Schopenhauer
Entrevista criada por Paulo Nogueira, publicada no site www.diariodocentrodomundo.com.br (14/02/2013)
Schopenhauer era tão pessimista que dizia o seguinte: “A pior coisa que pode acontecer a alguém é nascer”. Seu pessimismo derivou da grande influência exercida nele pelas filosofias orientais. Para o budismo, por exemplo, a vida é, numa palavra, sofrimento. Concordo. Mas chamei Schopenhauer por outro motivo: falar sobre a arte de ler e escrever, tema de um ensaio que no Brasil foi publicado pela LPM numa edição de bolso. É mais um capítulo de nossas Conversas com Escritores Mortos.
- Her. Schopenhauer, como o senhor divide as pessoas que escrevem?
Existem três tipos de autores: em primeiro lugar, aqueles que escrevem sem pensar. Escrevem a partir da memória, de reminiscências, ou diretamente a partir de livros alheios. Essa classe é a mais numerosa. Em segundo lugar, há os que pensam enquanto escrevem. Eles pensam justamente para escrever. São bastante numerosos. Em terceiro lugar, há os que pensaram antes de se pôr a escrever. São raros.
- Na internet, muita gente escreve insultos sob pseudônimos. O que o senhor pensa disso?
Parafraseio Riemer em seu livro sobre Goethe. Um adversário que mostra a sua cara abertamente é uma pessoa honrada, moderada, com a qual é possível se entender, chegar a um acordo, a uma reconciliação. Em compensação, um adversário escondido é um patife covarde e infame, que não tem coragem de assumir seus pensamentos, portanto alguém que não defende sua opinião, mas se interessa apenas pelo prazer secreto que sente em descarregar sua ira sem ser conhecido e nem sofrer retaliações.
- O que o senhor acha de quem imita o estilo de outro?
O estilo é a fisionomia do espírito. Imitar o estilo alheio significa usar uma máscara. Por mais bela que esta seja, torna-se pouco depois insípida e insuportável porque não tem vida, de modo que mesmo o rosto vivo mais feio é melhor que ela.
- Algumas pessoas gostam de escrever com pompa. O que o senhor pensa disso?
Não há nada mais fácil do que escrever de maneira que ninguém entenda. Em compensação, nada mais difícil que expressar pensamentos significativos de maneira que todos os compreendam.
- Voltaire disse: “Todo adjetivo é inimigo do substantivo”. Ele estava criticando a prolixidade. Como o senhor vê isso?
Muita gente procura esconder sua pobreza de pensamento sob uma profusão de palavras. Por isso, deve-se evitar toda prolixidade. É preciso ser econômico com o tempo, a paciência e a dedicação do leitor. É sempre melhor deixar de lado algo de bom do que incluir algo insignificante.
- O senhor poderia falar um pouco mais nisso?
Usar muitas palavras para comunicar poucos pensamentos é sempre o sinal inconfundível da mediocridade. Em contrapartida, o sinal de uma cabeça eminente é resumir muitos pensamentos em poucas palavras.
- Ler muito ajuda?
Quem lê muito e quase o dia todo, mas nos intervalos passa o tempo sem pensar nada, perde gradativamente a capacidade de pensar por si próprio – como alguém que, de tanto cavalgar, desaprendesse caminhar. Este é o caso de muitos eruditos: leram até ficarem burros.
- O senhor entende que devemos ser muito seletivos no que lemos?
Para ler o que é bom uma condição é não ler o que é ruim. A vida é curta, e o tempo e a energia são limitados.
- Muitas pessoas compram mais livros do que conseguem ler. Eu sou uma delas. Alguma recomendação?
Seria bom comprar livros se, ao mesmo tempo, comprássemos o tempo para lê-los, mas é comum confundir a compra de livros com a assimilação de seu conteúdo.
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