“Alguns dos novos autores que estão fazendo sucesso na literatura são também roteiristas de cinema e TV, como José Roberto Torero e Patricia Mello. Dei aula aqui na PUC para uma turma que tinha alunos de Letras e de Comunicação e observei eu eles já pensam a narrativa como um roteiro de cinema na TV. Eles escrevem um conto, eles roteirizam, imaginam as imagens. Eu não sei se isso vai ser uma tendência, pode ser uma discussão. Roteiro tem status de literatura? Muitos roteiros estão sendo publicados, sobretudo norte-americanos. Há roteiros extremamente literários... Por isso esse cruzamento de cinema com literatura desperta discussões tão interessantes, como a da fidelidade. O que é ser fiel a Guimarães Rosa quando se adapta para o cinema uma de suas obras: é seguir a história narrada ou é captar o espírito dele? Quando você lê um livro, você faz um cinema mental. Quando você vê um filme adaptado de um romance, você se depara com o cinema mental do diretor, que não é igual ao seu, mas nem por isso é infiel à obra que o gerou. No livro, o leitor é senhor de seu roteiro, imagina o que quiser. No filme, não”.
Fonte: Jornal do Brasil, 29/11/1997 – Alexandre Medeiros
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