"Por jornalismo literário não se deve entender o jornalismo que se ocupe de assuntos literários; e sim o que se caracteriza pela potência literária do jornalista-escritor. Um característico relativamente fácil de ser captado: contanto, que se dá tempo ao tempo. O escritor-jornalista ou o jornalista-escritor é o que sobrevive ao jornal: ao momento jornalístico. Ao tempo jornalístico. Pode resistir à prova tremenda de passar do jornal ao livro....Em Nelson Rodrigues, como em Eça de Queirós, o escritor vence o tempo como escritor, embora servindo-se do jornal; da correspondência para jornal; do comentário ao acontecimento do dia. Nelson Rodrigues é, dos dois, o mais vigoroso nessa espécie de expressão literária: a transferível de jornal para livro. Ele é lido em livro, tão forte de virtude literária, quanto lido em jornal. Repete Eça. Repete Eça neste particular, com maior vigor do que Eça".
Fonte:
FREYRE, Gilberto. Nelson Rodrigues, escritor. In: RODRIGUES, Nelson. O reacionário: memórias e confissões. Rio de Janeiro: Record, 1977. p. 9-10.
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