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Cinema
Alberto Moravia

"Em certo sentido, sim, o cinema empobreceu a literatura. Deu um rude golpe à narrativa, mas obrigou-a, ao mesmo tempo, a renovar-se. Depois da consolidação do ciema já não é possível conceber um romance descritivo a exemploe de Père Goriot. Somente para descrever a pensão em que morava o protagonista, Balzac empregava umas vinte, quarenta páginas, nem sei quantas; num filme, em poucos segundos, vemos toda a pensão. E os romances dramáticos, de ação, de aventura, encontram também na tela um concorrente feroz. Enfim, o cinema é uma arte estranha, que fica entre a pintura e o romance. Está ligado ao romance pelo problema da 'duração': sem dispor do pretérito imperfeito ou do pretérito perfeito, a narração cinematográfica está sempre em ligação direta com o presente. Quando na tela Júlio César atravessa o Rubicão, entende-se que está atravessando agora. Além disso, como passatempo, o cinema é muito mais eficaz que o romance. Os filmes de mera diversão ocuparam o lugar de milhares de romances, também de entretenimento, que todos outrora corriam para comprar e que agora já nem sequer se imprimem. E há também os laços do cinema com a pintura"

Fonte: AJELLO, Nello. Moravia: entrevista sobre o escritor incômodo. São Paulo: Civilizaçõa Brasileira, 1986.

“Onde quer que haja artesanato, há arte. Mas a questão é: até que ponto permitirá o cinema expressão? A câmara é um instrumento menos complexo de expressão que a pena, mesmo nas mãos de um Eisenstein. Jamais será capaz de exprimir tudo aquilo, digamos, que Proust era capaz de fazê-lo. Jamais. A despeito disso, é um meio espetacular, transbordante de vida, de modo que o trabalho não é inteiramente penoso. É, hoje, a única realmente viva na Itália, devido ao seu grande apoio financeiro. Mas  trabalhar para o cinema é exaustivo. E um escritor não consegue ser mais que um homem-idéia, ou um cenarista – um subalterno, na verdade. O cinema oferece-lhe pouca satisfação, à parte o pagamento. Seu nome não aparece sequer nos cartazes. Para um escritor, é uma tarefa amarga. E, o que é mais, os filmes são uma arte impura, à mercê de uma confusão de mecanismos – gimmicks (truques), como, creio os senhores dizem em inglês... ficelles.(artimanhas). Quase não há espontaneidade. Isso não deixa de ser natural, claro, quando pensamos nas centenas de expedientes mecânicos empregados na feitura de um filme, no exército de técnicos. Todo o processo não passa de cortar e deixar secar. A inspiração da gente torna-se rançosa, quando se trabalha no cinema – e, o que é pior ainda, a mente das gente se acostuma para sempre a procurar truque e, ao fazê-lo, acaba por arruinar-se, por destruir-se. Não me agrada, de modo algum, trabalhar para o cinema. Os senhores compreendem o que quero dizer: suas compensações não são, num sentido real, compensadoras; mal valem o dinheiro que se ganha, a menos que se precise dele”.  

Fonte: COWLEY, Malcom. Escritores em ação: As famosas entrevistas à “Paris Review”. R.Janeiro: Paz e Terra, 1968.

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