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Etimologias interessantes
Adolescente

Susbstantivo no participio presente: um ser que está acontecendo. De corpo e de espírito, o adolescente é um estado. Estado de quê? O segredo do adolescente está guardado há, séculos, no DNA da palavra adolescente, para só revelar-se agora, no nosso tempo. O radical do verbo latino oleo, -ei, -ere, olui, que quer dizer exalar um perfume, um perfume, um cheiro, recender - bem ou mal. É a mesma raiz da palavra olor, significando aroma sutil, fragância. Com a preposição ad como prefixo tornou-se o verbo latino adoleo, que quer dizer queimar, fazer queimar, consumir pelo fogo em honra de um deus. Entende-se: as ervas queimandas no altar do sacrifício exalam cheiros, perfumam, recendem - estão aí para isso. Podemos adiantar uma fórmula: o adolescente será aquele que arde, que queima, que se consome no seu próprio fogo, sacrificado aos deuses de sua idade, de sua época. O terceiro elemento da fórmula, o esc, só acentua a idéia de processo temporal, de algo que vai acontecendo, como na palavra evanescer - o que se esvai aos pouco. Assim, Adolesco, extensão de adoleo, é o verbo latino de duplo sentido que significa transformar-se em vapor, em fumaça, e também passar de um estado a outro - crescer, desenvolver-se, tornar-se maior. O elemento ent só vem acentuar mais uma vez o acontecimento temporal: Adolescente é aquele mutante que esta sendo posto para se consumr ardentemente, enquanto cresce. O particípio passado do mesmo verbo é, (pasmem) adulto. Assim, diante do adolescente o adulto se arrisca sempre a ser o fósforo queimado, aquele que não fede nem cheira. Duas consequências. Na sociedade de consumo o adolescente, que se consome em consumir-se, tornou-se, por definição, o alvo principal, o modelo de cosumidor ideal e sua realização mais plena. A sociedade de consumo quer convencer todo mundo, adultos e crianças, ao estado adolescente, queimando-os no altar de seus deuses voláteis . Ser adulto tornou-se um ato heróico. Ser criança, quase impossível".

Fonte: WISNICK, José Miguel. Sem receita: ensaios e canções. São Paulo: Publifolha, 2004.

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