DUAS NAMORADAS
José Julio de Azevedo
Ele sempre quis andar
de braços dados com a liberdade
Porém, às vezes, negava essa namorada
por amor da outra, a piedade.
Ah! A liberdade, então, chorava
num canto sombrio de seu coração
e só voltava a sorrir
quando a outra, a piedade,
vinha até ela com seus lábios
de piano consolando-a com uma canção
Ele amava a liberdade
porém maior ainda era seu amor
pela piedade
que o levava, enlevado, pela
rua obscura da humildade
onde floriam rosas, com suas cores
e também espinhos,
onde havia dores e também sorrisos.
A liberdade olhava-os de longe
sentida, cabisbaixa em seu discurso panfletário.
Ele voltava-se prá ela
tentando agradá-la com um abraço, dizendo:
Ah! Minha menina liberdade,
só posso amar porque você existe
Ao negá-la, por amor,
você se torna viva de verdade.
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