“Eu demoro muito para ir ao papel: quando vou, escrevo sempre à mão, para ser obrigado a escrever mais devagar. Depois que a escrita ganha um certo ritmo, passo para a máquina e corrijo muito: essa é, digamos, a mecânica do ofício. Antes de ir para a máquina, eu convivo muito com o texto e essa convivência dá-se nas maneiras mais absurdas: caminhando pela praia de manhã, ou nas noites de insônia, ou ouvindo música – só trabalho com música, porque ‘viajo’ muito pela música e vôo atrás da palavra escrita. A minha briga com isso que os eruditos chamam de estilo (eu não sei o que dizer) é escrever de maneira mais seca possível, insinuando mais do que dizendo e procurando criar uma atmosfera. Escrevo sempre partindo da realidade: a minha capacidade de invenção é muito limitada, mas não faço uma prosa realista; ou seja: parto da realidade para reinventá-la e devolvê-la de uma outra maneira. Gosto muito da definição de um cubano sobre literatura: ‘Esta é a vida de Maria, tal como ela me contou e tal como eu conto para ela’. Eu trabalho procurando isso, sempre procurei. A minha relação com a palavra é de buscar seu ritmo, acho que o texto tem que ter uma respiração uniforme, como a de uma pessoa que dorme. Às vezes procuro as palavras mais melódicas, mais delicadas, talvez porque eu me esforce para ter um texto mais seco; então eu gosto que dentro dele apareçam palavras que quebrem um pouco essa secura”.
RICCIARDI, Giovanni. Escrever 2. Bari: Ecumênica Editrici scrl, 1994.
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