“Em primeiro lugar, Jack Kerouac, que me ensinou a trabalhar com meu próprio universo pessoal, minha própria linguagem. Também o admiro porque ele foi o primeiro a me mostrar que a minha existência e a existência de um modo geral são temporárias, transitórias, e por isso não devemos ter a presunção de sermos eternos. Eu sou apenas aquilo que Ele quis que eu seja, você também, e a vida é um grande e admirável momento. O lama tibetano Chogwan Trumgpa foi uma grande influência, pois me ensinou técnicas de meditação e parte da linguagem que utilizo para falar do sagrado em meus poemas. William Carlos Williams, por mostrar que a poesia é mais rica quando é feita no vernáculo corrente, e não imitando modelos de outra época ou cultura. Ele estava em busco do ‘idioma norte-americano’, da língua que se fala nos Estados Unidos, que não é o inglês da Inglaterra, e me ensinou que devemos escrever poesia da mesma forma como pensamos e falamos. William Blake foi talvez a influência mais forte de minha juventude: quando tinha 20 anos tive experiências visionárias com ele que nunca consegui explicar de forma satisfatória. Em 1948 tive uma visão em que ouvia a voz de Blake recitando seu poema The Sunflower, que diz Oh sunflower/ weary of time/ Who counts the steps of the sun/ Where my own flower wants go e tive uma estranha sensação de desintegração de meu corpo no espaço, o que pareceu durar bilhões de anos, me colocando em contato direto com o universo infinito. Olhei para o céu, da janela do meu apartamento do 5º andar, comecei a me masturbar e tive a sensação de uma integração plena com o universo. Não afirmo que tenha sido uma experiência divina, digo apenas que ela foi decisiva para o meu aprendizado sobre as noções de infinito, de espaço e de mortalidade. Walt Whitman foi importante no sentido em que poesia concilia a investigação artística e uma preocupação intelectual e política com a democracia americana. Whitman escreveu: ‘Sou muitos, tenho multidões dentro de mim’. Eu concordo e acrescento: a mente cria realidades, nossa imaginação contém multidões. Também devo citar Shakespeare, Melville – cuja eloquência na prosa só é comparável à da poesia de Shakespeare; Sapho pelo erotismo e pelo senso de mortalidade de sua poesia ; William Burroughs, por sua inteligência brilhante e seus trabalhos de pesquisa de linguagem; Ezra Pound. Por suas colagens, pela montagem de elementos de culturas diversas no Cantos. Por á uns 15 afim, Fernando Pessoa, que conheço através de traduções; aprecio seu senso de humor, sua exuberância e seu gosto pelos paradoxos. Só comecei a ler Pessoa há uns 15 anos, acho seus poemas maravilhosos”.
Fonte: O Globo, 4/8/1991 – Luciano Trigo
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