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vol. 13  dos Mistérios da Criação Literária
Uma obra em obras

 

O QUE É INSPIRAÇÃO?

Apresentação

       Após esmiuçarmos os fins e os meios, chegamos aos princípios, ao âmago do processo de criação literária. Para chegarmos até aqui talvez tenha sido necessária essa trajetória inversa. Na base da obra – criada em 1995 – foram fincadas duas colunas para dar sustentação ao “prédio” que iniciava. As colunas são duas perguntas fundamentais: uma de caráter filosófico (Por que escrevo ?) e outra de caráter pragmático (Como escrevo?), que se mantêm ainda mais sólidas com a pesquisa bibliográfica entabulada.   

       Por que escrevo? revelou-se uma pergunta antiga e ainda hoje reiterada aos escritores em suas entrevistas. Em 1919, André Breton, então editor da revista Litterature, fez a pergunta à 75 de seus colegas escritores e publicou as respostas nos números 9, 10 e 11 de sua revista. Mais tarde, em 1985, os editores do jornal Libération decidiram fazer um “mapeamento da literatura mundial”. Fizeram a pergunta por escrito e enviaram à centenas de escritores em todo o mundo. Receberam    400 respostas e publicaram Pourquoi écrivez-vous? (Paris: SNPC/Libération, 1985), organizado por país. O Brasil entrou com 13 autores.

        Como fizeram a pergunta por escrito, a resposta veio da mesma forma, e pode ter pego um ou outro escritor sem disposição para responder uma pergunta vista por muitos como impertinente. Foi o caso de Drummond que deu uma resposta evasiva: “Escrevo porque sou  escritor. Escrevo porque gosto de escrever”. Está visto que escrever e falar são coisas bem diferentes. Numa entrevista,  cara-a-cara com o jornalista, ele respondeu com detalhes até psicanalíticos as razões que o levaram a escrever.

      Quando os franceses fizeram essa enquete eu já tinha uma coleção de mais de 100 respostas extraídas de entrevistas com escritores, e dei continuidade por achar que as respostas espontâneas retiradas das entrevistas podem ser diferentes daquelas dadas por escrito. A coleção destas respostas somam hoje mais de 300, as quais junto com as citadas somam mais de 700 respostas. Uma expressiva quantidade.

       Na segunda coluna, com a pergunta Como escrevo?, ocorreu de modo semelhante. Em meados da década 1990, quando já contava com quase 100 respostas, descubro que os franceses, de novo, já haviam feito a pergunta. O crítico Georges Charensol fez a pergunta à 50 escritores e publicou Comment ils écrivent (Paris: Editions Montaigne, 1932). Neste livro, obtive referência (e adquiri o estudo) a um ensaio que inaugurou a revista L’année Psychologique, em 1895, sobre a “imaginação criativa”: uma conversa com oito escritores com a finalidade de saber como se dá o método de trabalho, como se escreve. Assim, temos hoje mais de 200 respostas, algumas delas extenso depoimento dos escritores detalhando como se dá seu processo de criação literária.

       Nesta base foi iniciada a “edificação” da obra, especulando sobre as relações da literatura com outras áreas mais ou menos afins, seguindo o conselho de Cyro dos Anjos, para quem “o método a seguir no estudo do problema, não poderá ser puramente psicológico, mas há de basear-se em depoimentos e reflexões dos artistas sobre a sua própria atividade”, exposto no livro A criação literária (Coimbra: Tipografia da Atlântida, 1954).

       Iniciando com o Jornalismo e Cinema, que tiveram origem na Literatura, a obra chegou à outras áreas tais como a Politica, Música, Psicanálise, História, Filosofia etc. Na medida em que cada uma destas relações acumula cerca de 100 depoimentos, faz-se uma edição de mais um volume da obra, juntamente com uma pesquisa bibliográfica.

       Até aqui o trabalho prosseguia sem sobressaltos, quando na edição do 12º volume surgiu uma nova pergunta ainda mais curiosa que as duas primeiras que deram origem à obra: O que é inspiração? Se no início tínhamos uma pergunta de caráter filosófico, temos agora outra de caráter psicológico ou religioso, ainda não sabemos direito. De qualquer modo, está visto que a pergunta se alinha com as duas primeiras (as colunas), que constituíram os volumes 1 e 2. Temos agora o alicerce completo da obra: uma pergunta que vem sendo considerada antiga, fora de moda,  e por isso mesmo quase não é feita aos escritores. Mesmo assim, os escritores ensaiam algumas respostas, na maioria das vezes para si próprios.

       Quanto a pesquisa bibliográfica sobre o que vem a ser inspiração, trata-se de um trabalho árduo, devido a escassez de estudos sobre o assunto. Quase em todos os estudos, quando se fala em inspiração, a palavra entra como um conceito dado, como se todos já soubessem de antemão do que se trata. Desse modo, a pesquisa bibliográfica foi antecedida por um levantamento sobre a conceituação do termo.

         Quais os fins? A que se destina a obra? O 1º volume, lançado em 1999 com o patrocínio da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, foi destinado às bibliotecas públicas. Os cinco primeiros volumes, também patrocinados pela mesma Secretaria, teveram o mesmo destino. Assim a obra gostaria de continuar trilhando esse destino, além das escolas e orficinas literárias e o público em geral amante da Literatura.

 

Dividimos a pesquisa em três partes:

Parte A - CONCEITUAÇÃO

Parte B - ESTUDOS

C - DEPOIMENTOS DE 101 ESCRITORES

(clique na parte desejada)