"Princípios básicos do jornalismo, como a objetividade, a clareza e a concisão, são referenciais importantes também no texto literário. Mais do que isto: são excelentes antídotos contra a obscuridade, a prolixidade e a chatice. Temos o exemplo de excelentes contistas e romancistas que foram jornalistas e que desenvolveram um estilo primoroso em suas obras. Podemos citar, sem pensar muito, nomes como os de Hemingway, Jack London, Graham Greene, Norman Mailer. Vale lembrar que a definição de ‘atividade jornalística’ pode ser bastante abrangente se não nos prendermos apenas às atividades específicas da redação, tais como a reportagem, a revisão e a edição. Grande parte dos escritores brasileiros atuou em jornais e revistas como cronistas, articulistas, humoristas, além de repórteres. Neste caso, os exemplos são inúmeros, tais como Rubem Braga, Nelson Rodrigues, Otto Lara Resende, Carlinhos Oliveira, Millôr Fernandes, Hélio Pólvora, Ivan Angelo, Fernando Cony Campos, Ruy Espinheira Filho, Guido Guerra e tantos outros. Em minha geração há também exemplos de ficcionistas, como Luís Ruffato, Cíntia Moscovich e Elieser César, que trabalham em jornais... A concepção do conceito de ‘escritor’, bem como do de ‘literatura’, é relativa e varia de acordo com a época. Mas, sem querer penetrar em meandros conceituais que não nos levaria a lugar algum, eu diria que o escritor, na concepção corrente do termo, é aquele que desenvolve, de forma mais marcante, o sentido expressivo da linguagem. O jornalista, quando restrito aos aspectos referenciais do texto, da transmissão de uma informação, é distinto do escritor, que privilegia a estética. Na prática, entretanto, esses limites são, muitas vezes, imprecisos. Pode-se dizer que um jornalista criativo e imaginativo (pois a imaginação é, ao contrário do que muitos pensam, um elemento importante da atividade jornalística) pode ser melhor ‘escritor’ do que um ficcionista medíocre.
Fonte: COSTA, Cristiane H. <www.penadealuguel.com.br>, 13 de dezembro de 2006.
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