“A minha poesia é cognitiva e metapoética. Se a metafísica é uma forma de conhecimento do universo, das coisas, da linguagem, então sim, tenho essa inquietação. Os meus textos não se reduzem a um âmbito circunstancial. Mas quando escrevo um poema, o tema que se me impõe imediatamente é o da palavra, da linguagem. Desde sempre... A minha poesia tem esse caráter metapoético, que é também produto da minha leitura da Filosofia... Heidegger em O ser e o tempo fala em três conceitos da constituição da condição humana: unidade, nulidade e finitude. A unidade tem a ver com a união entre tudo. E a nulidade com o fato de sermos e não sermos. O poeta pode sentir-se na sociedade separado de si mesmo, que é o pouco ou o nulo .O homem vive dentro de um enigma. Que conhece ele de si mesmo, do universo, do mundo? Kant falava da coisa em si, a coisa incognoscível. Camus fala, a propósito de Galileu, da precariedade do conhecimento. Segundo o escritor, ele fez bem ao negar a sua <verdade> porque uma idéia não vale tanto quanto a vida. A finitude é universal, sabemos todos o nosso fim”.
Fonte: Diário de Notícias (Lisboa), 04/07/1998 – Ana Marques Gastão
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