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Por que escreve
Carola Saavedra

"De forma exagerada, é possivel dizer que começamos a escrever no momento em que nascemos. Afinal, escrever é uma maneira de olhar para o mundo ao nosso redor. Aos poucos, vamos reparando nas coisas, coletando idéias, imaginando narrativas até passar aquilo para o papel ou para a tela do computador. Na verdade, desde criança quis ser escritora. Mas eu tinha muito medo de não ter talento. Acredito que todas as pessoas que escrevem, pelo menos aquelas que estão começando, têm esse receio: será que vai dar certo? Será que eu tenho talento para isso? E o momento mais assustador, para mim, foi mostrar o texto para um amigo e ficar na sua frente, analisando seu rosto, tentando interpretar sua reação: será que ele gostou? Ele riu ou não riu?  Será que ele odiou o que escrevi? Esse sentimento de insegurança me perseguiu durante muito tempo. Em 2005, porém, decidi entrar num concurso promovido pelo jornal O Globo. Chamava-se Contos do Rio e era voltado para pessoas que nunca publicaram um livro. Na pior das hipóteses, pensei, não tenho nada a perder. Para minha surpresa, o conto acabou ficando entre os dez selecionados. No júri estavam o Sergio Santana e o Luiz Rufatto, duas pessoas que seriam muito importantes na minha trajetória literária. Lembro-me de ficar emocionada ao ver meu nome no jornal. 'Poxa, o conto não era tão ruim', disse para mim mesma. Foi a primeira vez que tive um retorno positivo. O Sergo gostou muito e me perguntou se eu estava produzindo algo. Nessa época eu morava na Alemanha e estava escrevendo o Toda terça. Ele pediu para que lhe mostrasse assim que terminasse. Um ano depois, voltei para o Brasil com o livro pronto. Fiquei com muto medo da reação dele. Quando estamos começando, é difícil fazer um julgamento. Não tinha a menor noção se aquilo era bom ou ruim. Mas o Sergio gostou muito, o que me deixou muito impressionada. Era como se ele estivesse abrindo uma porta, permitindo-me enxergar algo diferente, uma paisagem que eu mal sabia da existência".

Fonte: Ofício da palavra. Belo Horizonte: Autêntica, 2014.            

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