"Sem dúvida, a atividade jornalística ajuda o escritor. Embora o texto jornalístico seja de todas as maneiras diverso do texto literário, a prática da palavra justa, a busca da concisão e da objetividade, obtidas com a experiência jornalística, se refletirão, de forma benéfica, na hora de escrever. Até para fazer um texto derramado, over, carregado nos adjetivos (‘a tara estilística’, como dizia Nelson Rodrigues), pejado de sentimento, até nesses momentos é preciso ter conhecimento e domínio do texto enxuto, que lhe dará o contraponto. A diferença básica entre um texto e outro é, na minha opinião, que a literatura, ao contrário do texto jornalístico, deve ser feita em total solidão, isto é, sem ser dirigida a ninguém. O escritor não pode pensar em quem vai ler, tem de estar absolutamente só com seus fantasmas. Caso contrário, terá vendido a alma ao demônio... O jornalista pode ter momentos de escritor ao fazer um texto criativo, mas isso não fará dele um escritor, esse momento será apenas uma chispa, uma centelha. Não sei de quem é a expressão, mas eu a ouvi de Elsie Lessa, uma grande cronista que, por não fazer ficção, se julgava apenas jornalista. Ouvi-a dizer um dia: ‘Eu não tenho a chama sagrada’. Quanto a escritor ser profissão, acho que pode ser, sim, já que vivemos numa sociedade de consumo, em que o livro é sem dúvida alguma um produto. Mas, mesmo dentro dessa realidade, o escritor precisa manter-se íntegro, livre, fiel a si mesmo, caso contrário, como eu já disse, vende a alma.
Fonte: COSTA, Cristiane H. <www.penadealuguel.com.br>, 3 de agosto de 2006.
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