Nunca planifico tão deliberadamente as coisas, simplesmente me deixo levar pelo desenvolvimento e linhas de conduta. Pautas para escrever não sigo, chegam do fundo, impondo-se e definindo minha personalidade...Reescrevo dez vezes o texto; de vez em quando o leio, rechaço reelaboro, e vou fazendo de novo na máquina. Posso escrever um dia inteiro, ou toda a noite, até às oito ou nove horas da manhã sem me cansar... Eu simplesmente escrevo romances, não os explico, nem sua causa ou fim. Só isto. Tampouco o tomo como uma espécie de catarsis, ou como um exorcismo. Só escrevo: nada premeditado. Não me digo: agora vou escrever um romance deste modo ou desta forma, o romance vai adquirindo sua vida própria; um romance vai gestando a si mesmo; se gesta de dentro para fora; impõe seu tom, sua forma, as palavras mesmas se nutrem, com as que se cria a sí mesma. E creio que um romance se autoescreve, ao final se inventa ele só. Alguém empresta seu corpo, suas mãos, seu espírito, mas o romance ao final é do leitor, não de alguém... A escrita é um aprendizado, a gente vai se ensinando métodos, acertos, motivos. Eu tive que chegar a esta idade para declarar que me é possivel tramar um romance, me é mais fácil escrever. Digamos que só agora posso dizer que me agarro com uma série de palavras e costurar uma trança com elas. Já não perco o fio da meada, ainda que sempre o resultado final pertence a obra mesma, como disse.
Fonte: Vogue ???
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