“Estabeleço pressupostos estéticos na fase de roteirização, mas claro que, na hora da filmagem, novas idéias se agregam. Isto porque você tem ali uma realidade nova. O ator, muitas vezes, não é o que você imaginou quando estava escrevendo. É melhor ainda. Há os cenários, as texturas de imagem permitidas pela luz, enfim, matérias vivas que fazem daquele momento, da hora mesma da criação, um novo tempo de elaboração estética... O conceito básico do filme (Estorvo, livro homônimo de Chico Buarque de Hollanda) é a dinâmica do mundo moderno. Vou trabalhar com uma estória marcada pelo caótico, pela velocidade, pela loucura urbana. Vivemos num tempo marcado pelo videoclipe, pela rapidez, pela Fórmula 1, A isto acrescentarei a angústia do personagem, um homem dilacerado pelo sentimento de perseguição. Haverá tempos reflexivos, mas no geral, a velocidade dará a tônica. Promoverei um verdadeiro corpo-a-corpo entre os atores. Não haverá planos intermediários. Ou serão próximos ou distantes”.
Fonte: CAETANO, Maria do Rosário. Cineastas latino-americanos: entrevistas e filmes. São Paulo: Estação Liberdade, 1997
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