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Crítica Literária
Benedito Nunes

“Esse é um desses problemas em que é difícil determinar quando acaba a causa e começa o efeito. É difícil dizer, a princípio, se o que mudou foi a crítica literária ou se foi o jornalismo. De todo modo, houve uma mudança, me parece, no próprio status da crítica literária. A crítica, ela própria, se pôs em questão. Não se pratica mais a crítica judicativa e periódica. Os padrões de comportamento mudaram muito. O crítico deixou de ser um juiz e se tornou um escoliasta – aquele que comenta ou interpreta -, papel que, a meu ver, lhe cai muito bem. Essa mudança deu mais segurança ao crítico, mas mudou também sua atitude. Há uma produção crítica de alto nível nas universidades, mas o contato com o público ficou sensivelmente diminuído. O crítico hoje é o professor de literatura e não mais o jornalista. A crítica literária se desvencilhou do jornalismo e isso provocou uma certa inquietação que até hoje não foi resolvida".

Fonte: O Estado de São Paulo, 27/01/1996 – José Castello 

A crítica não se encastelou, ela foi parar na universidade porque foi o único campo que restou para ela. Hoje os suplementos literários, com raras exceções, não têm mais espaço para a chamada crítica de folhetim e só publicam resenhas muito sucintas. Quando eu colaborei no ‘Suplemento Dominical do Jornal do Brasil’, o Mario Faustino tinha uma página para a seção ‘Poesia-experiência’, e havia outra página chamada ‘Livro de ensaio’, que era diagramada como se reproduzisse as páginas de um livro. O leitor interessado podia recortar e montar um livrinho. Hoje isso seria inconcebível. Talvez haja uma crise no próprio jornalismo, que optou por um tipo de informação cada vez mais rápida. E houve períodos em que eu publicava uma página inteira de filosofia, preocupada com a formação do leitor, com artigos em tom didático. Era uma espécie de ‘Filosofia-experiência’. Não haveria lugar hoje para uma página de filosofia num jornal brasileiro. Depois, em 1959 e 1960 ,colaborei no suplemento literário do ‘Estado de São Paulo’, dirigido pelo Décio de Almeida Prado, que publicava artigos de críticos como Antônio Cândido".

 

Fonte: O Globo, 30/05/1998 – Luciano Trigo e Paulo Roberto Pires  

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