores professoras de literatura do Brasil. Ela é uma ficcionista de mão cheia! O livro é uma surpresa por conta da qualidade literária do livro. Ela faz um suspense em torno da história, só com a maneira que ela apresenta os fatos da história já vem o suspense. É uma habilidade de redação incrível.
tt: E qual o seu próximo lançamento?
Pedro: Aqui na Bienal eu estou lançando Amor Impossível, Possível Amor que é um livro muito importante para mim porque há anos eu tive um amigo muito importante, grande escritor e grande poeta Carlos Queiroz Telles. E ele faleceu. Mas a esposa dele achou um livro já iniciado no computador com os cinco primeiros capítulos. Ela me procurou e pediu para eu continuar. Então isso foi um desafio enorme! Primeiro: emocionalmente era uma pessoa que eu gostava. Segundo: artisticamente eu não podia ferir o estilo dele. Mas eu também não sabia onde o livro daria. Então foi um exercício intelectual muito importante e emocionalmente duro para mim. Amor Impossível, Possível Amor é um livro onde moram dois amores: o meu e o do Carlos Queiroz Telles.
tt: Hoje em dia, você acha que os jovens estão lendo menos?
Pedro: Então, todo mundo fala isso e eu acho interessante porque eu fico pensando: ‘por que as pessoas falam isso’? Quando acabou a ditadura militar, não havia internet, celular e nem computador. Naquela época, a média de leitura do brasileiro era 1.8 livros por ano. Hoje, a média é 4.7 livros. E quem disse que as pessoas estão lendo mais? A população naquela época era 90 milhões de habitantes. Hoje são quase 200! E cada um deles está lendo 4.7 livros por ano. Então eu não entendo de onde tiram essa história de que estão lendo menos. Estão lendo cada vez mais! Nos países adiantados como Alemanha, Inglaterra, Estados Unidos, estão lendo ainda mais. Nunca se vendeu tanto livro como agora! As pessoas estão dizendo que por causa da Internet ninguém mais lê e eu não entendo de onde vem isso.
tt: Mas lê muito pela internet também, né?
Pedro: Estão todos lendo pela Internet, mas não importa. Ainda tem que ter alguém escrevendo para alguém ler. Se estiver na tela do computador, no Ipad, ou em um guardanapo, ainda vão estar lendo. Talvez diminua muito o número de livros impressos. Se bem que livro de ficção ainda vai ter muito em papel. Mas livro didático é melhor você ter no Ipad do que ficar carregando aquele monte de livros na escola, com a mochila quase caindo. Agora você leva o Ipad e está tudo ali. Isso deve mudar. Mas eu não sei se as pessoas vão ler livros de ficção no Ipad. Mas se for, e daí? Nos Estados Unidos, pela primeira vez, o livro eletrônico ultrapassou a venda de livros de capa dura. Mas o brasileiro ainda não lê muito no Ipad porque é muito caro. Mas o livro eletrônico vai se popularizar e vai ser bom porque ele vai ser mais barato. O livro de papel é caro. Para um país como o Brasil, é caro um livro de 30, 40 reais. Para a pessoa que tem dois, três filhos e tem que comprar livros, e a pessoa ganha pouco e é muito caro. Sem contar que com o Ipad, as pessoas não vão ficar emprestando o livro um para o outro e eu vou vender mais livros. (risos)
tt: Nas suas histórias, os jovens sempre se unem em prol de um bem maior e são capazes de mudar o mundo. Quais são as principais ferramentas de mudança que os jovens de hoje em dia têm a sua disposição?
Pedro: Eu não sei, mas eles têm que achar. O mundo mudou pouco para melhor. A única coisa é que não temos guerra há 70 anos. Essa é a única coisa que melhorou. Eu espero que eles encontrem essas ferramentas para um mundo de paz, um mundo justo. Mas em meus livros, os personagens são sempre éticos, justos, como o meu leitor quer ser.
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