1965
SANT'ANNA, Affonso Romano de. Canto e palavra. Momento em perspectiva, 1965.
(incluir resumo)
1977
WISNIK, José Miguel. O Coro dos Contrários: a música em torno da Semana de 22. São Paulo: Duas Cidades, 1977.
(incluiir resumo)
SANT'ANNA, Affonso Romano de. Música popular e moderna poesia brasileira. R.Janeiro: Vozes, 1977.
(incluir resumo)
1989
WISNIK, José Miguel. O Som e o Sentido. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
(incluir resumo)
SOPEÑA, Federico. Música e literatura. São Paulo: Editora Nerman, 1989.
Qualquer trabalho discreto sobre a ampla matéria que o título deste livro abrange será útil, em função da indigência do tema no panorama bibliográfico espanhol. Traduzir um livro "clássico" como o de Coeroy pode ter sido um promeiro passo. Desde a "Sociologia da Arte" se diz, e dizemos e defendemos, que esses temas necessitam surgir do exercicio de uma "vocação compartilhada". Explico-me: não se trata de que um musicólogo acuda "instumentalmente" à Literatura, amontoe fichas e nos dê uma "antologia de pensamentos sobre a música", ou vice-versa. Com essa tônica, e com a utilização do fácil aparato técnico, o livro surge com facilidade, porém não se trata de um livro de "criação" que queira apresentar algumas anotações cuidadosamente feitas. Em compensação, quando se parte para a comunidade de ambos os mundos de uma preocupação central, de longo tempo de leitura "gratuita", de algo inseparável da própria vida do escritor, que não se exprime apenas escrevendo sobre música, o tom é diferente e essa sociologia nos dirá que diante da "introdução escolar" surge outra, muito pessoal, porém de maior alcance. Isto é o que eu modestamente tento ao reunir meus trabalhos que, desde o primeiro, tinham a ilusão e o propósito de se encarnarem em livros.
Não como hobby, mas como leitura "trabalhada", tenho estudado desde a minha mocidade esse gênero singular de "Memórias" e "Diários". Todos fomos e somos leitores e trabalhadores sobre o romance e, no meu caso, aí está o muito que escrevi sobre o nosso Galdós, porém acredito que todos necessitamos, como dialética interior, do ingresso nesse outro mundo que, ante a "criação de mundos", apresenta, quer expressar, a "intimidade objetivada". Existe um ponto de partida humaníssimo: é raro o adolescente sem "diário" mais ou menos oculto, enquanto que o romance não se escreve, ele reside em sonhar desperto. Duplo ponto de partida porque a grande música romântica e, retroativamente, quase tudo por essa combinação constante de música e amor, música e melancolia, tem sua força nesse "acúmulo de idades" que é a nossa vida - sonho de amadurecer, nostalgia de infância perdida, volta a paixões de adolescência, cansaço de viver ou esforço com relação à "morte pessoal"; a música nos dá, uma e outra vez, o sonho da juventude.
O anterior explica uma metade da razão deste trabalho: na espressão da intimidade dos "diários" e "memórias íntimas", a música nos escritores que realmente a vivem, é parte "constituinte", não acrescentada, e de tal forma, que este livro não teria sido escrito sem a firme convicção de que a Musicologia se enriquece muito positivamente com algumas contribuições que nem o tratado, nem a crítica nem o estudo histórico podem proporcionar. Basta pensar, por exemplo, nesta paixão por Mozart de toda a linha existencialista detalhadamente estudada por mim em função de Kiekegaard. Já dentro da técnica de expressão, existe uma diferença abismal entre a resposta ba intimidade a uma música "vivida" e a má técnica dos "argumentos" para explicar a música.
Explicação da segunda metade: quase tudo o que foi recopilado aqui está escrito também tornando a citação parte do diário pessoal. Quase, sem quase, este livro poderia ter um subtítulo que fosse o irmão caçula dos subtítulos escolhidos pór Julien Green para as diversas entregas do seu "Diário": "Escrito sempre à noite". É verdade: à noite e em sua maior parte longe, em viagem, colocado entre parênteses o duplo afã do gosto e do desgosto da vida cotidiana, tanto no sarcedotal quanto na tarefa de músico. Na viagem para ouvir música, o concerto é "outra coisa": não se vai a ele com o tempo contado, com o corpo cansado, com os nervos tensos, mas sim vagarosamente, no gratíssimo anonimato, depois de museu ou de paisagem, sabendo, além do mais, que o esperado, chamando-se de ópera de Viena ou balé de Béjart ou concerto de Klemperer, tem garantia de grandeza. E depois, à noite, um livro, um só livro, e como eu os quero para recordação de viagem: usados e "abusados", com programas no meio, com anotações em chave ou sem ela para que, no dia seguinte, seja trabalho e descanso escrever no caderno de bolso.
Escrito quase sempre à noite e com índole de "diário-diálogo". Explico-me também: em Viena, em Edimburgo, em Moscou, quantas vezes falei sozinho, pensando, para escrever depois, tendo diante de mim aqueles que mais mereciam ouvir essa música, esses pequenos grupos de universitários que juntam disco, livro e ilusão de partitura decifrada com titubeio comovedor. Nos festivais é muito frequente convidar os críticos com suas mulheres e o "pós-concerto" costuma ser um jantar em algum lugar divertido ou uma escapada a algum cassino (para o sociólogo: quase não há festival sem propaganda disso). Então o padre fica sozinho, e como a carta teria de ser circular e longa, resume o que prefere para aqueles de quem gosta mais. Sei por experiência própria que, graças à mùsica, maníacos pelo disco, porém empedernidos engenheiros espanhóis, como Dámaso Alonso, entraram na Teologia de Barth ou no esoterismo de Kafka. A eles, em plural e em singular, porque são "grupo", dedico este livro.
Finalmente, há uma certa intenção que poderia chamar de "pedagógica": a preguiça ou, em outras palavras, a herdada incapacidade do espanhol para a expressão da intimidade. E por isso o espanhol figura neste livro como "quase apêndice". Apenas para a expressão? O falar tão alto, o prazer com o ruído, o desinteresse pela música, a rudeza epistolar, a moda de certo tipo de novela, a ausência de "diários" importantes, o fato das "Memórias" terem brotado quase que unicamente como consequência da recordação da guerra civil, a chuva sobre tudo isso do crescimento econômico desordenado, são um sinal claro não de falta de "técnica expressiva", mas sim de pobreza de intimidade, de uma permanente seca interior. É experiência de músico e de sacerdote, inseparavelmente. Reúno estes trabalhos, acrescento alguns inéditos e escrevo este prólogo no vigésimo quanto aniversário da minha primeira missa, e devo recordar que, durante anos e anos de trabalho na Igreja da Cidade Universitária, acreditei, preguei e tenho o seguinte certificado de fruto: juntar música, leitura, diálogo e "diário", enriquecer a intimidade, é tornar o espnhol "mais amoroso". Não existe outra defesa contra a sociedade de consumo porque é ao mesmo tempo fuga e regresso ao mundo: a riqueza de intimidade é sonho que exige encarnação. Porque até o tom da voz é diferente. (Prólogo).
Índice: O "Diário" de Sthendal: Espetáculo e intimidade - O "Diário" de Delacroix: Entre Ingres e Baudelaire - O "Diario" de Gide junto a Beethoven - Wagner entre Schopenhauer e Nietzsche - O "Diário" de Du Bois: Um modo musical de viver - Vianjando com Mr Baring - As "Memórias" de Maurois: A música "mundana" - As "Memórias" de Mauriac: A música sem concerto - Raissa Maritain: Um "Diário" frustrado - Três páginas de "Diário" para Hartmann - O "Diário" de Paul Klee: um pintor músico - O "Diário" de Julien Green: A música "espiritual" - O outro "Diário de Julien
Green - Duas páginas de "Diário": Schwitzer - As manhãs musicais do teólogo Barth - Nota sobre Alban Berg: O "antidiário" - As "memórias" de Bruno Walter - As "memórias" do Chaplin músico - Varese-Astúrias - A música possível para Kafka.
Um quase apêndice espanhol: Castelar-Rossini - A "visualidade de Rubén Darío - O "operismo" de Blasco Ibáñez - A música na "memórias" de Baroja - O "Diário" de Manuel Silvela.
1991
SENNA, Homero. Os escritores e a música. O Estado de São Paulo, 24/08/1991
Reportagem sobre o gosto musical de alguns escritores: André Gide, era pianista e deixou um livro sobre Chopin; Romain Rolland escreveu um romance - Jean Christophe - narrando a vida de um compositor e tornou-se biográfo de Beethoven; Érico Veríssimo tinha preferência por música de câmera, "especialmente o quarteto, que me dá a impressão de uma conversa inteligente entre quatro pessoas civilizadas"; Bernard Shaw achava que "there's nothing better in art than Mozart's best"; Aldous Huxley usou até um termo musical - Contraponto - como título de um de seus romances, que se desenrola entre considerações e comentários sobre duas peças musicais; Miguel Torga regsitra no vol. I do seu Diário: "Beethoven, um deus que viveu na terra por engano. Há exageros, como Gustavo Corção ao opinar sobre o Concerto para clarineta e orquestra em lá maior , K 622, de Mozart: "é certamente uma das coisas mais luminosas, mais belas, mais sobre-humanas deixadas pousadas, esquecidas poralgum anjo neste vale de lágrimas". O filósofo Ortega y Gasset vai mais longe. Numa reflexão sobre a capacidade de nossa alma voltar-se a si mesma, declara: "quando ouvimos a Romanza em fá, de Beethoven, ou outra música típicamente romântica, gozamos dela concentrados 'hacia adentro'. Voltados, por assim dizer, de costas ao que acontece lá no violino, atentamos para o fluxo de emoções que suscita em nós. Não nos interessa a música por si mesma, e sim a repercussão mecânica em nós, e eriçada poeira sentimental que o som passageiro levanta em nosso interior. De certo modo, pois, gozamos não da música, e sim de nós mesmos. Em tal situação, a música vem a ser um mero pretexto, mola, comoção que põe em emanação os fluidos quentes de nossas emoções". Mas, também há os contras. Por incrível que pareça há quem não goste de música. Théophile Gautier, à quem Baudelaire dedicou Les fleurs du mal, achava a música, um "ruído dispendioso"; e entre nós, João Cabral de Melo Neto considerava-a "o único barulho suportável".
1993
GARCIA, Denise Hortencia Lopes. A casa do poeta. São Paulo: Unicamp - Instituto de Artes. Dissertação orientada por José Antonio R. de Almeida Prado.1993
A Casa do Poeta é um trabalho artístico, na área de composição musical. Ele foi desenvolvido a partir da obra literária Poema Sujo do poeta brasileiro Ferreira Gullar. O caminho de aproximação e leitura do texto se deu através dos signos sonoros nele citados, com trabalhos práticos de gravação de sonoridades ambientais em São Luís do Maranhão e outras locações. Uma análise interpretativa desses signos no poema, em base às obras de teoria poética do filósofo francês Gaston Bachelard, deu origem à concepção do trabalho. Os estudos, a edição e a montagem dos sons gravados foram realizados em equipamento tecnológico, com softwares e microcomputador Macintoch. Desta forma, o nosso trabalho é composto de quatro partes, que chamamos de espaços sonoros, sendo três deles( Vozes da Cidade, Um Dia feito d'Água e Trem-pássaro) construções com sonoridades ambientais gravadas, dentro dos pressupostos da chamada arte acústica ou audio arte. Uma quarta parte (Bizuza) foi composta para quatro vozes femininas. No corpo desta dissertação, apresentamos o processo completo de como se desenvolveu o trabalho
1996
FONSECA, Aleilton. Enredo romântico, música ao fundo. Manifestações lúdico-musicais no romance urbano do Romantismo. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1996.
HASSAN, Monica Farid. A relação texto-musica nas canções religiosas de Almeida Prado. São Paulo: Unicamp - Instituto de Artes. Dissertação orientada por Adriana Giarola Kayama. 1996
Este trabalho tem como objetivo o estudo das relações entre texto e música, com especial atenção à parte pianística, nas canções religiosas de Almeida Prado - especificamente as canções sobre textos bíblicos, orações da Igreja Católica Romana e textos e orações escritos por santos. Para isto foi necessária uma análise de diversos aspectos musicais (ritmo, altura, cor, textura e forma), a qual, além de possibilitar uma definição clara das relações entre texto e música, evidencia a importância expressiva do piano nessas canções e contribui para o aprimoramento da interpretação das mesmas e para a divulgação desta parcela da produção artística de Almeida Prado. Contém ainda uma biografia do compositor e um catálogo de suas obras, bem como xerocópias das partituras das canções analisadas, as quais encontram-se em anexo no segundo volume
NESTROVSKI, Arthur. Ironias da modernidade: ensaios sobre Literatura e Música. São Paulo: Ética, 1996.
Escritores que não acreditam nas palavras; compositores que tentam bloquear o fluxo da música; críticos que, mais do que interpretar, dissolvem os textos; estéticas e cânones literários que incluem seu proprio questionamento. Esse universo borgiano não tem nada de surreal: é nele que a arte moderna vive desde seu início. É nele que, paradoxalmente, os textos reunidos neste llivro encontram seu centro e sua coerência. Desde o ensaio Debussy e Poe, de 1986, seguido pelo estudo sobre a música em Joyce, na antologi riverrun - Ensaios sobre James Joyce (1992), Nestrovski trabalha no cruzamento entre linguagem musical e literária. A superposição das duas perspectivas tem seu peso até quando o autor aborda separadamente temas relativos a uma ou a outra área, como na maioria dos ensaios deste livro. É uma posição, de fato, privilegiada: a partir do Romantismo, a linguagem começa a refletir sobre si mesma e, ao mesmo tempo, busca continuamente ir além de si mesma, se confudir com as coisas. Daí sua ironia, no sentido forte do termo. Nenhuma palavra tem mais um significado óbvio, e nenhum som é desprovido de significado. Toda poesia é, no limite, poesia. O modernismo desdobrará os mesmos conceitos - não há ruptura radical, segundo o autor, entre românticos e modernos. Surge daí um outro problema: é possível, a partir de uma estética da ironia, constituir um cânone, ou seja, uma lista de autores e obras que consideramos fundamentais para a formação de nossa civilização? Em outras palavras: é possível estabelecer valores absolutos na época da desconfiança e da dissolução da linguagem? Apesar de tudo, existem autores dos quais nossa civilização não pode fugir. Paradoxalmente, são justamente eles os nossos maiores mestres na arte da ironia, do distanciamento, da instabilidade dos significados. Newstroski indica dois deles, cada um dominando uma das duas seções do livro: Shakespeare e Beethoven. Pertecemos à civilização de Shakespeare; vivemos na época de Beethoven. O Bethoven das últimas obras, sobretudo, que suspende e quase destrói a articulação do discurso musical, para mostrar que há algo atrás da música. E o Sahkespeare barroco, mais relido pelos românticos e os modernos, que multiplica os planos da representação e deixa transparecer uma interioridade pelo esvaziamento dos discursos. Um Shakespeare, que como lembra Nestrovski - mais uma vez, é claro, ironicamente - "dá provas cabais de ter lido Lacan e Derrida". (Lorenzo Mammi)
RAMALHO, Elba Braga. Cantoria nordestina: música e palavra. São Paulo: Terceira Margem, 2000.
2002
OLIVEIRA, Solange Ribeiro. Literatura e música. São Paulo: Perspectiva, 2002.
Concebido como uma introdução atualizada à melopoética, este livro analisa as relações mútuas entre literatura e música, retomando alguns estudos seminais e buscando a mútua iluminação entre estas áreas. Partindo da música para a literatura, examina homologias entre o discurso literário e o musical, incluindo não apenas aproximações rítmico-acústicas, mas formas canônicas de estruturaçã, como sonata, fuga. contraponto, tema e variação. Na vertente contrária, investiga as contribuições, para a análise musical, de abordagens originalmente dominadas ao trexto literário: a crítica estruturalista, pós-estruturalista e feminista, a estética da recepção e a crítica cultural. Avançando por terrenos inexplorados, aborda a função da metáfora musical em produções culturais marcadas pela experiência da colonização. A leitura da ficção contemporânea à luz de referências a formas musicais híbridas como o choro, o lundu e o calipso revela confluências múltiplas, estratégias literárias para a denúncia da exclusão, a pretexto de raça, gênero ou grupo social. No mesmo sentido, a análise melopoética investiga a forma como o antigo tema da origem da Música ou dos instrumentos pode conduzir à discussão ficcionalizada da nostalgia por uma identidade latino-americana mítica; ou como a reescrita de composições musicais eruditas pode visar à construção de um sujeito pós-colonial. É, pois, com os estudos culturais, resumidos na metáfora da música atonal, que a melopoética celebra seu encontro decisivo nesta instigante pesquisa e reflexão crítica.
2004
GARCIA, Lauro Lisboa. A arte de divulgar poesia usando música. O Estado de São Paulo, 12/07/2004.
Reportagem sobre lançamentos de CD's utilizando adaptações musicais de poemas de Pablo Neruda, Fernando Pessoa, Drummond, João Cabral de Melo Neto, Maiakovski, Vinícius de Moraes. Os cuidados e procedimentos adotados pelos compositores.
2007
ASSIS, Jamilie de. Literatura e música: diálogos da crítica. Salvador, BA: III ENECULT – Encontro de Estudos Multidisciplinares em Cultura, 23-25, maio de 2007.
O trabalho tem como objetivo estudar a interface Literatura e Música, tomando como base o levantamento das dissertações e teses produzidas nos cursos de Pós-Graduação em Letras do País. Através dela, busca-se compreender a forma como a crítica literária incorpora os estudos sobre a MPB, assim como a contribuição desse espaço de trânsito entre sistemas semióticos distintos para a consolidação dos Estudos.
2008
MARQUES, Pedro. Manuel Bandeira e a música: com três poemas visitados. São Paulo: Ateliê Editorial, 2008.
Dividido em duas partes, este livro busca cercar as conexões entre Manuel Bandeira e a Música. Em seus versos metrificados ou livres, o que pode ser considerado música em Bandeira? Discutindo concepções tradicionais ou relevantes à lírica moderna (de Mallarmé, T. S. Eliot e Mário de Andrade), Pedro Marques ajusta um método possível para sondar a musicalidade na produção do poeta. Na segunda parte, oferece três estudos de caso. Miram-se os três volumes do autor poeticamente mais plurais e arrojados. Mesmo os juízos críticos fixados sobre Bandeira se estabelecem, em geral, a partir do Ritmo Dissoluto (1924), Libertinagem (1930) e Estrela da Manhã (1936). Assim, a noção de musicalidade poética propõe um quadro diferenciado da obra de Manuel Bandeira. Tanto melhor que seja examinada neste contexto, em que se fundam constantes poéticas e críticas.
2009
CAETANO, Marcelo Moraes. Música (alma) e literatura. www.tirodeletra.com.br (19/04/2009).
A relação entre música e literatura se dá, como a que há entre diversas outras artes umas com as outras, de formas múltiplas, muitas vezes complementares, outras vezes apenas paralelas. É fácil e oportuno, por exemplo, à guisa de preâmbulo, traçarem-se correlatos semânticos entre a literatura e a pintura, a literatura e o teatro, a literatura e o cinema e assim por diante.
Falar da comparação entre música e literatura, entretanto, parece tarefa um tanto ou quanto mais árdua, ou menos precisa. Isso porque o significante da música e o da literatura diferem, já na gênese, diametralmente. A literatura dispõe da evocação sígnica da palavra, que grafa no cérebro humano um sem-número de significados provenientes dessa sua propriedade imanente – o som, a escrita, seja lá o que for que provenha da palavra. A música, por seu turno, é expressão muda no que tange aos significados lexicais. A frase musical é a plasticidade sensorial no tempo – no que se torna análoga (não semelhante, mas análoga) à música –, plasticidade esta, porém, que, a priori, não quer e não necessita a interface imediata que a semântica das palavras propicia.
A música é semântica, sim, mas semântica mediata, requer, mais do que a literatura, da cooperação psíquica do interlocutor. Um dó maior não terá a mesma força-efeito em duas pessoas. Nem terá a mesma força-efeito numa mesma pessoa em dois momentos diferentes. E, por mais que uma metáfora com palavras seja polissêmica e aberta a interpretações e recepções diversas também, está claro que “uma rosa é uma rosa é uma rosa é uma rosa...”
Na música não há uma rosa. Há dissonâncias, pausas, assonâncias, intervalos, dominantes, repousos, marchas, forças, tons, modos, clímax, inquietações, paz, conflitos, soluções... tudo isso abrindo mão das palavras, recorrendo a significantes, portanto, quase que cem por cento sob poder do receptor.
Dado esse brevíssimo cotejo entre as duas artes em questão, resolvi, para este ensaio, falar em alguns aspectos em que, no entanto, música e literatura se tocam amigavelmente. Não que uma precise da outra. Antes diria eu: são casos em que uma quis a outra. É bem diferente. Não se trata da área da necessidade, senão, sim, da área do querer, do bem-querer.
Falar em óperas, por exemplo, é apontar, dentre uma ontologia demasiado vasta, exemplo concreto em que as duas artes se amam. Ocorre-me, por exemplo, a famosa “Carmem”, de Bizet, que foi inspirada, poucos sabem, no romance de Prosper Merimée, que narra, como diz Zito Baptista Filho (A ópera, Ed. Nova Fronteira, p. 60) “uma história mais longa do que a paixão de Carmem e Don José. Ele narrou a história de Don José Lizarrabengoa, que se envolve numa luta sangrenta em sua região natal, na província basca, e vai reaparecer na Andaluzia como Don José Navarro; refaz sua vida como soldado no regimento dos Dragões de Alcalá, sediado em Sevilha, e aí então conhece Carmem, a cigana, sendo novamente conduzido à marginalidade e à tragédia final”. A arquitetura do libreto da ópera de Bizet, no entanto, coube aos hábeis Halévy e Meilhac, célebres, posteriormente, pelas bem-sucedidas empreitadas nas óperas e operetas do também francês, como Bizet, Jacques Offenbach, que era um ídolo pop de sua época.
Nas terras da Santa Cruz, o nosso Brasil, posso citar o caso do grande Francisco Mignone, que adaptou a obra de Manuel Antônio de Almeida, “Memórias de um sargento de milícias”, sob libreto de Humberto Mello Nóbrega. A ópera de Chico Bororó (pseudônimo dileto de Francisco Mignone) se chamou simplesmente “O sargento de milícias”, e foi posta a lume no fim da década de 70 do século XX.
Ainda sem sair do glorioso terreno da dramaturgia operística, podemos citar aqueles autores que tinhas predileção quase obsessiva por determinado escritor. É o caso do gênio de Salzburgo, Mozart, que, amiúde, recorria a Lorenzo da Ponte para criar o texto (subjacente?) às suas imortais composições. Permanecendo nas searas austríacas, o dramaturgo Hugo von Hofmannsthal, que além de escritor tem também o mérito de ter sido um dos mecenas do Festival de Salzburgo, foi, desde jovem, eleito preferido para dar palavras literárias à por si só grandiloquente música do mestre Richard Strauss. “Arabella”, “Ariadne em Naxos”, “O cavaleiro da Rosa”, “Electra” são obras que resultaram dessa parceria genial entre o músico e o escritor.
Verdi, talvez o patriarca da ópera enquanto tal, também recorreu diversas vezes à verve dramática de ninguém menos que William Shakespeare. “Otelo”, “Macbeth”, “Falstaff” estão aí para comprová-lo.
O romântico alemão Goethe, por sua vez, tem sido, há muito, verdadeiro inspirador de várias obras musicais, tanto com seu famoso e celebrado “Fausto”, quanto com seus outros poemas mais curtos. Exemplificam isso, brevemente, a famosa ópra “Fausto”, de Gounod, “Mefistófeles”, de Boito, e “A danação de Fausto”, de Berlioz. (A “Valsa Mefisto”, de Liszt, é indiretamente baseada na famosa história do doutor que engana o diabo, de autoria de Goethe, pois consta que ela teria sido baseada na versão de outro autor sobre a narrativa original. Aliás, como não mencionaríamos, aqui, a versão brilhante e dialógica que Thomas Mann, anos depois, deu ao “Fausto” primitivo de Goethe, em seu “Doktor Faustus”?) Ainda Schubert, “o maior dos poetas que a música já conheceu”, nas palavras de Liszt, produziu uma série de canções (em alemão, Lieder), baseadas em escritores como Heine, Shakespeare e – Goethe. É deste último o famosíssimo “Rei dos Elfos” (“Erlkönnig”), que foi o guindaste definitivo do espírito de Schubert aos ecúmenos da genialidade musical. Eu traduzi para o português essa maravilha em meu livro de poemas “Cemitério de centauros” (Senai, 2007), que tem prefácio dos magníficos Antonio Carlos Secchin, Arnaldo Niskier e Marcos Almir Madeira. Gostaria de deixar registrado que, nessa minha tradução para meu idioma pátrio, mantive de tal forma a métrica linguística do “Erlkönnig” original, que, caso se queira, a versão em português caberá perfeitamente dentro do fraseado musical composto por Schubert. Falo isso não como bazófia, mas para demonstrar que minha preocupação, neste caso e nos demais em que música e literatura estão aliadas, é imensa. Há pouco tempo, fiz a tradução da “Berceuse” de Jocelyn (de Benjamin Godard), e a mesmíssma preocupação de manter a métrica original (dessa vez do francês ao português) se me deu.
A título de ilustração, coloco a primeira estrofe da obra de Goethe (musicada por Schubert), para que se compare que, na minha tradução, as sílabas musicais em português seriam perfeitamente compatíveis àquelas que o mestre de Viena compôes em seu famoso Lied.
Erlkönig
Johann Wolfgang von Goethe
Wer reitet so spät durch Nacht und Wind?
Es ist der Vater mit seinem Kind;
Er hat den Knaben wohl in dem Arm,
Er faßt ihn sicher, er hält ihn warm.
O Rei dos Elfos
Versão: Marcelo Moraes Caetano
Quem cavalga à noite, tarde, vindo ao vento?
É o pai trazendo seu precioso rebento.
Ele o traz tão profundamente no braço...
Mantendo-o seguro, num doce mormaço!
(página 31)
Coube a Liszt a primogenitura de dar à música tons pictóricos, aproximando-a da pintura, naturalmente. Seus “Poemas sinfônicos” traduzem isso com inquestionável maestria. E é curioso que, para comparar a música à pintura, o mestre húngaro tenha usado o substantivo “Poemas”, em vez de, por exemplo, “Quadros”. Ou seja, pode-se inferir que, na alma desse grande magiar, música, pintura e literatura se interpenetram de tal sorte que a designação dessas artes pode ser feita quase que de modo indistinto. Assim ficou claro em sua escolha terminológica.
Por falar em Liszt, que, como muitos sabem, é meu compositor dileto, é interessantíssimo o cotejo entre a obra do grego Nikos Kazantzakis, “O pobre de Deus” (Círculo do Livro, São Paulo), que é a história romanceada da vida de São Francisco de Assis, e o poema musical de Liszt intitulado “São Francisco de Assis pregando aos pássaros”. Nikos ficou famoso por sua obra “Zorba, o grego”, levada ao cinema nos anos 60, tendo como papel título Anthony Quinn. Interessante o cotejo, como dizia eu, diga-se em tempo, até pelo fato de que, neste caso, a obra do escritor grego veio à luz do mundo muitos anos após a escrita da peça do compositor húngaro. (Interessantíssimo, também, saber que Kazantzakis – que escreveu, além da vida de São Francisco de Assis, obras como “Sodoma e Gomorra”, “O Cristo recrucificado”, “A última tentação”, de epifanias evidentemente religiosas - se dizia materialista histórico, marxista, ateu, chegando a ser ministro do governo socialista instituído na Grécia após a famosa resistência frontal e cabal daquele país contra a ocupação nazista.)
No entanto, como nessas coincidências que o destino teima em atribuir ao acaso, há paralelos inegáveis nos dois trabalhos: o de Liszt e o de Kazantzakis. Não apenas – o que seria óbvio e desnecessário – pelo fato de as temáticas serem idênticas, mas sobretudo pelo timbre igualmente poético que se deu à figura central das duas obras-primas: o Arlequim de Deus, São Francisco. Nos dois, por assim dizer, “textos”, Francisco é mostrado não apenas no estereótipo que o senso comum lhe impingiu, qual seja o de figura frágil, debilitada, de ideologia quixotescae até um tanto insana e inconsequente.
Não.
Nas obras – literária e musical – pode-se antever um Francisco profundamente delicado, lúcido, mas igualmente incisivo nas horas em que tal atitude era forçosa. Um homem que não recuava diante das dificuldades, um Santo que sabia dançar e divertir-se desprovido de qualquer sentimento de culpa judaico-cristã, uma pessoa que não se atirava às cegas “contra moinhos de vento”, mas que sabia para quê e para quem estava lutando, e que edificou sua luta altamente guerreira dentro de um espírito de harmonia com todos os elementos da natureza, sem deixar nada de fora – nem mesmo o diabo, pois como ele mesmo diz, em “O pobre de Deus”, em diálogo com seu irmão, apelidado de “Leão”:
“- Não percas a confiança, meu filho – respondeu [Francisco] acariciando-me a cabeça. Procura dominar-te, e se o Diabo te fisgou, nada temas, a porta se abrirá, e vocês dois entrarão no céu.
- O Diabo trambém? Como o sabes, Irmão Francisco?
- Meu coração se abre a todos e a todos acolhe de bom grado, Irmão Leão. Penso que o Paraíso procede como ele.”
Essa força e fé inabalável na Misericórdia de Deus está presente, na obra de Liszt, na seção intermediária, em que os trinados longos da multidão de pássaros da música dão lugar a uma crescente onda de força e vigor que começa com notas em pianíssimo e vai, pouco a pouco, mas sem retroceder, tal qual o próprio Francisco de Kazantzakis, transformando-se em oitavas potentes, que chegam ao fortíssimo, em arpejos especialmente brilhantes e vastos, generosos e enraizados, sem perder o equilíbrio e a majestade que provêm de tudo aquilo que é simples.
Em seguida, o Francisco de Nikos Kazantzakis age da seguinte maneira:
“Virou-se para os pássaros, inclinou-se, com os braços bem abertos, e começou a pregar:
- Meus queridos irmãos: Deus, pai das aves e dos homens, muito os ama, como bem o sabem. E é em sinal de agradecimento que erguem o bico ao céu a cada gota de águia que bebem. Na hora em que o Sol vem bater em seu peito, pela manhã, é para louvar o Senhor que saltitam de ramo em ramo, a garganta cheia de canções, rendendo graças à Luz, às árvores verdes e à alegria. Em seguida, voam bem alto no firmamento, para chegar mais perto Dele e serem ouvidos. E quando as fêmeas chocam os ovos que enchem os ninhos, Deus se transforma num pássaro e se põe a cantar para iludir o seu cansaço.
Os pombos que passavam naquele momento, ouvindo a voz de Francisco, desceram e se atulharam a seus pés. Um deles foi pousar-lhe no ombro, arrulhando. Francisco abaixava-se cada vez mais, agitando as mangas do hábito como se fossem asas. Sua voz cantava, quase se convertia em trinados. Dir-se-ia que ele se esforçava por se metamorfosear em ave. (...)
Agora eram as andorinhas que chegavam, enfileirando-se em cima da sebe ou na beira do telhado da igreja. De asas fechadas, espichavam o pescoço e ouviam. Francisco saudou-as. (...)
- Bom dia, irmãs andorinhas, que todos os anos nos trazem a primavera nas asas compridas (...) Pousadas nas telhas das casas cobertas de neve, ou esvoaçando de galho em galho desfolhado, espicaçam o inverno com os bicos afiados, até obrigá-lo a fugir. E quando vier o Juízo Final, serão vocês, minhas andorinhas, que á frente de todos os seres alados, até mesmo dos anjos com as trombetas, revoarão os cemitérios, chilreando sobre os túmulos, anunciando a Ressurreição. Os mortos, então, hão de ouvir e saltar entre os tufos de camomila, saudando a eterna primavera.
As andorinhas batiam alegremente as asas, os pombos arrulhavam. Os pardais se aproximaram e começaram a bicar com doçura o hábito de Francisco. E ele, erguendo a mão sobre suas cabeças, fez o sinal-da-cruz e os abençoou.” (página 165)
Impossível, realmente, não se visualizar, na música de Franz Liszt, as palavras futuras de Nikos Kazantzakis.
A arte tem esses paradoxos: “São Francisco de Assis pregando aos pássaros” há de ter sido inspirado em “O pobre de Deus”, ainda que a sequência cronológica negue essa inspiração pelo simples fato, tão tolo e comezinho, de “O pobre de Deus” ter sido composto muitos anos depois do poema de Liszt “São Francisco de Assis pregando aos pássaros”.
Trata-se apenas de uma questão de sensibilidade e educação artística, não de lógica matemático-cartesiana... A música, como a literatura, provém da alma. E o seu tempo é outro.
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Ensaio preparado especialmente para o Tiro de Letra
Marcelo Moraes Caetano é
Professor de Português e Literatura; Gramático; Crítico literário; Tradutor de Alemão, Inglês, Francês e Italiano; Estudioso de Latim, Grego e Mandarim. Escritor e poeta, com 12 livros publicados, e várias premiações (Academia Brasileira de Letras, ONU, UNESCO, Fundação Guttenberg, Sesi, Firjan).
CRUZ, Adélcio Souza. Performance e afromineiridade: relações entre literatura e música.Aletria: Revista de Estudos de Literatura (UFMG),
v. 21, nº 1, 2001.
2014
TORRES, Alfredo Werney Lima. Música e palavra nas canções de Chico Buarque e Tom Jobim. São Paulo: Max Limonad, 2014.
Apartir de uma dissertação de mestrado e pautado em assentimentos teóricos da semiótica da canção, o autor descortina analiticamente obras dos compositores Chico Buarque de Holanda e Antonio Carlos Jobim. E como entorno dialógico à pesquisa, traz reflexões apropriadas e extensivas sobre o fenômeno da canção, que vão de formulações modernistas de Mario de Andrade aos debates e propostas téoricas encontrados em literatura comparada e melopoética. Trata-se de pesquisa bem articulada em seu trânsito teórico aplicado, sem intimidações na busca de resultados, que, encotrados, provaram o quanto de homogeneidade e coesão há no discurso cancionista destes compositores e seus efeitos de sentido, que, neste caso, se dão justamente por meio da inter-relação precisa entre os elementos sonoros e verbais. A escritura que o leitor percorrerá aqui é conduzida de dentro para fora, de um lugar de maior segurança, resultado feliz da aderência entre pesquisador e realizador musical, fazendo do entendimento e da aplicação analítica instâncias contíguas. O autor enquanto pésquisador e músico de formação, ambienta-se com propriedade na condução de suas investigações em torno da engenhosidade da canção popular brasileira (Estraído da apresentação)
DISSERTAÇÕES e TESES
1998
PORTELA, Girlene Lima. O fenômeno da intertextualidade na produção caetaneana: o intertexto como veiculador de sentidos. São Paulo: Unicamp - Intituto de Estudos da Linguagem. Dissertação orientada por Ingedore Grunfeld L. Koch. 1998.
PAZ, Ravel Giordano. Estações e encruzilhadas: o inferno e o sonho, a música e o mundo nos romances de Chico Buarque. São Paulo: UNICAMP - Institituto de Estudos da Linguagem. Dissertação sob a orientação de Suzi Franki Sperber.2002.
Este trabalho propõe uma leitura dos romances Estorvo e Benjamim, de Chico Buarque de Holanda, a partir de determinados eixos teóricos e temáticos. O delineamento desses eixos conduz inicialmente a uma tentativa de compreensão dos problemas relativos à gênese e às relações da forma romanescacom o mundo, numa perspectiva que passa pela investigação da dialética entre arte e sociedade mas também de dimensões mais profundas - por assim dizer, "arquetípicas" e "ritualísticas", ou aquelas a que chamamos "dimensões musicais" - da representação literária. Nesse sentido,discutimos o papel que as imagens do inferno e do sonho assumemna constituição do romance moderno, para, em seguida, recolocar essas questões no contexto do "desenvolvimento periférico" brasileiro, onde o problema da representação e do sentimento da natureza se torna um dos temas centrais. Finalmente, detemo-nos sobre as obras de Chico Buarque, onde, além do feixe de questões armadas ao longo desse percurso, ganha ênfase a discussão sobre os horizontes da práxis artística no contexto do dito "mundo pós-moderno".
1997
CASTRO, Antônio José Jardim e. Música: vigência do pensar poético. Tese de Doutorado em Ciência da Literatura – Poética. Rio de Janeiro: UFRJ, Faculdade de Letras, 1997.
RUCKERT, Ernesto von. Música e literatura. Revista Gláuks, do Departamento de Letras da Universidade Federal de Viçosa, ano I, nº 2, jan-fev/1997, pp. 125-138.
Discute-se a relação da Música com a Literatura, abordando a evolução histórica desta relação. Expõe-se as grandes formas musicais intimamente ligadas à literatura: a música litúrgica, a ópera, o “lied” e o poema sinfônico. Destacam-se as maiores obras produzidas nessas formas.
1998
PORTELA, Girlene Lima. O fenômeno da intertextualidade na produção ceataneana: o intertexto como veiculador de sentidos. São Paulo: Unicamp -Instituto de Estudos da Linguagem. Dissertação orientada por Ingedore Grunfeld . Koch. 1998.
Alvo de muitas discussões e trabalhos acadêmicos, a produção artística de Caetano Veloso parece ser uma fonte inesgotável de análises. Por isso, mesmo ela constitui também o corpus desta dissertação composto por canções por ele produzidas em dois momentos de suma importância para a sua obra: as décadas de 60 e 70. Destas, terá destaque a década de 70, dada a contribuição das canções dessa época para o cenário artístico e até histórico da caução brasileira. Tal contribuição caracteriza-se por uma maior liberdade de criação e pela valorização da oral idade em suas letras. A genialidade de Veloso revela-se, entre os muitos outros recursos por ele utilizados, no uso que faz da intertextualidade, com o fim de produzir novos sentidos, o que torna sua obra ainda mais universal. Esta dissertação tem por objetivo estudar a forma como a intertextualidade opera na obra de Caetano, na construção dos textos de suas canções, conjugando outros textos, contextos e pretextos, bem como analisar os aspectos dialógicos, inter e intratextuais e/ou polifônicos de suas produções. Uma vez escolhidos, como objeto de análise, os textos produzidos para serem cantados, , tornou-se necessário proceder, a par da análise lingüística, a alguns comentários sobre retomadas de arranjos, ritmos, e readymades para dar um tratamento global e evidenciar sua força comunicativa que só pode ser aprendida como um todo se considerarmos a canção inteira, observando a combinação de letras arranjos e melodias, que resultam de uma ambivalência que torna sua obra sempre instigante e atual.
2000
MONTANHA, Eleonora V.S. No compasso das horas: Música e morte na obra de Autran. Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC. Dissertação sob orientação de Marco A. Castelli. 2000
Esta dissertação discorre sobre a temática da morte e a linguagem musical na obra de Autran Dourado, centralizando o foco de análise em Ópera dos Mortos. Para decifrar a partitura de Autran optou-se por um recorte sócio-antropológico, conjugado ao embasamento teórico fornecido pelo conceito de alegoria de Walter Benjamin e pelos pressupostos de Lévi-strauss sobre a estrutura do mito. Sob esta ótica, a morte aparece como a grande protagonista da ópera de Autran, seja ele considerada em seus aspectos físicos ou metafísicos, em sua dimensão individual ou social. Ressalta-se ainda a correlação entre estrutura formal e conteúdo: para retratar um universo cindido e plural, no qual cada voz introduz um gragmento distinto da (H)história, o tom musical assume a forma de uma fuga. Da bissetriz impossível destas vozes deriva a figura suprema da alegoria autraniana: a desintegração da experiência individual e coletiva. O compasso inexorável das horas soando nas ruínas do sobrado convida ora ao esquecimento, ora ao influxo do rememorar.
2003
MARQUES, Pedro. Musicalidades na poesia de Manuel Bandeira. São Paulo: UNICAMP - Instituto de Estudos da Linguagem. Dissertação orientada por Orna Messer Lewin. 2003.
Perceber em que sentido a noção de música ou de musicalidade, já há algum tempo entrevista pela critica e pelo próprio poeta, permeia a obra de Manuel Bandeira. Se não é possível chegar a um conceito fixo de musicalidade em sua poesia, parte das várias idéias que o termo sugere, incluindo algumas bastante correntes na tradição poética, podem configurar um caminho de leitura que explicita principalmente os aspectos musicais de alguns poemas do autor.
2004.
AGUIAR, Werner. Música: poética do sentido. Uma onto-logo-fania do real. Tese de Doutorado em Ciência da Literatura – Poética. Rio de Janeiro: UFRJ, Faculdade de Letras, 2004.
CAVALCANTE, Rita de Cássia. Porto Alegre em canto e verso: vinte e poucos anos de canção popular urbana. Porto Alegre: UFRGS. Dissertação orientada por Luis Augusto Fischer. 2004.
Para a realização desta pesquisa foram considerados primordialmente os pressupostos desenvolvidos por Luiz Tatit, em sua obra O cancionista, no que se refere aos aspectos musicais, e por Antonio Candido, em Formação da literatura brasileira, para os aspectos literários. O presente trabalho procurou verificar, através das análises dos elementos literários e musicais, de que maneira se configura o cancioneiro popular urbano como sistema, tendo sido eleitas para o corpus, canções que lancem um olhar diferenciado sobre Porto Alegre e/ou seus símbolos, que atendam à proposta de sistema literário (autor-obra-público) de Antonio Candido, que sejam representativas neste sistema e que atendam ao gosto pessoal da autora.
2005
BEZERRA, Karelayne de A. Coelho. Um anjo dissoluto, a poética de Cazuza do prazer à lucidez. Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC. Dissertação sob orientação de Marco A.M. Castelli. 2005.
Este trabalho traz a proposta de lançar para o estudo acadêmico a poética de Cazuza, compositor e intérprete da Música Popular Brasileira, cuja obra ficou registrada na década de 80, em gravações de LPs, ainda com a banda da qual fazia parte, Barão Vermelho, e depois, em carreira solo. Perseguindo seu desenvolvimento estético, procurou-se estabelecer a sintonia entre música popular e literatura contemporânea, traçando também características históricas acerca de alguns gêneros musicais, como é o caso do rock'n'roll, do Blues, do samba e da própria Bossa Nova, os quais pertenciam ao universo musical desse artista. Para comprovar a força literária das composições, fez-se necessário também analisar o espaço poético no qual esteve incrustado Cazuza, para escrever seus versos. Assim, percebeu-se que, num primeiro momento de sua obra, há um maior interesse pelo corpo, que se desdobra em sensualidade latente e vida boêmia, configurando o Eu poético como transgressor dos costumes da sociedade na qual esteve inserido. Num momento mais maduro de sua obra, já na carreira solo, este mesmo Eu poético busca desvendar o inexorável da alma humana, então, o apego ao divino ou a elementos transcendentais torna-se uma constante. Finalmente, ainda deu-se atenção a alguns elementos que influenciaram sua produção artística, como autores consagrados da Literatura e outros compositores da música popular.
SOUZA, Rejane de. Luiz Gonzaga: poesia do canto e canto da poesia. Natal: UFRGN. 2005. Mestrado sob orientação de Francisco Ivan da Silva.
A obra de Luiz Gonzaga faz parte da história da literatura popular brasileira. No entanto, ainda há uma grande carência de estudos no universo acadêmico sobre este assunto. Diante disso, a pesquisa, aqui, visa a despertar para os temas gonzagueanos onde música e poesia se fundem, tendo como meio de expressão as tradições e os costumes da cultura nordestina. Nessa travessia, percebe-se, ainda, que a obra poético-musical que Luiz Gonzaga criou junto a parceiros, entre os quais se destacam Humberto Teixeira e José Dantas, dialoga com o trovadorismo, especialmente no que diz respeito aos elementos da natureza, aos amores proibidos, ao sentimento de exílio e à saudade. Este diálogo recupera a relação entre música e poesia praticada pela civilização grega, retomada, anos depois, pela Península Ibérica onde a fusão das duas artes teve seu ponto máximo através das cantigas medievais. No entanto, essa retomada dos motivos trovadorescos, dos quais Luiz Gonzaga se apropria, é vestida de uma nova roupagem, na qual se atualiza essa tradição através de elementos regionais, mesclando-se, assim, o clássico ao contemporâneo. Isso ocorre através da criação de uma paisagem que, apesar de se revelar por um análogo bucolismo, em monólogos com o eco, com as aves, atribuindo características humanas a seres e objetos inanimados; recria novos matizes através de elementos típicos do sertão, como sabiá, asa branca, assum preto, jiló, juazeiro, conferindo ao seu universo musical o traço da regionalidade.
2006
BYLAARDT, Cid Ottoni. Lobo Antunes e Blanchot: o diálogo da impossiblidade (figurações da escrita na ficção de Antonio Lobo Antunes). Belo Horizonte: UFMG - Faculdade de Letras. Tese orientada por Silvana Maria P. de Oliveira. 2006.
O objetivo desta tese é empreender uma leitura cuidadosa de sete romances do escritor português António Lobo Antunes, sob a luz das concepções de literatura de Maurice Blanchot. Numa perspectiva comparativista, relaciona-se esse universo ficcional às formulações do filósofo francês, o que produz um diálogo bastante fecundo, e às vezes surpreendente. Para Maurice Blanchot, a literatura só é possível no domínio da impossibilidade, na busca não-explicitada da escrita, sem plano nem objetivo, que independe da pessoa do escritor. Sustentamos que a fabulação romanesca antuniana sucumbe a esse domínio órfico irrecusável, propiciando o levantamento de questões como a dispensa do autor do texto, a literatura como impossibilidade, a tormenta da escrita literária, o silencia na literatura, o "désoeuvrement", a escrita do neutro, a concepção blanchotiana de imagem e símbolo, a origem noturna do texto literário.
CUNHA, Auristela Crisanto da. Machado de Assis em contos: uma constelação de partituras. Natal: UFRN. Tese orientada por Ilza Matias de Souza. 2006.
Ese trabalho busca o emprendimento de uma (re)leitura dos contos "Um homem célebre", "Cantiga de esponsais", "Terpsicore", Trio em lá menor", "O machete", e "Marcha fúnebre" de Machado de Assis, procurando neles observar as manifestações de musicalidade, entendendo-se musicalidade sob o ponto de vista das teorias musicais contempoêneas, ou seja, como indicações de dinamicidade decorentes do estímulo melopaico à apreensão das palavras e/ou imagens que se inscrevem no corpo estático da escitra a partir de procedimentos literários quetrasnportam para o texto características próprias de outras artes como música, poesia, dança e teatro performáticos. Tais procedimentos, que se refletem na escritura como produto de repertório íntimo machadiano, acabam muitas vezes por favorecer, através da ficção, o delineamento do contexto musical do Rio de Janeirodo século XIX, bem como das implicações sociais que as tranformações do cenário musical impunham à constituição da subjetividade.
2007
COSTA, Cristiano Bedin da. Matérias de escrita. Porto Alegre: Faculdade de Educação da UFRGS. Dissertação sob orientação de Sandra Mara Corazza. 2007.
Trata-se de matérias e da escrita. E especialmente de matérias de escrita. Trata-se do texto. Do estilo. Da língua, do sentido, das formas e da linguagem. Trata-se do ritmo. Do ritmado. De conteúdos, substâncias e expressões. Trata-se de procedimentos. De sonoridades e de refrões. De sons organizados e ruídos. Trata-se do que trata a literatura. E também a música. A pintura. O cinema. A poesia. E também a filosofia. O cotidiano. A educação. Trata-se de fixar alguns eixos. De traçar alguns contornos. Delimitar alguns meios. De manter algumas posturas. Trata-se de construções e de fugas. De pontos e de linhas. De Deleuze e de Guattari. De Barthes, Beckett, Kafka, Rilke, Flaubert e Manoel de Barros. De Schulz, Hjelmslev, Klee, Blanchot e Céline. E também de Fante, Ponge, Cage, Miles Davis e Bukowski. Trata-se do que se encontra nas coisas. De ínfimos pedaços disso tudo e sobretudo do resto. Da ruína. Do silêncio. Dos abismos e da desconstrução. Trata-se do inominável. Dos limites. De alguns tensores e de conexões e suspensões. Trata-se da despalavra e da palavra ágrafa. Do instante-nada das coisas todas quando distantes da usura da vida. Trata-se do indiferenciado e de sua maleabilidade. Do impossível e de alguma outra possibilidade. Do cansaço e da desistência. Do uso e de seu inverso. Do esgotamento e da criação.
BARBEITAS, Flavio Terrigno.
A música habita a linguagem teoria da música e noção de musicalidade na poesia: teoria da música e noção de musicalidade na poesia. Belo Horizonte: UFMG. Tese orientada por Maria Antonieta Pereira. 2007
A tese propõe uma discussão da relação entre música e linguagem, colocando em perspectiva crítica a tendência contemporânea de classificação apriorística da música, no quadro epistemológico, como um sistema semiótico . De um lado, acentuado o fato de a linguagem verbal e a música compartilharem a sonoridade, o trabalho busca evidenciar elementos que podem ser qualificados como musicais e que atuam na linguagem ainda antes de se integrarem na engrenagem de significação e codificação, como é o caso da voz. De outro, explorando a noção de musicalidade que permeia a teoria da poesia, a tese indica que o valor musical de um poema costuma justamente estar ligado à capacidade de a linguagem poética escapar à lógica férrea da representação e da significação unívoca, em proveito da exploração da ambiguidade e do potencial de movimento da palavra, com suas múltiplas direções e sentidos.Por essa dupla via, questiona-se exatamente o primado da representação e da significação (logocentrismo).
BARBEITAS, Flavio Terrigno. A música habita a linguagem: teoria da música e noção de musicalidade na poesia. Belo Horizonte: UFMG, 2007. Tese orientada por Maria Antonieta Pereira.
A tese propõe uma discussão da relação entre música e linguagem, colocando em perspectiva crítica a tendência contemporânea de classificação apriorística da música, no quadro epistemológico, como um sistema semiótico. De um lado, acentuado o fato de a linguagem verbal e a música compartilharem a sonoridade, o trabalho busca evidenciar elementos que podem ser qualificados como musicais e que atuam na linguagem ainda antes de se integrarem na engrenagem de significação e codificação, como é o caso da voz. De outro, explorando a noção de musicalidade que permeia a teoria da poesia, a tese indica que o valor musical de um poema costuma justamente estar ligado à capacidade de a linguagem poética escapar à lógica férrea da representação e da significação unívoca, em proveito da exploração da ambiguidade e do potencial de movimento da palavra, com suas múltiplas direções e sentidos. Por essa dupla via, questiona-se exatamente o primado da representação e da significação (logocentrismo) - pelo qual a música foi progressivamente relegada a um plano secundário na classificação ocidental do conhecimento - discutem-se as bases em que historicamente se estabeleceu a chamada teoria da música.
SANTOS, Juliana. Vinícius de Moraes e a poesia metafísica. Porto Alegre: UFRGS. Dissertação orientada por Ana Maria Lisboa de Mello. 2007.
Freqüentemente, os críticos dividem a produção poética de Vinicius de Moraes em duas fases, intitulando-as fase mística e social. Fazem parte da chamada primeira fase as seguintes obras: O caminho para a distância (1933), Forma e exegese (1935), Ariana, a mulher (1936), Novos poemas (1938) e Cinco elegias (1943). A segunda fase é composta principalmente pelos seguintes livros: Poemas, sonetos e baladas (1946), Pátria minha (1949), Antologia poética (1954), Livro de sonetos (1957) e Novos poemas (II) (1959). Alguns estudiosos, como Renata Pallotini e Otto Lara Resende, consideram a produção inicial de Vinicius, voltada para questões metafísicas, como um experimentalismo estético, logo abandonada para dar lugar ao verdadeiro poeta que se apresentaria em um segundo momento, dedicado à lírica de tendência social e amorosa. Outros críticos, como Antonio Candido e David Mourão Ferreira, contrariando tal posicionamento, defendem a idéia de uma reelaboração destes princípios para uma espécie de humanização do sentimento religioso. Partindo desses posicionamentos, este trabalho dedica-se ao estudo da poesia inicial de Vinicius, destacando as suas principais características e influências, e ainda à apresentação de alguns poemas da sua produção final e de algumas criações musicais, como forma de lançar luz sobre o percurso dos fundamentos e do simbolismo religiosos na produção artística do poeta. Inicialmente, foi feita uma revisão da fortuna crítica de Vinicius e, em seguida, realizou-se a análise das composições poéticas e musicais, tomando por base o texto bíblico e os fundamentos teóricos da lírica, da metafísica e do imaginário. A pesquisa permitiu caracterizar a poesia inaugural, no que tange à questão da religiosidade e, a partir disso, dar visibilidade à permanência destes elementos de caráter metafísico, tanto na poesia final quanto na canção, o que contraria a tese do artificialismo de sua produção inicial.
PINHEIRO, Elizângela G. Pinheiro. Cantadores e Cantadores: Castro Alves, João Cabral de Melo Neto e Elomar Figueira de Melo. Goiana: UFGO, 2007. Mestrado orientado por Rogério Santana dos Santos.
O presente trabalho analisa poemas de Castro Alves, de João Cabral de Melo Neto e algumas canções de Elomar Figueira de Melo. A pesquisa em pauta visa, apenas,mostrar influências da literatura oral nos poemas dos livros A Cachoeira de Paulo Afonso e Os escravos, de Castro Alves; em Morte e vida severina e Auto do Frade, de João Cabral de Melo Neto e, ainda, nas canções dos cds Das Barrancas do rio Gavião e Nas quadradas das águas perdidas, de Elomar Figueira de Melo. O primeiro poeta escolhido parece ter visível influência do ritmo e da musicalidade dos cantadores de viola e de cordel, tanto que já se encontram trabalhos nessa vertente, Cavalcanti Proença apresenta uma análise interessante nesse aspecto. Já os livros de João Cabral de Melo Neto parecem ser mais complexos, sobretudo no segundo, tanto que não há nenhuma investigação conhecida. Quanto ao compositor Elomar Figueira de Melo não se encontra nenhum estudo acadêmico e mais denso a esse respeito, somente artigos curtos, na sua maioria de jornal. Todos três parecem apresentar aspectos da literatura de cordel, do ritmo prosaico e do ritmo longo, de oito a dez sílabas, herança também da música popular, além dos ditos, improvisos e sentenças de desafios. Já Elomar apresenta canções arquitetadas nas formas e nos conteúdos dos trovadores medievais. Para melhor compreensão desse corpus analisou-se os poemas supracitados de maneira expositiva e analítica, muitas vezes foram estudados de forma comparando-os com textos mais antigos. Constata-se que Castro Alves representa nuancas das música de cantoria, dos motes, ditos e provérbios populares. João Cabral de Melo Neto, o poeta pernambucano, parece construir versos longos e com ritmos minemônicos dos estribilhos, sobretudo em Morte e vida Severina e ainda representa aspectos da oralidade em Auto do frade. Já Elomar Figueira de Melo condensa o simples com o erudito em suas músicas, retrata a linguagem tal como ela é, reúne temas que vão do trovadoresco ao sertanejo com toda sua gama de aflição, diante das dificuldades da seca.
2008
ALMEIDA NETO, Arnoldo G. Música das formas: a melopoética no romance Avalovara, de Osman Lins. Recife: Universidade Federal de Pernambuco. Dissertação sob orientação de Ermelinda M.A. Ferreira. 2008..
Este trabalho debruça-se sobre o veio ainda pouco explorado, no campo da análise intersemiótica, das relações possíveis entre duas artes ditas “temporais” na clássica definição de Lessing: a literatura e a música. Embora mais próximas, neste aspecto, do que as ditas artes “irmãs”, mas “rivais” – a literatura e a pintura –, verifica-se que as abordagens comparativas do texto e da imagem superam amplamente os estudos comparativos do texto e da música no universo da crítica literária contemporânea. Esta dissertação pretende, portanto, contribuir para diminuir essa lacuna, e ao mesmo tempo iluminar aspectos ainda obscuros sobre a gênese de um romance exemplarmente intersemiótico e experimental: o Avalovara, do escritor pernambucano Osman da Costa Lins. A partir das pesquisas de Steven Paul Scher, revistas pela professora Solange Ribeiro de Oliveira sobre a Melopoética – disciplina que pretende investigar a mútua iluminação entre a musicologia e os estudos literários –, procuramos analisar as possíveis homologias entre o discurso literário e o musical ao longo da narrativa osmaniana, considerando três aspectos principais: 1. a citação, no romance osmaniano, de peças como a Sonata em fá menor K 462, para cravo, de Domenico Scarlatti, compositor italiano do século XVIII; e a Cantata Catulli Carmina, de Carl Orff, compositor alemão do século XX, que dialoga com os textos do antigo poeta romano Catulo (84-54 A.C.) no processo de construção de uma metáfora musical para o romance: o relógio; 2. a criação de um personagem músico, o tecladista e horologista Julius Heckethorn, supostamente baseado na biografia real do compositor serialista alemão Anton Webern, em consonância com o personagem compositor Adrian Leverkühn, do Doutor Fausto, de Thomas Mann, baseado no compositor Schoenberg, criador do método serial na música; e 3. a utilização de uma mesma metáfora visual-literária – o Quadrado Sator, criado a partir de um palíndromo – na organização estrutural do romance Avalovara, de Osman Lins, e numa composição de Anton Webern, o Concerto para nove instrumentos Op. 24; a fim de discutir como esses autores de distintas artes temporais buscaram, cada um no seu meio mas com recursos similares, repensar a noção do tempo tradicionalmente atrelada à definição desses dois gêneros artísticos – a literatura e a música – buscando, ambos, resgatar a noção de espacialidade em suas obras.
BARBOSA, Rogério Vasconcelos. B. Escuta / escrita: entre olho e ouvido a omposição. Porto Alegre: UFRGS- Instituto de Artes. Tese orientada por Antonio Carlos Borges, 2008.
Esse trabalho busca desvelar alguns aspectos da complexa relação entre escuta e escritura, no processo de composição. O compositor lida com esses dois pólos, ajustando a imaginação sonora à sua representação escrita. Mas não se trata apenas de representar, de codificar, pois a representação envolve de tal modo a imaginação, que direciona seus percursos e delineia seus limites. Todavia, a sensação sonora pode conduzir a imaginação musical a regiões que requerem novas formas de representação, ainda não codificadas. Há um constante jogo de forças entre escuta e escritura. Esse conflito exige ajustes periódicos nas categorias culturais utilizadas para mediar os dois pólos. Após uma investigação teórica sobre as condições em que se estabelecem a escuta e a escritura, proponho um conjunto de categorias que considero úteis na organização de um pensamento composicional contemporâneo: mapa temporal, tipos texturais, gesto e envelope. Em seguida ao estudo do quadro de categorias, analiso duas peças minhas - iri (2004), para piano solo e oscuro lume (2006/2007), para orquestra - incluídas no portfolio de composições que integra meu trabalho de doutorado. A análise confirma a pertinência das categorias propostas e busca a organização da composição entre os pólos da escuta e da escritura, considerando os traços formais de organização em sua emergência e ambigüidade.
LAHM, Alexandra C. da Silva A união das artes: Música e Literatura na obra de Luiz Antonio de Assis Brasil. Pontifícia Universidade Católoica do Rio Grande do Sul. Dissertação sob a orientação de Maria Eunice Moreira, 2008
Esta dissertação propõe uma leitura das obras O homem amoroso, Conerto campestre e Música perdida, de Luiz Antonio de Assis Brasil, como objetivo de analisá-las à lus dos prossupostos teóricos propostos por Luiz Piva e Solange Ribeiro de Oliveira, que aproximam o discurso literário e o discurso musical, através do coceito da Melopoética. A proposta nãosó amplia a fortuna crítica sobre o autor, no que diz respeito à questão da influência musicalç presente na sua produção literária; determinao léxico comum entre as duas artes, ou seja, literatura e música; mas também comprovaa inter-relação entre música e literatura, através da migração de elementos musicais para a literatura, que auxiliam na criação de personagens literários "músicos".
BEZERRA, Fernanda Gama. O diálogo entre a ópera e o romance Ópera dos Mortos, de Autran Dourado. São Paulo: Instituto Mackenzie. Dissertação sob orientação de Maria H.F. Peixoto. 2008
A presente dissertação tem como objetivo analisar o diálogo estabelecido entre o romance Ópera dos mortos, do escritor mineiro Autran Dourado, e o gênero musical a que o título da obra faz referência, bem como suas implicações na construção dos sentidos. Tal escolha justifica-se na medida em que entendemos que examinar as relações instituídas entre esse texto literário e outro sistema semiótico é caminho, dentre as várias possibilidades de leitura, para o conhecimento da complexidade do referido romance. Ressalte-se que o termo ópera será considerado em sentido amplo; mais que um espetáculo que une música, teatro e poesia, a ópera é uma das manifestações artísticas que melhor representa o caráter trágico da existência humana. Assim, em um primeiro momento, serão examinadas a dimensão simbólica do sobrado da família Honório Cota, enquanto espaço cênico, e a significativa relação entre tempo e espaço. Em seguida, traçar-se-á um paralelo entre a trajetória da protagonista e os caminhos percorridos por algumas das mais célebres heroínas de ópera, buscando entender por que, invariavelmente, a mulher é castigada na arena operística.
DIETRICH, Peter. Semiótica do discurso musical: uma discussão a partir das canções de Chico Buarque. São Paulo: USP. Tese sob orientação de Luiz Augusto de Moares Tatit. 2008.
Ao longo das últimas três décadas observamos o progressivo interesse que a semiótica da canção popular desenvolvida por Luiz Tatit a partir da semiótica greimasiana vem despertando no meio acadêmico. Situada na fronteira dos domínios da lingüística e da música, e justamente por isso, a canção se apresenta como um objeto de difícil análise. Teorias específicas para o componente verbal e musical raramente se compatibilizam a ponto de permitirem uma análise homogênea. O êxito obtido até agora pela semiótica greimasiana pode em parte ser explicado por sua forte vocação para a multidisciplinaridade, a despeito de sua origem e tradição lingüística. Em suas formulações iniciais foram considerados apenas alguns parâmetros musicais que estruturam a melodia da canção. Dessa maneira, poderíamos afirmar que em um primeiro momento a canção foi considerada uma palavra cantada, opondo-se a palavra falada da nossa fala cotidiana. Percebemos que parte dos esforços dos pesquisadores que se dedicam ao desenvolvimento dessa teoria consiste em tentar incorporar cada vez mais elementos musicais. A partir de uma revisão crítica da literatura atual, esse trabalho discute e propõe procedimentos de semiotização do material musical, especialmente no que se refere ao timbre e às questões de harmonia. Para garantir a coerência necessária com os fundamentos da teoria, propusemos a distinção entre o discurso da produção musical e o discurso musical propriamente dito, discutimos a relação entre plano da expressão e plano do conteúdo no discurso musical, assim como sua organização hierárquica. Dentro dessa diversidade de assuntos e abordagens, elegemos como fio condutor do trabalho a obra cancional de Chico Buarque, que representa a um só tempo a fonte de indagações e a sustentação dos resultados obtidos.
2009
PASSONI, Mariana V. Mezzalira. Veredas sonoras: música e escritura na narrativa de Grande sertão. São Paulo: Pontifícia Universidade Católica. Dissertação sob a orientação de Amauri Lopes, 2009.
Esta pesquisa tem por objeto de estudo a musicalidade da narrativa da personagem Riobaldo na obra Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, à luz dos conceitos de voz, oralidade e performance, segundo Paul Zumthor. Ao notarmos a música como elemento constituinte da escritura da obra, fomos buscar nas declarações do próprio Rosa argumentos que demonstrassem sua intencionalidade ao utilizar a música como fator de construção metaficcional em seu projeto autoral. Em nossas pesquisas, encontramos um paralelismo muito forte entre a epopéia narrada por Riobaldo e a ópera dodecafônica (como as compostas por Wagner, por exemplo), e, partindo do estruturalismo de Lévi-Strauss (que defende a similaridade e contigüidade entre o mito e a música), nos propusemos a esboçar essa partitura que se oculta sob o véu da escrita caligráfica de Guimarães Rosa. Para tanto, foi-nos necessário fazer uso também de conceitos musicais, tais como contagem rítmica, tipos de compassos, tempos das notas etc. Foram pertinentes, também, o ensaio sobre o narrador, de Walter Benjamim, além dos apontamentos acerca do som e o sentido, de José Miguel Wisnik. É importante ressaltar que, embora já houvessem outros estudos relacionando a música com a obra de Rosa, estes se limitavam a estudar as cantigas presentes no texto roseano, enquanto que nosso trabalho propõe que a obra Grande Sertão: Veredas, pode, como um todo, ser concebida como uma composição musical, com seus temas, sub-temas, variações e refrões. Dessa forma, ao evidenciarmos essa música subjacente ao texto, que se descortina perante nossos olhos (e ouvidos), torna-se possível vivenciar a grandeza cantável, da qual nos fala Riobaldo.
RESENDE, Nara Cristina Nunes. Acontece que as orelhas não têm pálpebras: o esterior na literatura e na música contemporâneas. Belo Horizonte. Dissertação orientada por Ruth Junqueira S. Brandão. 2009.
Esta dissertação propõe-se a um estudo acerca da noção de exterior literário, tal como este se apresenta no pensamento do teórico francês Maurice Blanchot. À noção de exterior serão articuladas, neste estudo, idéias outras blanchotianas, dentre as quais destacam-se a morte, a solidão essencial e o tempo. Tal pensamento será aqui tratado a partir de um encontro entre a literatura e a música contemporânea
PÁDUA, Mônica Pedrosa. Imagens de brasilidade nas canções de Câmara de Lorenzo Fernandez: uma abordagem semiológica das articulações entre música e poesia. Belo Horizonte: UFMG. Tese sob orientação de Leda Maria Martins. 2009.
Nesta tese, procuramos investigar as articulações entre poesia e música nas canções de câmara brasileiras, pensar sobre sua brasilidade e suas possibilidades interpretativas. O corpus escolhido consiste em sete canções representativas de Lorenzo Fernandez, considerado um compositor nacionalista. Neste trabalho, buscamos demonstrar que uma canção de câmara pode criar imagens, e que as canções de Lorenzo Fernandez constroem certas ideias de brasilidade por meio das imagens que criam. Para que isso fosse possível, constituímos, numa abordagem transdisciplinar, a imagem de características sensoriais diversas como conceito transversal capaz de aproximar as diferentes linguagens da canção. Os referenciais teóricos sobre tradução nos auxiliaram na adoção de atitudes interpretativas que privilegiaram a criatividade e o método. Para construirmos sentido nos textos poéticos e musicais, utilizamos as teorias tradutórias em contraponto com a semiologia da música e a teoria tripartite de Jean Molino e J. J. Nattiez. Para construirmos uma estratégia de percepção das imagens, partimos das ideias do mosaico e da rede. Valendo-nos dos diferentes níveis sígnicos distinguidos por Peirce, verificamos a partir de que elementos do texto poético e musical é possível perceber a visualidade, a plasticidade, o movimento, a espacialidade, a temporalidade, e, por fim, os diferentes sentimentos responsáveis pela criação de imagens ligadas aos nossos vários sentidos. Por fim, procuramos demonstrar, nas canções de Lorenzo Fernandez, em diálogo com os contextos do autor e do intérprete, as imagens de brasilidade que, nas canções e a partir delas, se constituem
LAHM, Alexandra C. Silva. A união das artes: música e literatura na obra de Luiz Antonio de Assis Brasil. Porto Alegre: PUC/RS. Dissertação orientada por Maria Eunice Moreira. 2009.
Esta dissertação propõe uma leitura das obras O homem amoroso, Concerto campestre e Música perdida, de Luiz Antonio de Assis Brasil, com o objetivo de analisá-las à luz dos pressupostos teóricos propostos por Luiz Piva e Solange Ribeiro de Oliveira, que aproximam o discurso literário e o discurso musical, através do conceito da Melopoética. A proposta não só amplia a fortuna crítica sobre o autor, no que diz respeito à questão da influência musical presente na sua produção literária; determina o léxico comum entre as duas artes, ou seja, literatura e música; mas também comprova a inter-relação entre música e literatura, através da migração de elementos musicais para a literatura, que auxiliam na criação de personagens literários "músicos".
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