"Eu mesmo, logo depois de terminar meu último livro preparei o esboço de outro romance. Então começou a guerra e de repente pareceu-me frívolo demais narrar o destino de pessoas fictícias. Não tive mais coragem de lidar com fatos psicológicos particulares e cada uma das histórias pareceu-me irrelevante em comparação com a história... Em cada navio, em cada agência de viagem, em cada consulado, podemos ouvir de gente anônima, comum, as histórias de aventuras e peregrinações que não são menos perigosas ou excitantes que as de Ulisses. Se alguém imprimisse, sem alterar uma única palavra, os documentos dos refugiados que agora são guardados nos escritórios de organizações de caridade, da Sociedade de Amigos, no Ministério do Interior em Londres, poderíamos compilar uma centena de volumes com histórias mais excitantes e improváveis do que aquelas de Jack London ou Maupassant... Nenhum gênio pode hoje em dia inventar algo que supere os dramáticos eventos da atualidade, e até mesmo o melhor poeta tem que voltar a ser um discípulo e um criado do nosso maior mestre de todos os tempos: a história"
Fonte:
ALTMAN, Fábio. A arte da entrevista. São Paulo: Scritta, 1995