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Jornalismo
Gisela Campos

"Acho que o dia-a-dia de uma redação de jornal pode, sim, acabar viciando o texto, deixando-o talvez mais careta, mais corriqueiro, mais objetivo. Nem sempre o texto literário precisa ser objetivo. Nem sempre o texto literário precisa contar coisas na ordem correta dos acontecimentos, sem omitir fatos, datas e locais. Esta obrigatoriedade do jornalismo poderia, sim, se o autor não se cuidar, acabar influenciando seu texto literário... Acho que tudo na vida é vocação: medicina é vocação, babá é vocação, Chico Buarque de Hollanda é vocação... (risos) São duas vocações diferentes: o jornalismo é uma vocação, sim, mas não para a escrita, não para o texto propriamente dito. O jornalista tem a vocação de buscar a verdade, por mais piegas que isso pareça, a vocação da denúncia, o talento para a curiosidade, a descoberta, a revelação. Nem sempre esta verdade precisa ser revelada através de um texto. Há grandes jornalistas na televisão e grandes fotógrafos que exercem seu talento através de imagens ou coberturas na TV, ou mesmo no rádio. A vocação do jornalista seria, no caso, mostrar a verdade. Já a do escritor é outra viagem. Não dá para comparar as vocações: o escritor tem a vocação para construir um universo próprio, às vezes uma linguagem, uma família de personagens, uma outra sintaxe; o compromisso do escritor não é com a verdade nem com o entendimento objetivo das coisas. São vocações diferentes, apenas".

Fonte: COSTA, Cristiane H. <www.penadealuguel.com.br>, 13 de dezembro de 2006.

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