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Jornalismo
Fernando Molica

"Acho que a atividade jornalística foi fundamental para que eu pudesse ter escrito meu livro, apesar de ser um livro de ficção. Em primeiro lugar, o jornalismo me permitiu acesso a locais e a pessoas importantíssimos para que o livro viesse a existir – o livro fala de traficantes, de policiais, pessoas com quem não convivo socialmente. Esses contatos foram fundamentais para observar linguagem, gestos, lógicas de pensamento. Recorri ao jornalismo também quando procurava garantir verossimilhança ao texto. Volta e meia, diante de um impasse no desenvolvimento da trama, eu me perguntava qual seria uma saída razoável, algo que não causasse estranhamento caso viesse a ser relatado em uma futura reportagem. No jornalismo trabalhamos todos os dias com histórias que têm lógicas, por mais absurdas que sejam. Histórias com começo, meio e fim. Isso ajuda na hora de criar uma história. Acho também que a prática do jornalismo permite uma certa agilidade ao texto e, principalmente, exige uma preocupação com o leitor – a todo o momento eu me perguntava se estava sendo claro o suficiente. Afinal, de um jeito ou de outro, no jornalismo ou na literatura, estamos contando histórias... Jornalistas escrevem, escritor escreve – quem escreve é escritor? Não sei. No Brasil, a prática consagrou que escritor é quem escreve livro, mesmo que o livro seja uma grande reportagem. Sempre aceitei esta divisão,

talvez porque eu tenha entrado no jornalismo em um momento em que a profissionalização da categoria tenha se radicalizado. Não havia mais espaço para uma etapa mais romântica, em que jornalismo e lteratura podiam, muitas vezes, se confundir. Nunca tive pretensão de fazer literatura no jornalismo. Acho que jornalismo, como a maioria das profissões, mistura vocação e ofício. Continuo tendo muito prazer em ser jornalista, ainda que a prática seja, muitas vezes, cansativa e desgastante. Na literatura talvez o quesito vocação seja mais importante – achar que tem vocação é fundamental para o sujeito topar ficar um ano debruçado em um computador, sofrendo para conseguir dar sentido e desenvolvimento a uma idéia. Isto, claro, com a quase certeza de que vai ganhar muito pouco por esta trabalheira. Agora, literatura para ser feita com um mínimo de qualidade exige muito trabalho, muita ‘ralação’".

Fonte: COSTA, Cristiane H. <www.penadealuguel.com.br>, 13 de dezembro de 2006.

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