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Impressões da Colômbia

após Chapecó

   J.D. Brito

       A Colômbia é o país que mais se parece com o Brasil. Estive por lá em 1973 e percorri diversas cidades “a dedo”: Pasto, Popayán, Cali, Turbo, Medellin, Bogotá, Letícia e o paraíso caribenho de Acandi. Não existe na América do Sul outro povo mais semelhante, devido mesmo a origem comum, mesclada de índios, negros e europeus. Você anda pelas ruas  e percebe os traços fisionômicos, a conversa ligeira, a  cordialidade, “o jogo de cintura” e até a malandragem. Tais características dotaram seu povo com um sentimento muito parecido com o dos brasileiros.

 

       Foi necessário uma tragédia em grandes proporções para que isso fosse demonstrado ao povo brasileiro. Em Medellín um jornalista perguntou  ao Embaixador do  Brasil qual o legado que uma tragédia como essa pode deixar. Ele respondeu de pronto: “O Brasil descobriu a Colômbia”, e completou: “Nunca se viu atos de solidariedade entre dois povos nestas proporções”. No jogo de futebol, interrompido pelo desastre, deram a vitória do campeonato aos brasileiros mortos; levaram 100 mil pessoas ao Estádio para reverenciá-los; nas ruas o povo acompanhou o féretro coletivo até o aeroporto; os padres rezaram missas; a banda tocou a marcha fúnebre; os oficiais do Exército pregaram na farda o distintivo do clube, e cobriram os caixões com uma bandeira branca e a inscrição: "Campeões para sempre". Isto sem contar a presteza e rapidez como tudo foi feito para aliviar tristeza dos familiares.

 

       A imprensa, que perdeu também um grande time de jornalistas, e o povo brasileiro reconheceram a gentileza colombiana. O governo brasileiro, diante do tamanho da comoção, foi obrigado a fazer um agradecimento oficial em seguida, mas não nas mesmas proporções da gentileza. Um jornalista chegou a afirmar que eles fizeram o que devia ser feito. Não, ninguém é obrigado a chorar nem mesmo seus mortos. E se os colombianos o fizeram foi em solidariedade ao povo vizinho, porém separado pela selva amazônica. Uma cortesia tamanha que deixou Brasil em débito a ser pago algum dia.

 

      O pagamento bem poderia ser feito através do estreitamento dos laços de amizade e cooperação entre os dois países tão comuns, tão carentes e tão ricos “pela própria natureza”. O território de nossas fronteiras têm a mesma denominação, os mesmos problemas e necessidades enormes: Amazônica. Foi preciso uma tragédia para que estes vizinhos se conhecessem melhor. O Brasil bem que poderia aproveitar o legado reconhecido pelo seu Embaixador e incrementar uma política de desenvolvimento comum, levando em conta a proximidade não apenas histórica e geográfica. Juntos poderiam administrar a Amazônia, resgatando-a e colocando-a no centro do mundo.

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José Domingos de Brito

Diretor de Documentação da UBE-União Brasileira de Escritores e editor do site www.tirodeletra.com.br

 

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