"Muito jornalista usa essa coisa de conflito como desculpa. É possível sim juntar as duas coisas. O que não é possível é viver de literatura. Vendem-se muitos livros no Brasil e as editoras também lucram muito, mas é porque compram os direitos autorais dos bons escritores estrangeiros. Literatura tem que ser sinônimo de começo, meio e fim. E isso às vezes falta no romance brasileiro. Somos muito influenciados pelo experimentalismo francês e fazemos isso de forma muito preguiçosa. É por isso que muitos escritores dizem que, se tivessem que pesquisar para escrever, jamais escreveriam. Mas a pesquisa é essencial. Os best-sellers são baseados em pesquisas... O jornalismo ajuda a literatura na parte da pesquisa.v. Um exemplo que comprova isso é o do escritor português Miguel de Souza Tavares. Ele é jornalista e escreveu Equador, um livro histórico. Ele gastou muito mais tempo pesquisando para fazer o livro do que para escrever propriamente. Vendeu muito no Brasil, claro, porque tem pesquisa, tem história clara, com começo, meio e fim. Érico Veríssimo era um contador de histórias. Jorge Amado também. Por isso continuam a vender. Depois de Jorge Amado, aliás, faz tempo que não temos um grande poeta ou um grande romancista de renome nacional.
Fonte: ANDRADE, Marcela Heitor. Jornalistas podem ser escritores?: 21 entrevistas brasilienses. Monografia apresentada à Faculdade de Comunicação da UnB como requisito para a graduação em Comunicação Social. Brasilia: UnB, 2008.