"Talvez seja essa a minha maior satisfação. É o enlevo que sinto quando, ao escrever, parece-me estar descobrindo o lugar de cada coisa; acertantando os detalhes de uma cena; tornando coeso um personagem. A partir desse ponto, alcanço o que poderia considerar uma filosofia; em todo o caso, é uma idéia que me ocorre constantemente: que por trás do algodão cru existe um esboço, que nós - quero dizer, todos os seres humanos - estamos ligados a esse esboço, que o mundo inteiro é uma obra de arte, que integramos essa obra de arte. Hamlet, ou um quarteto de Beethoven, é a verdade sobre essa massa externa a que chamamos mundo. Mas não existe Shakespeare, não existe Beethoven; deveras, enfaticamente, não existe Deus; nós somos as palavras, nós somos a música; nós somos a coisa em si. E vejo isso sempre que sofro algum impacto".
Fonte: GRITTI. Delmino. Dos tijolos da Suméria aos megabytes pós-humanos do terceiro milênio. Caxias do Sul (RS): Editora Liddo, 2007
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