Wilson Martins x Guimarães Rosa
"Depois do Grande sertão, Guimarães Rosa entrou em um beco sem saída: ou ele se renovava e já não era mais Guimarães Rosa, ou se repetia Por isso Grande Sertão não teve continuidade. Logo depois do lançamento do romance, encontrei-me com Sergio Milliet, que era muito chegado ao Rosa. Ele me disse ‘Este é apenas o primeiro volume, vai haver uma continuação que se chamará Grande sertão: cidades’ Mas em vez de escrever a continuação projetada, Rosa escreveu aqueles contos do Corpo de baile, que são totalmente diferentes. Não conseguiu continuar seu projeto. Corpo de baile é um livro que ninguém leu. Eu penso que o caso Guimarães Rosa precisa ser reexaminado pela crítica do futuro... Foi Clarice, e não Guimarães Rosa, quem inaugurou o período estetizante de nossa literatura, pois Perto do coração selvagem é de 1943 e Sagarana é de 1946. A grande crítica, com as exceções de Antonio Cândido e Sergio Milliet, praticamente silenciou a respeito do romance de Clarice. E Rosa se apossou da glória de pioneiro, quando a glória devia ser dela. Rosa apossou-se ainda de outras glórias. Por exemplo, da glória de Mário Palmério que, em 1956, publicou Vila dos confins, um romance que considero muito superior ao Grande sertão. O romance de Rosa emocionou por causa de suas experiências lingüísticas. Mas romance por romance, o de Palmério é melhor... As experiências lingüísticas de Rosa têm importância como experiências lingüísticas, mas não como criação literária. Muita gente diz que o Rosa foi o nosso Joyce. Guardadas as devidas proporções, isso é verdade, mas só guardadas as devidas proporções. Ao contrário do que ensinam os Irmãos Campos, Joyce renovou mais a narrativa do que a linguagem. Ele renovou a língua em Finnegans wake, romance que é mais uma brincadeira do que um romance. Mas o Ulisses é, antes de tudo, um romance realista".
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/05/1998 – José Castello
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