“As pessoas falam com freqüência da filosofia de Tchekhov ou de Kafka, ou de Musil. Mas tente só achar uma filosofia coerente em suas obras! Mesmo quando expressam suas idéias em seus diários, essas idéias equivalem mais a exercícios intelectuais, jogos com paradoxos ou improvisações do que asserções de uma filosofia. E os filósofos que escrevem romances não são senão pseudo-romancistas que empregam a forma do romance para exemplificar suas idéias. Nem Voltaire nem Camus jamais descobriram ‘aquilo que apenas o romance por si pode descobrir’. Sei apenas de uma exceção, que é o Diderot de Jacques le fatalist. Que milagre! Tendo ultrapassado as fronteiras do romance, o sério filósofo se transforma num jocoso pensador. Não há uma só sentença séria no romance – tudo nele é brincadeira. É por isso que esse romance é tão acintosamente subestimado na França. Na verdade, Jacques, o fatalista contém tudo o que a França perdeu e se recusa a recuperar. Na França preferem-se as idéias às obras. Jacques, o fatalista não pode ser traduzido para a linguagem das idéias e por isso mesmo não pode ser compreendido na pátria natal das idéias”.
Fonte: Os escritores: as históricas entrevistas da Paris Review. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
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