“Desde criança estudei piano e tinha interesse pela literatura. Sempre essas duas coisas me atraíram muito e eu queria, de algum modo, ligá-las na minha vida, no meu trabalho. Acabei me voltando para a pesquisa dessa relação. Minha tese de mestrado é sobre a música na Semana de Arte Moderna. Depois fiz um trabalho sobre Mário de Andrade, que é um escritor em que essa relação é fundamental. Me interessei também pela canção, que no Brasil é um gênero privilegiado de poesia cantada. Acabei fazendo canções e, portanto, trabalhando com isso, enquanto objeto de reflexão e ao mesmo tempo instrumento de expressão... Acho que a música e a poesia são duas linguagens diferentes e, num certo sentido, até opostos, porque as palavras definem as coisas, enquanto que a música é pura conotação, ela diz através de um movimento global do sentido que não se divide em palavras e não tem uma referência às coisas do mundo. Mas, justamente por essa diferença, a música e a palavra se atraem, por alguma coisa que também é comum a elas. As palavras têm ritmo, têm timbre. E a poesia é justamente uma forma de colocar a linguagem em estado de música. Chamar a música da linguagem à tona.”
Fonte: Correio Braziliense, 24/09/1994 – Anamaria Rossi
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