"Acredito que tudo depende do temperamento da pessoa. Para alguns aspirantes a escritor a atividade jornalística pode ser positiva, ao colocá-lo em contato com pessoas e situações a que comumente não teria acesso, enriquecendo sua experiência. A obrigatoriedade de produzir textos diários também pode contribuir para a disciplina e a objetividade. Mas a convivência obrigatória com mentirosos, interesseiros e corruptos, muito comum a jornalistas, pode desenvolver na pessoa um ceticismo e até mesmo um cinismo que tanto pode acirrar o desejo de verdade, mesmo que de forma cruel, como pode secar a capacidade de empatia com o que o humano tem de frágil. E o uso contínuo da palavra em assuntos às vezes desinteressantes também pode levar a um certo enfado em relação à linguagem. Tanto a falta de empatia com o humano quanto o enfado para com a linguagem podem ser fatais para o aspirante a escritor... O jornalista pode se tornar um escritor no momento em que escreve a ‘grande reportagem’, aquela que não cabe num jornal ou numa revista, mas que precisa do espaço de um livro para que o assunto seja aprofundado e esgotado. Neste tipo de reportagem é possível que o jornalista coloque o seu eu, seus sentimentos e opiniões, o que dá uma dimensão mais rica e humana ao texto... O jornalismo pode ser um ofício que se aprende, mas este tipo de jornalista nunca chegará a ser um grande jornalista, aquele que dá o sangue. Este é privilégio do vocacionado. Quanto à literatura de verdade, esta só é feita por quem tem vocação".
Fonte: COSTA, Cristiane H. <www.penadealuguel.com.br>, 13 dezembro de 2006.
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